Banco Espírito Santo, de Portugal, derruba bolsas européias e FMI emite alerta
Investidores por toda a Europa reduziram a exposição a bancos, em reação
às crescentes preocupações com a saúde do maior banco listado de
Portugal, levando as bolsas européias a atingir a mínima em dois meses. O
índice português PSI recuou à mínima em nove meses (queda de 4,18% a
6.105 pontos) e exibiu desempenho inferior a dos demais índices
europeus. Negociações com ações e títulos do Espírito Santo Financial
Group, o principal acionista do Banco Espírito Santo, foram suspensas
devido ao anúncio de default técnico da Espírito Santo International
(ESI), que faz parte do Grupo Espírito Santo (GSE). As negociações do
papel do Banco Espírito Santo também foram interrompidas mais tarde,
após queda de 19%, deixando investidores nervosos em toda a Europa. O
índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações do continente,
fechou em queda de 1%, a 1.349 pontos, após chegar a 1.342 pontos na
mínima da sessão, menor nível desde o início de maio. "A situação do BES
é uma história emaranhada de participações cruzadas e dívidas não
explicadas, que destaca os riscos que ainda existem em alguns bancos
europeus", disse o diretor administrativo do B Capital Wealth
Management, Lorne Baring. Em Londres, o índice FT500 recuou 0,68%, a
6.672 pontos, enquanto a bolsa de Frankfurt caiu 1,52%, a 9.659 pontos.
Em Paris, o índice CAC-40 perdeu 1,34%, a 4.301 pontos. O desempenho
negativo dos mercados fez com que o Fundo Monetário Internacional
emitisse um comunicado sobre a situação do sistema bancário português. O
fundo afirmou, em nota, que "o sistema bancário português foi capaz de
suportar a crise sem perturbações significativas, ajudado pelo apoio
substancial de capital público e por medidas extraordinárias do Banco
Central Europeu". Contudo, a entidade presidida por Christine Lagarde
afirma que, " há mostras de vulnerabilidade que necessitam de medidas
corretivas em alguns casos, e de supervisão intrusiva em outros". Tal
supervisão significa a intervenção do Fundo para evitar o risco
sistêmico. Em relação ao caso específico do Banco Espírito Santo, o FMI
afirmou não "fazer comentários sobre instituições financeiras
individuais". O Banco de Portugal emitiu um comunicado afirmando que o
BES é "sólido". O Banco Espírito Santo vem sendo arrastado por um
turbilhão de problemas em suas holdings controladoras. A origem das
preocupações é a Espírito Santo International (ESI), principal acionista
do GSE, detendo 100% da Rioforte, que é a holding não-financeira do
grupo português. Esta, por sua vez, é dona de 49% do Espírito Santo
Financial Group (ESFG), o maior acionista do Banco Espírito Santo (BES),
com 25% de participação. A ESI afirmou nesta semana que não conseguiu
cumprir suas obrigações com alguns credores dentro do prazo
estabelecido, o que configura situação de calote. A insolvência da ESI
afeta diretamente o emaranhado de empresas do grupo — sobretudo porque
todas estão muito interligadas. O problema respinga no Brasil porque a
Portugal Telecom tem como segundo maior acionista justamente o GES. A
tele portuguesa, em processo de fusão com a Oi, fez um aporte de 900
milhões de dólares na Rioforte, controlada pela falida ESI. Contudo, não
comunicou o investimento aos sócios brasileiros. Como os títulos
comprados pela Portugal Telecom vencem nos dias 15 e 17 de julho, caso a
Rioforte não consiga honrar com seus compromissos, a companhia de
telecomunicações ficará com seu caixa fortemente afetado. Os
desdobramentos podem inviabilizar a fusão com a Oi nos termos que haviam
sido acertados no ano passado. Estima-se que a Portugal Telecom tenha
de reduzir sua participação de 38% para 20% na nova operadora que será
criada no Brasil. O BNDES, um dos maiores acionistas da Telemar, que
controla a Oi, afirmou considerar as operações com a Rioforte
inconsistentes, com padrões mínimos de boa governança corporativa. Tal
como a própria Oi já havia feito, o BNDES afirmou ter pedido mais
informações “detalhadas” sobre a aplicação feita pela tele portuguesa.
Segundo o BNDES, sua única preocupação é "a preservação dos interesses
dos acionistas da Oi".
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