Olívio Dutra, o fundador do PT no Rio Grande do Sul, não reconhece filhos uruguaios
Olívio Dutra - o pai |
Nos últimos anos, com a sua mania particular de construir uma biografia
como sendo o grande Catão dos bons costumes na política e na vida
petista, com sua obsessão orgulhosa em ostentar pobreza e costumes
espartanos, Olívio Dutra amealhou uma rede de inimizades no mundo
petista, tanto no plano nacional quanto no regional. Desagradou toda a
alta direção nacional do PT e suas correntes majoritárias, dizendo em
repetidas entrevistas que os bandidos petistas deveriam ir para a
cadeia, chegando mesmo a se referir diretamente ao ex-presidente do
partido, José Dirceu. Chegou inclusive a despertar uma manifestação
expressa do deputado federal André Vargas, um dos desancados por ele, o
qual retrucou dizendo que os companheiros tinham sido chamados a
defendê-lo quando ele foi acusado de associação com a bandidagem da
jogatina durante o seu governo no Rio Grande do Sul. O petista André
Vargas fez questão de deixar clara a ingratidão de Olívio Dutra. Também
no Estado ele atingiu companheiros do partido, como o deputado estadual
Adão Villaverde, muito ligado ao governador Tarso Genro. Villaverde foi o
coordenador de campanha de Tarso Genro à prefeitura de Porto Alegre.
Durante esse período, tinha como local de comando da campanha um
escritório pertencente ao argentino Cesar de la Cruz Mendoza Arrieta,
acusado na época de ser o maior fraudador do Previdência Social no
Brasil, localizado na rua Fernando Gomes, bairro Moinhos de Vento. Estes
"companheiros" sempre se consideraram atingidos pelas manias de pobreza
orgulhosa de Olívio Dutra e de seus hábitos de Catão querendo ditar
comportamento ético para todos. Agora o fogo amigo está aberto.
O jornalista Vitor Vieira recebeu documentos, testemunhos e fotos sobre o
não reconhecimento de paternidade do petista gaúcho Olívio Dutra,
fundador do partido no Rio Grande do Sul, de dois filhos uruguaios,
nascidos em Porto Alegre no início da década de 80, cuja mãe é uma
ex-militante tupamara.
Ana Inês Abelenda Buzo nasceu no dia 5 de abril de 1983, filha da tupamara Inês Graciela Abelenda Buzo, que a registrou somente no dia 25 de abril, no cartório de registros civis da 4ª Zona de Porto Alegre, localizado na Avenida Oswaldo Aranha, no bairro Bonfim. A criança era filha dela com Olívio Dutra.
Ana Inês Abelenda Buzo nasceu no dia 5 de abril de 1983, filha da tupamara Inês Graciela Abelenda Buzo, que a registrou somente no dia 25 de abril, no cartório de registros civis da 4ª Zona de Porto Alegre, localizado na Avenida Oswaldo Aranha, no bairro Bonfim. A criança era filha dela com Olívio Dutra.
Inês Graciela - a mãe |
A uruguaia Inês Graciela Abelenda Buzo chegou com nome falso a Porto
Alegre em 1982. Era militante do Partido de La Voluntad Del Pueblo
(tupamaros) e veio substituir a Lilian Celiberti, que foi sequestrada
pelo DOPS gaúcho em 1979. Sua tarefa era a de dar instrução
revolucionária a sindicalistas. Ines Graciela também dava aulas
particulares de inglês e, desta forma, conheceu e aproximou-se de Olívio
Dutra, então presidente do Sindicato dos Bancários/RS. Os dois
iniciaram um relacionamento ardoroso. Os dois se conheceram e tiveram um
intenso romance quando Inês Graciela, como militante dos Tupamaros,
dava curso de formação política para sindicalistas brasileiros. Quando
Ana Inês Abelenda Buzo foi concebida, no início de julho de 1982, Olívio
Dutra já estava em campanha eleitoral para o governo do Estado do Rio
Grande do Sul pelo PT. No dia da eleição Inês Graciela já tinha de cinco para seis
meses de gravidez. Para registrar a filha, Inês apresentou-se à
Policia Federal com sua identidade uruguaia verdadeira e solicitou que
fosse regularizada sua situação do Brasil , já que tinha uma filha
brasileira. Com a regularização, levou a filha a um cartório e a
registrou. Após essa gestação, Inês Graciela engravidou novamente de
Olívio Dutra, provavelmente em dezembro de 1983. O segundo filho, um
menino, nasceu no dia 9 de outubro de 1984. Rodrigo Alberto Abelenda
Buzo foi registrado novamente de maneira solitária por sua mãe Inês
Graciela no dia 18 de outubro de 1984. Ele leva o nome (Alberto) de seu
avô materno. Ambos, ele e a irmã, têm suas certidões de nascimento com o
espaço vazio na área reservada ao nome do pai.
Rodrigo Alberto e Ana Inês os filhos uruguaios de Olívio |
Já o político petista gaúcho Olívio Dutra sempre manteve silêncio sobre
esta história, a existência dos filhos sem reconhecimento de
paternidade, embora o assunto não seja nenhum segredo para alguns
petistas.
Ainda no ano de 1984 começou o período de redemocratização do Uruguai,
saindo da ditadura militar. O poder retornou aos civis em 1985. Inês
Graciela Abelenda Buzo resolveu retornar ao Uruguai. Para fazer isso,
ela foi junto com amigos ao consulado uruguaio em Porto Alegre, onde
solicitou carteiras de identidade para seus dois filhos, para
reconhecimento dos dois como uruguaios. Obtidos esses documentos, o pai
de Inês Graciela, Alberto Abelenda, veio a Porto Alegre em seu carro, um
Chevette, e buscou sua filha e os dois netos. Ainda em 1986, Olívio
Dutra voltou a concorrer a um mandato e se elegeu deputado federal
constituinte. Em 1988, concorreu e se elegeu prefeito de Porto Alegre.
No tempo em que esteve na prefeitura, recebia periodicamente a visita de
mensageiros tupamaros do Partido de la Voluntad del Pueblo que vinham a
Porto Alegre e o procuravam em seu gabinete, para trazer notícias das
crianças e fotos das mesmas.
Ana Inês Abelenda Buzo |
Hoje, Ana Inês Abelenda Buzo é Coordenadora do Programa de Economia,
Justiça e Financiamento para os Direitos das Mulheres da AWID
(Associação para o Direito das Mulheres em Desenvolvimento). Ana tem
seis anos de experiência no trabalho com movimentos da sociedade civil
no Instituto do Terceiro Mundo (ITeM) sediado no Uruguai. Inicialmente,
exerceu a função de editora do portal Choike.org, cobrindo temas
relacionados ao financiamento, desenvolvimento e direitos humanos das
mulheres. Mais recentemente, passou a atuar no Secretariado do
Observatório Social Internacional, como membro da equipe de Advocacia e
Networking. Seu ativismo a fez colaborar com vários movimentos
feministas da América Latina, tanto no treinamento de ativistas como na
elaboração de artigos sobre os direitos das mulheres. Teve, inclusive,
trabalho publicado na Conferência Pequim+15, realizada em Nova Iorque.
Atualmente, está concluindo seu mestrado em Relações Internacionais na
Universidade da República do Uruguai.
É uma grande ironia que seja uma defensora e ativista na área de
desenvolvidos da defesa dos direitos da mulher, porque até hoje não tem
um dos seus direitos primários, o reconhecimento de sua paternidade, de
sua origem, de sua história pessoal.
Rodrigo Alberto Abelenda Buzo |
O irmão de Ines, Rodrigo Alberto Abelenda Buzo, estuda na Universidade
Nacional do Uruguai, em Montevidéu, onde ela também se formou.
A mãe, Inês Graciela, trabalha em uma escola particular no bucólico e
sofisticado bairro de Carrasco, em Montevidéu. A escola é vinculada à
“Christian Brothers”. É de uma ordem católica irlandesa criada dor
Edmund Rice, aprovada pelo Papa nos anos 1800. Chama-se Congregação dos
Irmãos Cristãos, os “Christian Brothers”, e tem escolas nos cinco
continentes. A foto dela nesta reportagem é recente, de 2013, quando ela
fez uma viagem à India.
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