segunda-feira, 7 de julho de 2014


Autoridades temem onda de 
terrorismo judaico

O fantasma de uma onda de terrorismo judaico voltou a rondar Israel. A polícia local revelou ter detido seis suspeitos — todos judeus ultranacionalistas — do sequestro e assassinato do adolescente palestino Muhammad Abu Khdeir, de 16 anos, em Jerusalém Oriental, na última quarta-feira, 2 de julho. Muhammad foi levado para uma floresta nos arredores da cidade e queimado vivo. E o bando teria cometido o crime em vingança a outro sequestro seguido de morte: o de três jovens israelenses cujos corpos foram encontrados há dez dias na Cisjordânia, numa ação atribuída ao grupo Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu à família Abu Khdeir que os responsáveis pelo “crime horrível irão enfrentar todo o peso da lei”.
— Na sociedade de Israel, não há lugar para tais assassinos — disse Netanyahu. — Não diferenciamos entre terroristas e vamos responder a todos eles, de onde quer que venham, com mão firme.
A polícia investiga, ainda, se o grupo é o mesmo que tentou raptar outro palestino um dia antes do assassinato: o menino Mussa Zalum, de apenas 9 anos, que ainda tem sinais de um princípio de enforcamento no pescoço.

Tariq Khdeir recebe beijo da mãe

As autoridades também prometem investigar um vídeo amador que causa indignação nas redes sociais, mostrando dois policiais israelenses espancando um rapaz que jogava pedras contra as forças de segurança. Ele seria Tariq Khdeir, primo de Muhammad, um cidadão americano, morador da Flórida, que apenas passa as férias em Jerusalém. Foi preso, mas acabou libertado.
— Não acredito que isso tenha realmente acontecido comigo — disse Tariq, de 15 anos, ainda com o rosto inchado, contando que perdeu a consciência até acordar no hospital.



Vídeo mostra primo de palestino morto sendo espancado pela polícia israelense
Nas imagens captadas por uma testemunha, Tariq Abu Khdeir, cidadão americano, de 15 anos, é supostamente visto recebendo socos e pontapés de dois agentes.
O vídeo foi publicado por um site de notícias local, e imagens liberadas pela família mostram o rosto de Tariq inchado e sangrando. A mãe do adolescente disse à Sky News que estava "em estado de choque" e descreveu o suposto ataque ao filho como uma tentativa de homicídio.



Para a extrema-direita, crime foi ‘desprezível’
Até líderes da extrema-direita, como o ministro da Economia, Naftali Bennet, do partido Casa Judaica, condenaram o assassinato de Abu Khdeir, que chamou de “desprezível, imoral e antijudaico”. Mas os detalhes trazem à tona casos infames de terrorismo judaico em Israel, em geral, perpetrados por religiosos ultranacionalistas. O mais recente, em 2009, foi protagonizado pelo americano-israelense Yaakov (Jack) Teitel. Indiciado por jogar uma bomba na casa de um intelectual de esquerda, ele admitiu ter assassinado um taxista palestino em 1997. Em 2005, Eden Natan-Zada matou quatro palestinos dentro de um ônibus na cidade de Shfaram.
Os episódios mais notórios aconteceram na década de 1990. Em 1994, o médico americano-israelense Baruch Goldstein abriu fogo contra palestinos na Mesquita Ibrahimi, conhecida como a Tumba dos Patriarcas, em Hebron, na Cisjordânia. O resultado foram 29 mortos e 125 feridos. No ano seguinte, em 1995, o colono Yigal Amir entrou para a História como algoz do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Isso sem contar com casos recentes de vandalismos contra propriedade árabe.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, apelou para uma investigação internacional quanto ao assassinato de Muhammad, que levou a uma onda de protestos violentos. Manifestantes da minoria árabe de Israel, cerca de 20% da população, lançaram pedras contra a polícia em cidades árabes como Nazaré e Tamra, na Galileia. Em Jerusalém, também houve confrontos. E, não bastasse a tensão na Cisjordânia, a troca de hostilidades na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza também se manteve alta. Militantes palestinos lançaram mais de 30 foguetes e morteiros contra o Sul de Israel. Em represália, a Força Aérea israelense fez pelo menos 12 ataques a Gaza, alegando alvejar depósitos de armas. Ao menos duas pessoas morreram, segundo fontes palestinas.

Netanyahu defende contenção em Gaza
Mas, surpreendendo seus aliados mais à direita, o premier israelense demonstrou uma postura leniente — o que levou a um embate público entre ele e ministros como Bennet e o chanceler ultranacionalista Avigdor Lieberman.
— Temos que agir com responsabilidade e contenção — disse Netanyahu, contrariando seus aliados, defensores de uma incursão militar de grandes proporções em Gaza.

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