Iraque: Cristãos fogem de Mosul para não serem assassinados
Jihadistas sunitas deram prazo de três
dias para famílias cristãs deixarem a cidade. Na fuga, os cristãos foram
roubados por militantes islâmicos
Forças de segurança iraquianas destroem a bandeira do grupo militante sunita pertencente ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). |
Grupos de cristãos fugiram de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque,
após o fim do prazo concedido pelo Estado Islâmico do Iraque e do
Levante (EIIL) para que deixassem a localidade, tomada pelos jihadistas
em 10 de junho. O pároco de uma igreja da cidade vizinha de Al
Hamdaniya, Bashar al Kadia, disse que mais de 110 famílias se refugiaram
no povoado e pelo menos outras vinte foram para a localidade de
Bashiga.
O EIIL tinha dado três dias para que todos os cristãos locais deixassem a
cidade. Uma das pessoas que fugiram, Ran Yacob, disse que os
extremistas roubaram joias, dinheiro, móveis e objetos pessoais quando
as famílias passaram pelos postos de controle que jihadistas instalaram
na saída de Mosul.
Após assumir o controle da cidade, o EIIL impôs uma interpretação
radical da lei islâmica, proibiu o álcool e o tabaco e obrigou as
mulheres a usarem véus que escondem o corpo e o rosto. Em 27 de junho, o
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) informou
que 10.000 pessoas tinham deixado a cidade de Qaraqosh, de maioria
cristã, no norte do Iraque, em direção à região autônoma do Curdistão..
Ao lado de outros grupos insurgentes sunitas, o EIIL avançou por
diversas zonas do Iraque, enfrentando as forças leais ao governo do
xiita Nouri al Maliki. No final do mês passado, o grupo extremista
proclamou a instauração de um califado nas zonas sob seu domínio, entre
as províncias síria de Aleppo e a iraquiana de Diyala.
Escalada da violência
Os conflitos recentes no Iraque já deixaram 5.576 mortos neste ano,
segundo relatório das Nações Unidas (ONU) divulgado. O documento trata
do problema humanitário desencadeado pela ofensiva dos militantes
sunitas no país. O número de feridos desde o início do ano até o final
de junho é de 11.665. Aqueles que tiveram de fugir de suas casas por
causa dos conflitos totalizam 1,2 milhão de pessoas. Os dados mostram um
aumento do conflito em relação a 2013. Ano passado, que já foi um dos
mais violentos do Iraque, 7.800 civis morreram.
O conflito "infligiu grande dificuldades e sofrimento à população civil,
incluindo assassinatos em massa, ferimentos, destruição de vidas e de
propriedades", afirmou o relatório. O documento traz indicações de que
os abusos foram cometidos por ambas as forças envolvidas no conflito. Os
militantes jihadistas são acusados de violência sexual e sequestros,
enquanto o governo do Iraque fez execuções sumárias, de acordo com a
ONU.
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