sexta-feira, 8 de agosto de 2014


RBS poderá demitir até 250 jornalistas ainda este ano
Leva desta semana não foi maior por causa das eleições

Eduardo  Sirotsky  Melzer
A crise na RBS começou a dar sinais mais evidentes há um mês, com movimentos internos que mostravam aos editores e repórteres que se formava uma tormenta no horizonte.
Decisões que eram vendidas externamente como cases de sucesso, internamente viravam pesadelos empresariais. O melhor exemplo é o da TV Rural. Começou mal, com uma turbulenta negociação com Nizan Guanaes, e acabou ainda pior, sendo vendida a preço de banana para a Friboi do Joesley Batista, hoje mais conhecido como o marido da Ticiana Villas Boas.
A atual leva de demissões, 130 agora, terá uma segunda onda, de mais 120 em novembro. O número mágico de 250 degolas é o patamar estabelecido pelos mestres da tesoura da RBS, que precisam fazer caixa. Quedas de tiragem nos jornais do grupo, incluindo ZH e Diário Gaúcho, recomendam as demissões.
A degola só não chegou a 250, agora, por conta das eleições. Era preciso mão de obra agora para enfrentar os desafios de uma campanha pesada. Fechadas as urnas, mais 120 serão sacrificados. Ordens da matemática financeira.
A ordem para economizar centrou fogo no time de executivos, funcionários que, além dos altos salários, acumulavam bônus de rendimento ou gratificações que chegavam a 5 ou 10 salários extras no ano. Como a ideia é fazer caixa, mandaram fogo nos caixa-alta.
A demissão dos dois comandantes de dois jornais importantes, Alexandre Bach (Diário Gaúcho) e Ricardo Stefanelli (Diário Catarinense) confirmam esta orientação.
O corte dos dois cargos maiores da mais importante sucursal da RBS – o diretor corporativo Alexandre Kruel Jobim, filho de Nelson Jobim, e Klécio Santos, editor-chefe da empresa – reforça a informação.
Além da economia com os dois executivos de Brasília, a RBS vai economizar com a remoção de Porto Alegre do diretor de Jornalismo, Marcelo Rech, que ocupou a vaga de Augusto Nunes na direção da redação quando o paulista deixou o jornal.
Rech deve assumir, em Brasilia, a dupla função de Jobim e Klécio.
O Diário Gaúcho, que já trabalhava no osso com apenas 20 jornalistas na redação, agora ficará reduzido a 12.
O nome em ascensão na empresa é o de Fábio Bruggioni, que comanda a louvada e.Bricks, decantada por Duda em sua nota de Pandora como a saída de futuro para a RBS.
Na nova ordem, ganha força a atual diretora de redação, Marta Gleich, que agora paira sobre o Diário Gaúcho e o Diário Catarinense. Os editores de ZH suspeitam que o desenho da degola foi rascunhado por Marta e seu marido, Cézar Freitas, homem forte da RBS TV e que está voltando para a rádio Gaúcha, uma das poucas unidades que dá lucro na organização.
Os cortes só não foram maiores na base, na redação, porque os salários já são muito baixos, por volta de R$ 2 mil em Porto Alegre.
O clima na RBS é de estarrecimento, com a fórmula desastrada para anunciar os cortes. Uma videoconferência e uma nota oficial anunciando o corte iminente de 130 postos. Criou-se um clima de terror durante 48 horas sobre uma comunidade de 6 mil pessoas, desinformadas sobre quem seria ou não demitido.
Na videoconferência, Duda chegou a responder perguntas anônimas. Uma delas indagava porque a comida nos restaurantes da casa era “ruim e fria”, arrancando gargalhadas em meio à tensão.
Num certo momento, traindo a irritação, Duda reclamou dos boatos que infestavam a RBS pela ‘rádio corredor’, que sempre entra no ar em momentos de crise: “Isso não monetiza nada”, reclamou.
No embalo da insensibilidade, Duda misturou o drama das demissões com os mirabolantes projetos do futuro, incluindo as estimativas otimistas sobre os negócios de vinho e cerveja, pouco comuns a empresas de comunicação. “Espero que vocês se tornem sócios da Wine”, conclamou Duda, sem qualquer senso de oportunidade, tentando vender ações da empresa a pessoas atormentadas pela demissão iminente.
Para culminar, a nota oficial do presidente-executivo do grupo e videoconferencista  Eduardo Sirotsky Melzer era assinada informalmente por ‘Duda’, com um sentido íntimo e fofo que não cabe num documento assustador.
O vexame de comunicação da RBS, ao anunciar de forma tão desastrada seus ajustes financeiros e seu drama trabalhista, quebra a imagem nacional do grupo como uma empresa modelar, moderna, pujante, inovadora. Num único dia, a alta direção da RBS escancarou sua fragilidade, sua desorientação estratégica e sua desumana política trabalhista.
As demissões de hoje e de novembro próximo lançam uma sombra sobre o futuro do maior grupo de comunicação do sul do país.

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