sexta-feira, 26 de setembro de 2014


Índia põe satélite na órbita de Marte

O primeiro-ministro Narendra Modi disse que o país
conquistou "praticamente o impossível"

O programa espacial da Índia conseguiu, na primeira tentativa, o que outros países tentam há anos: enviar uma missão operacional para Marte.
O satélite Mangalyaan foi confirmado na órbita do planeta vermelho. Um feito considerável.
Essa foi a primeira vez que uma agência espacial consegue colocar um satélite na órbita de Marte em uma viagem inaugural. Também é a missão mais barata do gênero.
A missão foi orçada em 4,5 bilhões de rúpias (cerca de US$ 74 milhões, ou R$ 178 milhões), o que, para os padrões ocidentais, é incrivelmente barato.
A última sonda americana da Nasa - Maven - que chegou ao planeta, custou quase dez vezes mais.

Gerenciando custos
Com certeza, os custos com pessoal são menores na populosa nação de 1,4 bilhão de pessoas, e os cientistas e engenheiros que trabalham em qualquer missão espacial são sempre a maior fatia do preço da passagem espacial.
Componentes e tecnologias domésticas também foram priorizadas em detrimento das caras importações estrangeiras.
Mas, além disso, a Índia teve o cuidado de fazer as coisas de forma simples.
"Eles mantiveram o satélite pequeno. A carga pesa só cerca de 15 kg", diz o professor Andrew Coates, da Grã-Bretanha, que será investigador-chefe da missão da Europa a Marte em 2018.
"É claro que essa complexidade reduzida sugere que a missão não será tão cientificamente avançada, mas a Índia foi inteligente ao priorizar algumas áreas que irão complementar o que os outros estão fazendo."

Missão
O Mangalyaan está equipado com um instrumento que vai tentar medir o metano na atmosfera. Este é um dos tópicos mais quentes na pesquisa em Marte no momento, após observações preliminares sobre o gás.
A atmosfera da Terra contém bilhões de toneladas de metano, a grande maioria proveniente de micróbios, como os encontrados no trato digestivo dos animais.
A suspeita dos cientistas é que alguns organismos produtores de metano, ou metanogênicos, possam existir em Marte se viverem no subterrâneo, longe das duras condições da superfície do planeta.
Os cientistas ocidentais também estão animados de ter a sonda indiana na estação. Suas medições de outros componentes atmosféricos complementarão as medições da Maven e as observações feitas pela europeia Mars Express.
"Isso significa que estaremos recebendo as medições de três pontos, o que é muito importante", diz o professor Coates.
Isto irá permitir que os pesquisadores entendam melhor como o planeta perdeu o grosso de sua atmosfera bilhões de anos atrás, determinar que tipo de clima o planeta pode ter tido, e se era ou não propício à vida.

Gerador de riqueza
Mas há muitas críticas a respeito do programa espacial da Índia.
Uma delas parte do princípio de que a atividade espacial é um brinquedo melhor deixado para os países ricos e industrializados, sem valor para as nações em desenvolvimento.
Para os que defendem este argumento, seria melhor aplicar o dinheiro do contribuinte indiano em saúde e saneamento básico.
Mas o que essa posição muitas vezes ignora é que o investimento em ciência e tecnologia também constrói aptidão e capacidade, desenvolvendo o tipo de mão de obra que beneficia a economia e a sociedade de forma mais ampla.
A atividade espacial é geradora de riqueza. Algumas das coisas feitas no espaço fazem circular dinheiro aqui embaixo. As nações industrializadas sabem disso e essa é uma das razões pelas quais eles investem pesadamente na atividade espacial.
O Reino Unido, por exemplo, aumentou drasticamente seus gastos com espaço nos últimos anos. O governo até identificou a área de satélites como sendo uma das "oito grandes" tecnologias que podem ajudar a reequilibrar a economia do país.
A Índia quer embarcar nesta tendência. Com o Mangalyaan e os outros programas de satélites e foguetes, o país está se posicionando fortemente em mercados internacionais de produtos e serviços espaciais.

'Realização histórica'
A mídia indiana está classificando a missão como uma "realização histórica".
O jornal Hindu afirmou que a sonda já enviou cerca de dez fotos que mostram crateras na superfície do planeta vermelho. O governo disse que as imagens são de "boa qualidade".
Segundo fontes locais, a câmera foi o primeiro instrumento levado pela sonda a ser ligado, horas depois do satélite entrar na órbita de Marte.
A espaçonave robótica levou dez meses para percorrer 200 milhões de quilômetros até o planeta. Pesa 1350 quilos e é equipada com cinco aparelhos.
Entre eles, estão um espectrômetro de imagens térmicas para mapear a superfície e os recursos minerais de Marte e um sensor para detectar metano – o que pode indicar sinais de vida – e outros componentes da atmosfera.
Com a missão, a Índia se tornou a quarta nação ou bloco a colocar um satélite na órbita de Marte e a primeira da Ásia.
Apenas os Estados Unidos, a União Soviética e a União Europeia já enviaram missões ao planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário