PT da Bahia desviou milhões de programa habitacional
Dona de ONG revela como funcionava
esquema que irrigou o caixa eleitoral do partido e beneficiou um
senador, dois deputados federais, o atual candidato a governador e um
ex-ministro do governo Dilma
Dalva Sele Paiva - Presidente da ONG que denunciou esquema de desvio de dinheiro envolvendo o PT-BA trabalha na prefeitura de Salvador |
Desde 2010, o Ministério Público investiga o Instituto Brasil, uma ONG
criada pelos petistas da Bahia. Em 2008, a entidade foi escolhida pelo
governo do estado para construir 1 120 casas populares destinadas a
famílias de baixa renda. Os recursos, 17,9 milhões de reais, saíram do
Fundo de Combate à Pobreza. Os investigadores já tinham reunido provas
de que parte do dinheiro desaparecera, mas não havia nada além de
suspeitas sobre o destino final dele. O mistério pode estar perto do
fim. Em entrevista a presidente do instituto, Dalva Sele Paiva, revela
que a entidade foi criada para ajudar a financiar o caixa eleitoral do
PT na Bahia, um esquema que funcionou por quase uma década com dinheiro
desviado de “projetos sociais” das administrações petistas. A engrenagem
chegou a movimentar, segundo ela, 50 milhões de reais desde 2004. O
golpe era sempre o mesmo: o Instituto Brasil recebia os recursos,
simulava a prestação do serviço e carreava o dinheiro para os candidatos
do partido. Como os convênios eram assinados com as administrações
petistas, cabia aos próprios petistas a tarefa de fiscalizar. Assim, se o
acordo pagava pela construção de 1 000 casas, por exemplo, o instituto
erguia apenas 100. O dinheiro que sobrava era rateado entre os políticos
do partido.
O candidato do PT ao governo da Bahia, Rui Costa, um dos políticos envolvidos no esquema alimentado pela ONG Instituto Brasil: mesada entre três e cinco mil reais |
Ministério Público vai investigar desvios em ONG petista
Ex-presidente de instituto
apontou beneficiários de fraude milionária: um senador, dois deputados e
candidato a governador estão na lista
O Ministério Público da Bahia vai abrir uma nova investigação sobre o
desvio de verbas de uma ONG abastecida com dinheiro público no Estado. A
ex-presidente do Instituto Brasil admitiu que a entidade era usada para
abastecer os caixas e os bolsos de petistas baianos.
Na lista revelada por Dalva Sele Paiva estão o senador Walter Pinheiro, o
candidato do PT ao governo da Bahia, Rui Costa, os deputados federais
Afonso Florence e Nelson Pelegrino e o presidente da Embratur, Vicente
José de Lima Neto. O esquema movimentou cerca de 50 milhões de reais. A
entidade recebia recursos por meio de um convênio com o governo de
Jaques Wagner (PT), mas parte do dinheiro era desviada.
A promotora Rita Tourinho já havia iniciado uma investigação em 2010,
mas os trabalhos não avançaram por falta de elementos que comprovassem o
destino do dinheiro. A suspeita inicial surgiu por causa do método
usado para repassar o dinheiro. "Nós questionamos por que não se fez um
contrato, e eles disseram que foi um programa apresentado pela ONG",
explica a investigadora.
Com a confissão de Dalva Sele Paiva, um novo procedimento de
investigação será aberto já na segunda-feira. A investigação inicial era
por improbidade administrativa, mas agora o caso deve incluir acusações
criminais. "Está claro que há um crime", diz a promotora. A depender do
resultado das eleições, o caso pode ser enviado à Procuradoria-Geral da
República devido ao foro privilegiado dos parlamentares.
O presidente do DEM na Bahia, José Carlos Aleluia, afirmou que já havia
suspeitas dos desvios há anos, mas se disse surpreso com a dimensão do
esquema delatado pela dona do instituto. "Os deputados de oposição
sabiam e alertaram o Ministério Público, mas faltavam os nomes”.
Para Aleluia, a engrenagem funcionou com o aval da cúpula do governo.
"Não se faria algo de tanta dimensão se não houvesse o consentimento de
quem está no comando".
O senador Walter Pinheiro |
Senador petista culpa o partido em novo caso de corrupção
'É mais uma vez o PT pregando
peça para cima de mim', afirma Walter Pinheiro, acusado de caixa dois
eleitoral em sua campanha à prefeitura de Salvador
O senador Walter Pinheiro sempre se orgulhou de estar do lado certo nas
disputas políticas. Quando o PT mergulhou no mar de lama do mensalão,
ele foi uma das poucas vozes petistas a falar contra a prática, batendo
de frente inclusive com a cúpula mensaleira e seu próprio partido.
Porém, o senador aparece no lado oposto do enredo. Dalva Sele, a
presidente do Instituto Brasil, uma ONG criada por petistas para desviar
recursos públicos, disse que parte da campanha dele foi financiada com
dinheiro roubado dos pobres – recursos do Fundo de Combate à Pobreza que
deveriam ter sido usados para construir casas para a população carente
da Bahia.
Segundo Dalva, a campanha de Walter Pinheiro à prefeitura de Salvador,
em 2008, foi bancada com o dinheiro sujo. Os móveis do comitê, as
refeições dos cabos eleitorais, os carros de som, faixas, panfletos e o
aluguel de uma Parati que transportava o candidato – tudo foi pago pelo
Instituto. Atual vice-líder do PT no Senado, Pinheiro nega as
acusações, diz que foi enganado e culpa seu partido, o PT, pelo
escândalo. A presidente do Instituto disse que a mulher de Pinheiro era
quem buscava o dinheiro durante a campanha.
Em entrevista, ao reconhecer a montagem do esquema, ele condenou o
próprio partido por tê-lo atirado num clássico esquema de caixa dois
eleitoral. “Essa mulher (Dalva) pertencia às correntes do PT, as mesmas
correntes que nacionalmente viviam se estapeando comigo por causa do
negócio do mensalão. Ela não veio para a minha campanha pelas minhas
mãos, ela veio a partir das relações delas dentro do PT.”
A seguir, o senador apresenta a sua versão para as acusações da presidente do Instituto Brasil.
INSTITUTO BRASIL – “Quando eu cheguei para a campanha de 2008 essa
mulher já prestava serviço ao Estado. Nunca aceitei sentar para negociar
com ninguém nada a respeito do que essa mulher fez ou deixou de fazer.
Pelo que eu entendi, essa mulher utilizava esse negócio de campanha para
traficar as coisas dela”.
RELAÇÃO COM DALVA – “Você me perguntou se eu a conhecia essa mulher. Eu
disse: óbvio! Ela chegou na minha campanha trazida pelo PT. Essa mulher
não veio para a campanha pelas minhas mãos ou pelas mãos da minha
mulher, por ninguém. Ela veio a partir das relações dela dentro do PT.
CARRO ALUGADO – “Eu peguei o pessoal todo da campanha e perguntei sobre
essa história da Parati (carro que Dalva Sele afirma ter alugado com
dinheiro de caixa dois do Instituto). Esse carro foi trazido, como
qualquer outro, por um militante do PT que chega lá e diz: tá aqui um
carro para rodar. Qual é o benefício que eu iria extrair daí?”
DINHEIRO PARA A CAMPANHA – “Esse dinheiro não veio para a minha
campanha. Um dos caras que trabalhou comigo me diz agora que foi
funcionário do Instituto Brasil. Essa pessoa veio na época da campanha,
era funcionário do governo do Estado e tinha relação pessoal com ela.
Eu nem sabia”.
MULHER – “A minha mulher não tem nenhuma militância de PT. É óbvio que
ela se envolve nas campanhas. É natural que se jogue na campanha, mas
ela nem sabe onde essa Dalva mora. Essa acusação me dói na alma”.
DEDO DOS MENSALEIROS – “Essa mulher pertencia às correntes do PT, as
mesmas correntes que nacionalmente viviam se estapeando comigo por causa
do mensalão. Todo mundo sabe o quanto eu apanhei dentro do PT por causa
disso. Quase fui expulso naquela época do mensalão. É mais uma vez o PT
pregando peça para cima de mim. Você confiar numa história de um
partido...”
INDIGNAÇÃO – “Isso me dói muito. Você ser enganado, ludibriado por um
esquema desses, por alguém que vem como militante, se aproveitando. Ela
(Dalva) está querendo, no fundo, é extorquir o governo do estado. Aí vai
jogando lama na vida de todo mundo”.
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