O grau de autonomia do Banco Central
Carlos Alberto Sardenberg |
O tema da autonomia do Banco Central não é exclusivo do Brasil. No mundo
inteiro a gente discute qual é o papel e a função dos Bancos Centrais.
No caso do Banco Central brasileiro, ele só é autônomo quando o
presidente da República deixa.
Não tem uma autonomia, uma independência por garantia de lei, só
funciona quando o presidente diz para o Banco Central que ele pode ser
autônomo e, curiosamente, um momento de grande autonomia do Banco
Central foi na gestão do presidente Lula.
Lula nomeou presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que havia
sido presidente mundial do Bank of Boston, e que pediu autonomia. Lula
concedeu e disse que ele teria plena autonomia, e cumpriu.
Meirelles ficou oito anos, nomeou toda a diretoria, ele próprio foi
nomeado ministro para ficar diretamente ligado ao presidente. Subiu
juros, baixou juros, abriu crédito, fechou crédito e cumpriu a função
que foi garantir a estabilidade da moeda e as bases do crescimento.
Funcionou.
O Banco Central não pode fazer o que quiser. Quando ele é independente,
sobretudo, ele tem um mandato. Quer dizer: a lei diz que o Banco
Central é independente para fazer determinada coisa.
O compromisso sempre é estabilidade da moeda, mas alguns Bancos
Centrais, como, por exemplo nos EUA, é manter a estabilidade da moeda e
garantir o pleno emprego. É um duplo mandato definido em lei e o Banco
Central tem autonomia. Quem fiscaliza? O Congresso. Sempre é o
Congresso.
Os diretores do Banco Central prestam contas ao Congresso Nacional ou,
no caso da Europa, ao Parlamento Europeu. Os diretores, em geral, são
indicados pelo Executivo e aprovados pelo Congresso. Mas a grande
diferença, no caso dos Bancos Centrais independentes, o diretor tem
mandato fixo como, por exemplo, quatro anos. E não coincide com o
mandato do presidente da República.
Então, o presidente americano assume e só vai nomear um diretor do Banco
Central dois anos depois. É assim também no Chile. Isso para garantir a
continuidade. Então, no caso do Brasil, por exemplo, a presidente Dilma
pode demitir o diretor do Banco Central a hora que ela bem entender.
Por isso, que não é autônomo. Aliás, a presidente agora ela se diz
contra a autonomia.
No Banco Central da Inglaterra, o presidente é um canadense, que foi
escolhido em uma seleção internacional. O Banco Central de Israel teve
como presidente um economista americano que agora é vice-presidente do
Banco Central dos Estados Unidos. E o Banco Central do Chile também é
independente. Na quinta-feira (11), baixou a taxa de juros para 3,25%
porque a inflação está muito baixa no Chile e precisa estimular o
crescimento.
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