Olívio Dutra e a paternidade de
dois filhos uruguaios não reconhecidos: Uma questão privada
ou de Interesse público ?
Ines Graciela e Olívio Dutra |
Em plena primavera, o jornalista Vitor Vieira revelou que o petista
Olívio Dutra, candidato do partido ao Senado Federal pelo Rio Grande
do Sul, teve dois filhos com uma tupamara uruguaia que vivia em
Porto Alegre no início da década de 80, e não registrou essas
crianças até hoje.
Em qualquer país civilizado do mundo essa notícia teria grande
repercussão. Mas, no Rio Grande do Sul, foi recebida com um
retumbante silêncio, especialmente dos veículos de comunicação da
chamada grande imprensa, que se nega a tratar do assunto.
Um político, recentemente, parou na rua o jornalista Vitor Vieira,
para dizer, de maneira brusca e sem qualquer sofisticação: "Por que
estás mexendo nesse assunto? É uma questão da vida privada. Além
disso, seria pior se ele fosse p...".
O questionamento do político já deixa evidente o que vai na cabeça
ao menos de uma significativa parcela da população gaúcha. Mas, o
assunto não é tão simples assim. A paternidade não assumida de
Olívio Dutra dos jovens uruguaios Ana Ines Abelenda Buzo e Rodrigo
Alberto Abelenda Buzo não se circunscreve a assunto exclusivo da
esfera privada dos envolvidos. Esse assunto envolve uma figura
conhecida da política do Rio Grande do Sul e do País. Envolve
político que concorreu ao governo do Estado, à prefeitura, que foi
deputado constituinte, governador do Estado e ministro de Estado, e
sempre escondeu do público esta parte de sua vida, mantida secreta.
Já como figura pública, o que acontece com sua vida é de interesse
público. Mas, especialmente o assunto é de interesse público uma vez
que o petista Olívio Dutra, em atos de campanha, como no debate
ocorrido na rádio e televisão Bandeirantes, referiu expressamente o
seu envolvimento na defesa das políticas de proteção da mulher e da
criança. Ora, assim sendo, o que faz o petista Olívio Dutra nesse
campo é de altíssimo interesse público. Quer dizer que é permitido a
um suposto defensor de políticas de proteção da mulher e das
crianças negar a uma mulher, com a qual teve tórrido envolvimento, o
direito de registro de um filho? Quer dizer que o suposto defensor
de políticas de proteção da mulher e das crianças tem um alvará para
negar a paternidade a uma menina e um menino por que é petista? Que
tipo de coerência é essa? O eleitor tem todo o direito de examinar o
caráter de um político que pretende representá-lo, como o petista
Olívio Dutra, no Senado Federal. E mais, o eleitor tem o direito de
saber o que tem a dizer sobre o assunto a figura do político Olívio
Dutra. Por esse motivo, o jornalista Vitor Vieira, encaminhou
perguntas sobre o caso ao petista Olívio Dutra por meio da sua
página de campanha no Facebook. As perguntas feitas não foram
respondidas até hoje.
As perguntas enviadas no dia 18 de setembro e não respondidas até
agora, foram as seguintes:
"Sr. Olívio Dutra: como jornalista e editor do site/blog Videversus, solicito sua atenção para os questionamentos a seguir:
1) no início da década de 80, o Sr. conheceu em Porto Alegre a militante tupamara uruguaia Ines Graciela Abelenda Buzo?
2) o Sr. entreteve uma relação amorosa com a tupamara uruguaia Ines Graciela Abelenda Buzo?
3) como resultado dessa relação amorosa nasceu no dia 5 de abril de 1983 a menina Ana Ines Abelenda Buzo, registrada no dia 25 de abril, no cartório da 4ª zona, localizada na Av. Oswaldo Aranha, sem registro de paternidade;
4) no dia 9 de outubro de 1984, nasceu Rodrigo Alberto Abelenda Buzo, também fruto dessa relação, registrado apenas pela sua mãe no dia 18 de outubro de 1984, no mesmo 4º Cartório de Registro Civil da 4ª Zona, em Porto Alegre, localizado na Avenida Oswaldo Aranha;
5) por que o Sr. não registrou a paternidade destas duas crianças?
No aguardo de suas informações.
Att. jornalista Vitor Vieira".
Rodrigo Alberto e Ana Inês os filhos uruguaios de Olívio |
Nesse mesmo dia 18 de setembro, o jornalista Vitor Vieira enviou
questionamento também para a jovem Ana Abelenda, com o seguinte
teor:
"Prezada Ana, sou jornalista no Rio Grande do Sul e recebi informações e documentos que dizem respeito à sua vida. Você nasceu em Porto Alegre em 1983? Você foi registrada no cartório da Av. Oswaldo Aranha, na capital gaúcha, 25 dias após o seu nascimento, sem nome de pai. Você tem idéia de quem seja o seu pai? Vejo que você trabalha em uma organização internacional de direitos da mulher. Não é um desses direitos o de ter reconhecida a sua paternidade? Abs".
Também neste caso não houve resposta.
Igualmente no mesmo dia 18 de setembro foi enviado um questionamento
ao jovem Rodrigo Alberto Abelenda Buzo, com o seguinte teor:
"Prezado Rodrigo, sou jornalista no Rio Grande do Sul. Preciso de informações sobre você. Seu nascimento ocorreu em Porto Alegre, em 1984? Você é filho de Ines Abelenda? Sua certidão de nascimento consta sem pai? Você sabe quem é seu pai? Abs".
Também no houve resposta.
E, por último, foi enviado no mesmo dia uma mensagem à mãe dos
jovens, Ines Graciela Abelenda Buzo, com o seguinte teor:
"Boa noite, Sra. Ines Abelenda. Sou jornalista no Rio Grande do Sul e recebi informações que envolvem a Sra. e seus filhos. Por isso pergunto:
1) a Sra. morou a partir de 1982 em Porto Alegre?
2) seus filhos nasceram em Porto Alegre, em 1983 e 1984, primeiro a menina e depois o menino?
3) seus filhos permanecem até hoje como filhos de pai desconhecido?"
Ines Graciela Abelenda Buzo |
Ninguém deu retorno aos questionamentos. Curiosamente, a filha não
reconhecida por Olívio Dutra, a uruguaia Ana Ines Abelenda Buzo,
trabalha em uma ong internacional, chamada AWID, dedicada a
políticas de desenvolvimento dos direitos da mulher. E esteve
recentemente, em Acra (Gana), na África, desenvolvendo trabalho
nesse sentido. Mas, ela própria não desenvolveu o seu direito de
reconhecimento de paternidade até hoje, segue sendo alguém sem pai,
sem nome de pai, alguém com história pessoal incompleta, alguém com
um pedaço de passado desconhecido.
Os políticos de esquerda costumam se jogar com grande afã nos
projetos de recuperação do passado, de descoberta de filhos roubados
por ditaduras, em comissões da verdade e situações similares. Mas,
não buscam esclarecer sobre os próprios colegas que tem filhos que
não reconhecem. Esse é o caráter. Não deixa de ser uma tremenda
ironia, no mínimo.
E jornalistas na grande imprensa que se recusam a tratar do assunto
nada mais revelam do que seu atrelamento petista. Como se vê, o
assunto não é de só de interesse privado. O assunto é, e muito, de
interesse público. Alto interesse público. Afinal, é totalmente
duvidoso que alguém esteja disposto a votar em outro alguém
desprovido de caráter.
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