Dez proteínas preveem se a perda de memória terminará em Alzheimer
O novo exame de sangue para detectar a doença neurodegenerativa pode custar entre 376 e 1.135 reais |
Um dos trabalhos mais ambiciosos na corrida que acontece na comunidade
científica em busca da possibilidade de detectar precocemente o mal de
Alzheimer com um simples exame de sangue identificou 10 proteínas cuja
presença determina com 87% de certeza se pessoas com deterioração
cognitiva leve desenvolverão Alzheimer no prazo de um ano.
Pesquisadores do King’s College, de Londres, e da Universidade de
Oxford, junto com outros centros, chegaram a essa conclusão após
analisar amostras de sangue de 1.148 pessoas. Delas, 474 já tinham a
enfermidade diagnosticada, 220 mostravam deterioração cognitiva leve
(DCL), e 452 eram idosos sem demência.
Um primeiro cruzamento de resultados revelou 26 proteínas como possíveis
indicadores da enfermidade. Depois de um primeiro processo de seleção,
as candidatas foram reduzidas a 16. Em todos esses casos, observou-se
uma relação entre a presença dos marcadores e as lesões cerebrais
(contração do cérebro) ligadas tanto à DCL como ao Alzheimer.
O segundo crivo, destinado a identificar os biomarcadores que estão
presentes nas lesões cognitivas leves que evoluem para um quadro de
Alzheimer, limitou a 10 as proteínas finalmente escolhidas.
A Sociedade Espanhola de Neurologia calcula que entre 600.000 e 800.000
pessoas sofram de Alzheimer na Espanha, embora 35% não saibam disso. A
doença não tem cura, e os tratamentos já experimentados após o
surgimento dos sintomas, na fase da demência, mostraram-se pouco
eficazes. “Quando se administram esses fármacos, o cérebro está muito
afetado para responder à terapia”, observa Abdul Hye, do Instituto de
Psiquiatria do King’s College, um dos autores do trabalho.
Daí a importância de desenvolver novos medicamentos em etapas
prematuras, que possam incidir na evolução da doença. Mas para isso é
fundamental contar com ferramentas que identifiquem os pacientes neste
momento inicial, e para isso contribuem métodos de diagnóstico precoce,
como as análises de sangue. “Esses exames podem nos ajudar a detectar os
pacientes em etapas mais precoces e, assim, conseguir que participem de
novos testes e que possamos desenvolver tratamentos que venham a conter
a progressão da enfermidade”, acrescenta Hye.
Com isto concorda Antonio del Olmo, neurologista especialista em
Alzheimer do hospital Peset de Valencia. Os primeiros sinais de que a
enfermidade começa (esquecimentos, incapacidade de reter feitos
recentes) aparecem em média cinco anos antes do começo da fase de
demência. Nestes momentos, descobrir a presença da patologia
neurodegenerativa pode ser útil não só para desenvolver novos remédios:
“Também pode-se tentar frear seu avanço com estimulação cognitiva”. Além
disso, apesar de não ter tratamento, del Olmo explica que quando
aparecem sintomas de demência que podem ser atribuídos ao Alzheimer, os
pacientes e suas famílias agradecem por conseguir identificar a doença.
“Minha experiência é que o grau de satisfação é elevado, elimina as
angústias da incerteza e por tratar-se de uma enfermidade tão crônica
permite preparar-se para sua evolução e antecipar problemas futuros”.
Seus impulsores pretendem poder comercializar a prova em um prazo de
dois anos por um preço entre 376 e 1.135 reais, ainda que primeiro
querem se certificar dos resultados obtidos com mais testes. Para isso,
pretendem repetir o trabalho com mais participantes: entre 5.000 e
10.000 voluntários.
Em todo caso, se finalmente for comercializado, seria um complemento aos
métodos de diagnósticos atuais para descartar os quadros mais
duvidosos. “Para diagnosticar o Alzheimer é necessário partir sempre do
diagnóstico clínico e neuropsicológico”, adverte Antonio del Olmo, que
participa de quatro testes de medicação destinada a tratar a enfermidade
em fases iniciais. “Não se pode pensar em um produto que se possa
comprar em farmácias, este exame seria indicado somente em casos de
dúvida e limitada para uso clínico”.
Já existem testes de Alzheimer baseados em análises de sangue no
mercado. Por exemplo o ADtect, que custa 2.412 reais; Mas neste caso, “a
confiabilidade é inferior e pode não detectar a probabilidade [de
desenvolver a doença]”, comenta Del Olmo
Também ocorreram anúncios promissores com uma confiabilidade similar ao
publicado nesta segunda pelo grupo britânico em Alzheimer’s and
Dementia. Investigadores norte-americanos identificaram em março outros
10 marcadores, neste caso, baseado em 10 lipídios presentes no sangue,
um método diagnóstico com uma margem de erro também elevada, de 10%.
Entretanto, nesta ocasião trabalhou-se com um volume de dados inferior
(foram acompanhados 525 septuagenários durante cinco anos).
Até que as análises de sangue demonstrem sua utilidade, há somente duas
formas de detectar o Alzheimer precoce; e ambas apresentam sérios
inconvenientes. Um consiste na busca de proteínas (as tau ou beta
amiloides cujo acúmulo no cérebro é relacionado com a enfermidade), mas é
um método agressivo já que é realizado com uma punção lombar. A outra é
com o uso de equipamentos PET (tomografia por emissões de pósitrons),
uma técnica não invasiva de diagnóstico por imagem que mostra a formação
de placas amiloides no córtex cerebral. O inconveniente, neste caso, é o
preço: custa 9.046 reais cada exame.
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