Submetido a um crime, o Planalto desconversa
Josias de Souza |
Há algo de podre na rede de internet da Presidência da República.
Máquinas plugadas ao sistema vêm sendo usadas para alterar perfis
mantidos na Wikipedia. Quando a biografia é de membro ou aliado do
governo, suprimem-se verdades incômodas. Quando o texto se refere a
personagens que o governo vê como inimigos, injetam-se inverdades.
Nesta sexta, soube-se que a rede do Planalto foi usada para enfiar
falsidades dentro dos perfis de Miriam Leitão e Carlos Alberto
Sardenberg. Já se sabia que há no governo pessoas que acreditam na tese
segundo a qual o Brasil, para dar certo, precisa trocar de imprensa.
Essa que está aí, viciada em imprensar, é de péssima qualidade.
Descobre-se agora que alguém na sede do governo evoluiu da debilidade
cerebral para a criminalidade. Virou caluniador.
Em reação às calúnias, o Planalto divulgou uma nota. No texto, informou
que lamenta muito o ocorrido. Mas anotou que é “tecnicamente impossível
identificar os responsáveis pelas modificações nos perfis dos
jornalistas'' Alega-se que a rede é wi-fi, sem fio. Por isso, “qualquer
pessoa, mesmo que estivesse em visita ao Palácio do Planalto, poderia,
em tese, ter realizado as alterações''.
Investigação? Nem pensar! Faz sentido. Todo mundo sabe de antemão quem
cometeu o crime. É mais ou menos como num jogo de futebol. O sujeito
pode ser um Neymar, mas não marca o gol sozinho. Há por trás dele uma
estrutura que prepara o chute. O roupeiro, o massagista, o treinador e
todo um time em campo para preparar a jogada. No lance da Wikipedia, mal
comparando, é a mesma coisa.
O PT defende a regulação da mídia. As autoridades, como comandantes de
navio que se queixam do mar, atacam a imprensa. Armada a jogada, o
criminoso apenas pluga o computador à rede e comete o crime. Que a
Presidência não tem o mais remoto interesse de investigar. Não há
inocentes nessa história, só há cúmplices.
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