Black blocs presos no Rio tinham bomba de 'alta letalidade'
Professora de filosofia da UERJ e
ativista tinham uma bomba caseira e material para preparo de coquetéis
molotov quando foram presos
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Após ser presa no Rio Grande do Sul, Sininho embarcou para o Rio |
Um laudo do Esquadrão Antibombas deixa claro que baderneiros presos no
sábado (12 de julho) no Rio de Janeiro se organizavam para cometer
crimes em protesto marcado pelas redes sociais para a decisão da Copa do
Mundo, no domingo (13 de julho), no Maracanã. A Justiça aceitou o
pedido de prisão temporária da ativista Elisa Quadros, conhecida como
Sininho, e outros dezoito black blocs sob o entendimento judicial de que
o grupo forma uma quadrilha armada. O laudo a que se teve acesso mostra
que um casal de baderneiros preso pela polícia na operação guardava em
casa uma bomba de fabricação caseira com "capacidade de provocar
mortes". O artefato continha 140 gramas de pólvora - para se ter uma
ideia, o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade em fevereiro
deste ano continha 60 gramas.
O delegado Alessandro Thiers, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes
de Informática, sustenta que as 28 pessoas investigadas na operação
Firewall 2 planejaram cometer crimes no domingo (13) e estiveram
envolvidos em atos violentos em manifestações anteriores. O material
apreendido até o momento corrobora a versão policial.
Durante as buscas feitas no sábado (12), a polícia encontrou uma bomba
de fabricação caseira, em formato de tubo, na casa em que estavam a
professora Camila Rodrigues Jourdan e o ativista Igor Pereira D'Icarahy.
Camila é funcionária pública concursada e dá aulas na Faculdade de
Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Igor é
filho do advogado Marino D'Icarahy Júnior, que defende Sininho em
processos judiciais. No apartamento também foram encontradas garrafas e
litros de gasolina, material para preparação de coquetéis molotov. Os
investigadores dizem ter indícios de que o casal tinha uma conduta
específica na quadrilha de black blocs e, por isso, a Justiça expediu um
mandado de prisão temporária contra cada um. A situação da dupla se
complicou depois da apreensão da bomba. O casal passou a responder na
Justiça não somente por formação de quadrilha armada, mas também por
porte de explosivo. Mesmo que consigam um habeas corpus contra a prisão
temporária por formação de quadrilha, vão precisar de outra ordem
judicial para escapar da prisão em flagrante pela posse de explosivos.
Procurado, o advogado Marino D'Icarahy Júnior não quis se manifestar.
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Perícia mostra que casal de black blocs tinha bomba caseira com capacidade de provocar mortes |
Laudo técnico assinado pelos inspetores Francisco Sidney Farias
Rodrigues e Raphael Ferreti de Souza atesta que a bomba caseira é
chamada tecnicamente de "bomba tubo" e foi "confeccionada por agente que
demonstrou habilidade e conhecimento no manuseio de bombas caseiras
desta natureza". A perícia diz ainda que "a detonação deste artefato
explosivo tem capacidade de provocar mortes, lesões corporais diversas,
bem como danos patrimoniais e ao meio ambiente".
Na operação de sábado, dezenove adultos foram presos e dois adolescentes
detidos. Sete suspeitos ainda estão foragidos. Nas residências dos
investigados, a polícia localizou armas de choque, martelos pontiagudos,
litros de gasolina, garrafas e escudos. De acordo com a investigação,
eram instrumentos para a participação criminosa dos suspeitos em
protestos. Na casa de uma das adolescentes, que morava com a irmã, foi
encontrado um revólver. O pai da menina se apresentou como dono da arma
de fogo e foi autuado por omissão de cautela, crime de menor potencial
ofensivo que vai ser julgado no Juizado Especial Criminal. Mas a
adolescente vai ficar detida por ato infracional análogo ao porte ilegal
de arma de fogo.
Incomodado com críticas sobre a prisão dos black blocs, o delegado
garante que vai detalhar as provas contra os suspeitos na conclusão do
inquérito. Ele prevê que isso será feito em até 10 dias. Após o fim do
sigilo judicial na fase de investigação, pretende exibir um organograma
com a responsabilidade de cada um dos 28 investigados na "quadrilha".
"Existe uma quadrilha armada cometendo atos violentos durante
manifestações, com divisão de tarefas. As apreensões só confirmam isso.
Foram apreendidos galões de gasolina, garrafas de coquetel molotov,
diversos martelos pontiagudos e uma bomba de fabricação caseira. Não era
uma bombinha de festa de faculdade. Quem anda com isso? Tinham o nítido
propósito de fazer depredação. O viés político que estão querendo
colocar é uma atitude de desespero de advogados", afirmou Thiers.
A acusação de formação de quadrilha armada foi corroborada pelo promotor
Luís Otávio Figueira Lopes, do Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro. O crime apontado pela polícia motivou a decretação de prisão,
por cinco dias, como permite a legislação em casos do gênero. A decisão
foi do juiz Flavio Itabaiana de Oliveira Nicolau, titular da 27ª Vara
Criminal da Capital do Rio de Janeiro. Por isso e pelo conjunto de
provas colhidos na investigação, o delegado critica as reclamações de
que foram "prisões arbitrárias". O delegado diz ainda que pode pedir a
prisão preventiva dos investigados, como permite a lei. "Se for
necessário, vamos pedir a prisão preventiva. É leviano tratar a
investigação como se fosse política sem conhecê-la. Não tem nenhuma
banalidade sendo investigada. O que um manifestante pacífico faria com
coquetel molotov e bomba caseira? Os advogados tiveram amplo acesso aos
documentos da investigação. A polícia só combate os excessos", afirmou o
delegado.
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