O padrão Fifa de conduta
Zuenir Ventura |
Em um só dia foram descobertos dois aspectos pouco edificantes do padrão
Fifa de conduta. O primeiro surge quando, ao tentar explicar a covarde
agressão sofrida por Neymar, acabou defendendo a impunidade e
estimulando a violência em campo.
Num comunicado à imprensa, em que agride a coerência e a lógica, ela diz
que, apesar da “extensa documentação”, não pôde agir porque “nem um
cartão amarelo nem um cartão vermelho foi mostrado pelo árbitro”.
Quer dizer: o juiz erra — e isso é mostrado exaustivamente pelas imagens
de televisão — e a Comissão Disciplinar da entidade máxima, em vez de
puni-lo, usa o erro contra a vítima, ou seja, como atenuante para
absolver o agressor.
Se é assim, por que então castigou Luis Suárez, se também nem falta foi marcada?
Aliás, uma pena desmedida, se for feita a comparação. A dentada, por
mais reprovável que tenha sido, não produziu estragos, enquanto a
joelhada fraturou vértebra e vai deixar o atingido inativo por seis
semanas.
Se o uruguaio pegou nove jogos de suspensão e quatro meses fora das
atividades em seu clube, além de multa de R$ 247 mil, o colombiano
merecia no mínimo o mesmo.
O outro aspecto é ainda mais grave, porque o episódio que envolve a Fifa
foi parar na página policial. Trata-se da prisão do inglês Raymond
Whelan, diretor da única empresa escolhida para a venda de bilhetes para
a Copa.
Solto por um habeas corpus, continua sendo investigado como chefe da
quadrilha por “fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de
ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete”, crime
previsto no artigo 41 do Estatuto do Torcedor.
Ele está hospedado no Copacabana Palace, hotel oficial da Fifa, onde o
argelino Lamine Fofana adquiria ingressos (de quem?) para revender.
Fofana, preso antes com mais dez suspeitos, é o operador das tenebrosas
transações.
Em sua casa num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, além de um
caderno com a contabilidade do grupo, a polícia descobriu que nas
últimas semanas ele fez nada menos que 900 ligações para Whelan num dos
celulares oficiais de uso da Fifa no Brasil.
Na suíte do inglês, os policiais apreenderam US$ 1.300, telefones e cem
ingressos (inclusive para a final). A Polícia Civil carioca, cuja
operação foi elogiada pela Scotland Yard, calcula que o lucro com a
venda clandestina durante a Copa seria de R$ 200 milhões.
É cedo para dizer até onde vai o envolvimento da Fifa com a rede de
cambistas, mas não é cedo para dizer que, em termos de conduta, ela, que
foi tão rigorosa com os organizadores locais, não anda em boa
companhia. Pelo visto, em vez de parceiros, escolheu comparsas.
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