Autoridades temem onda de
terrorismo judaico
O fantasma de uma onda de terrorismo judaico voltou a rondar Israel. A
polícia local revelou ter detido seis suspeitos — todos judeus
ultranacionalistas — do sequestro e assassinato do adolescente palestino
Muhammad Abu Khdeir, de 16 anos, em Jerusalém Oriental, na última
quarta-feira, 2 de julho. Muhammad foi levado para uma floresta nos
arredores da cidade e queimado vivo. E o bando teria cometido o crime em
vingança a outro sequestro seguido de morte: o de três jovens
israelenses cujos corpos foram encontrados há dez dias na Cisjordânia,
numa ação atribuída ao grupo Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu à família
Abu Khdeir que os responsáveis pelo “crime horrível irão enfrentar todo o
peso da lei”.
— Na sociedade de Israel, não há lugar para tais assassinos — disse
Netanyahu. — Não diferenciamos entre terroristas e vamos responder a
todos eles, de onde quer que venham, com mão firme.
A polícia investiga, ainda, se o grupo é o mesmo que tentou raptar outro
palestino um dia antes do assassinato: o menino Mussa Zalum, de apenas 9
anos, que ainda tem sinais de um princípio de enforcamento no pescoço.
Tariq Khdeir recebe beijo da mãe |
As autoridades também prometem investigar um vídeo amador que causa
indignação nas redes sociais, mostrando dois policiais israelenses
espancando um rapaz que jogava pedras contra as forças de segurança. Ele
seria Tariq Khdeir, primo de Muhammad, um cidadão americano, morador da
Flórida, que apenas passa as férias em Jerusalém. Foi preso, mas acabou
libertado.
— Não acredito que isso tenha realmente acontecido comigo — disse Tariq,
de 15 anos, ainda com o rosto inchado, contando que perdeu a
consciência até acordar no hospital.
Vídeo mostra primo de palestino morto sendo espancado pela polícia israelense
Nas imagens captadas por uma testemunha, Tariq Abu Khdeir, cidadão americano, de 15 anos, é supostamente visto recebendo socos e pontapés de dois agentes.
Nas imagens captadas por uma testemunha, Tariq Abu Khdeir, cidadão americano, de 15 anos, é supostamente visto recebendo socos e pontapés de dois agentes.
O vídeo foi publicado por um site de notícias local, e imagens liberadas
pela família mostram o rosto de Tariq inchado e sangrando. A mãe do
adolescente disse à Sky News que estava "em estado de choque" e
descreveu o suposto ataque ao filho como uma tentativa de homicídio.
Para a extrema-direita, crime foi ‘desprezível’
Até líderes da extrema-direita, como o ministro da Economia, Naftali
Bennet, do partido Casa Judaica, condenaram o assassinato de Abu Khdeir,
que chamou de “desprezível, imoral e antijudaico”. Mas os detalhes
trazem à tona casos infames de terrorismo judaico em Israel, em geral,
perpetrados por religiosos ultranacionalistas. O mais recente, em 2009,
foi protagonizado pelo americano-israelense Yaakov (Jack) Teitel.
Indiciado por jogar uma bomba na casa de um intelectual de esquerda, ele
admitiu ter assassinado um taxista palestino em 1997. Em 2005, Eden
Natan-Zada matou quatro palestinos dentro de um ônibus na cidade de
Shfaram.
Os episódios mais notórios aconteceram na década de 1990. Em 1994, o
médico americano-israelense Baruch Goldstein abriu fogo contra
palestinos na Mesquita Ibrahimi, conhecida como a Tumba dos Patriarcas,
em Hebron, na Cisjordânia. O resultado foram 29 mortos e 125 feridos. No
ano seguinte, em 1995, o colono Yigal Amir entrou para a História como
algoz do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. Isso sem contar com
casos recentes de vandalismos contra propriedade árabe.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, apelou
para uma investigação internacional quanto ao assassinato de Muhammad,
que levou a uma onda de protestos violentos. Manifestantes da minoria
árabe de Israel, cerca de 20% da população, lançaram pedras contra a
polícia em cidades árabes como Nazaré e Tamra, na Galileia. Em
Jerusalém, também houve confrontos. E, não bastasse a tensão na
Cisjordânia, a troca de hostilidades na fronteira entre Israel e a Faixa
de Gaza também se manteve alta. Militantes palestinos lançaram mais de
30 foguetes e morteiros contra o Sul de Israel. Em represália, a Força
Aérea israelense fez pelo menos 12 ataques a Gaza, alegando alvejar
depósitos de armas. Ao menos duas pessoas morreram, segundo fontes
palestinas.
Netanyahu defende contenção em Gaza
Mas, surpreendendo seus aliados mais à direita, o premier israelense
demonstrou uma postura leniente — o que levou a um embate público entre
ele e ministros como Bennet e o chanceler ultranacionalista Avigdor
Lieberman.
— Temos que agir com responsabilidade e contenção — disse Netanyahu,
contrariando seus aliados, defensores de uma incursão militar de grandes
proporções em Gaza.
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