Ana Amélia Lemos foi servidora do Senado enquanto era diretora da RBS
Senadora foi contratada pelo marido em seu gabinete
A senadora Ana Amélia Lemos do PP, candidata ao governo do Rio Grande do Sul, tem como principal bandeira na eleição a diminuição dos cargos comissionados, como o que ocupou no década de 1980. |
Candidata ao governo do Rio Grande do Sul, a senadora Ana Amélia Lemos
(PP-RS) tem como sua principal proposta diminuir o número de cargos
comissionados no estado, aqueles que são fruto de indicação política. A
intenção de Ana Amélia parece contraditória tendo em vista a sua
história profissional.
“Nós temos mais de 6 mil cargos comissionados. Só no gabinete do
governador e do vice-governador são 12, com status de secretário. São
cargos desnecessários e muito caros” disse a senadora no primeiro debate
entre os candidato no Estado. Em inúmeras vezes, Ana Amélia reiterou
que este era um modo de melhorar o frágil orçamento do estado.
Ao longo de dois meses de campanha, Ana Amélia omitiu que ela mesma
ocupou um cargo comissionado no Senado Federal enquanto era diretora da
sucursal em Brasília do Grupo RBS, afiliado à Rede Globo. A senadora foi
indicada para ocupar a vaga no gabinete do seu ex-marido, o senador
biônico Octávio Omar Cardoso, em 1986. A informação foi confirmada pela
própria candidata.
O salário indicado pela portaria era de CR$ 9 mil, equivalente a cerca
de 8 mil reais em valores atualizados. A função dela era, segundo a
portaria, prestar “apoio administrativo ao titular do gabinete, preparar
e expedir sua correspondência, atender as partes que solicitam
audiência, executar trabalhos datilográficos, realizar pesquisas,
acompanhar junto às repartições públicas assuntos de interesse do
Parlamentar e desempenhar outras atividades peculiares à função”.
O horário previsto era de oito horas diárias, cinco dias por semana. Em
entrevista, Ana Amélia disse que, mesmo com esse horário, era possível
conciliar as duas atividades. “Não havia nenhuma incompatibilidade, os
salários eram baixos e os jornalistas exerciam essas funções”, disse a
senadora.
As funções lembradas pela senadora na entrevista contrastam com todas
aquelas elencadas pela portaria. “O que eu fazia? Tão somente clipagem
de jornais, das matérias de interesse, seleção de pautas para monitorar
os pronunciamentos, apenas isso, a singeleza disso”, disse a senadora.
Ana Amélia também descreveu como fazia para conciliar as oito horas do
trabalho no Senado com a chefia de uma sucursal. “Só hoje o Senado tem
ponto”, disse a senadora. O dinheiro era recebido, segundo a própria Ana
Amélia, para “pegar os jornais que chegavam cedo à minha casa e fazer a
seleção das matérias que interessavam.”
Por fim, a senadora ainda lembra que nepotismo só passou a ser um crime
depois da Constituição de 1988 e classificou a divulgação desta
informação como "terrorismo eleitoral" pelo PT, partido do seu principal
adversário na disputa, o governador Tarso Genro.
Procurada, a RBS não quis comentar o ato da senadora. Porém, o
empregador comentava este tipo de indicação em editorial publicado no
mesmo dia em que a senadora foi empregada pelo Senado. Conforme o texto
de Zero Hora do dia 9 de junho de 1986 “a obrigatoriedade do concurso
para provimento efetivo de cargos públicos é constantemente ignorada
pela política do nepotismo, do apadrinhamento e do favorecimento.”
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