terça-feira, 4 de outubro de 2011


O capitalismo fracassou?

Há vinte anos, a queda do Comunismo no Leste Europeu parecia provar o triunfo do capitalismo. Mas teria sido uma ilusão?
Os constantes choques no sistema financeiro internacional nos últimos anos leva-nos a perguntar a especialistas se eles acham que o capitalismo ocidental fracassou.
O secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría, diz não considerar que o capitalismo fracassou, mas afirma que houve falhas em áreas como regulação, supervisão e gerenciamento:



Ángel  Gurría
O capitalismo ocidental falhou? A minha resposta para a pergunta seria provavelmente NÃO. Mas também me questiono se é o capitalismo que deve estar no banco dos réus. Eu preferiria falar de mercados abertos.
Acredito que falhamos como reguladores, supervisores, gerentes da governança corporativa, como gerenciadores de riscos e também na distribuição de papeis e responsabilidades para organizações econômicas internacionais.
Nosso fracasso financeiro se espalhou imediatamente para a economia real. Saímos de uma crise financeira para a paralisia econômica e um choque de desemprego, com médias de 9, 10%. Entre os jovens em particular, as taxas sobem para 20, 30, 40%. Esta é a face humana e a realidade trágica desta crise.
Algumas organizações internacionais viram a crise chegando. Algumas até emitiram avisos, mas não foram coordenados, elas não falaram com uma única e forte voz. Assim, eles foram ignorados na atmosfera de grande prosperidade onde todos faziam muito dinheiro, acreditavam que inovação era o nome do jogo e, por alertar que algo podia estar indo errado, você parecia estar travando o avanço do progresso
Havia ainda a filosofia de que os mercados precisavam funcionar com o mínimo possível de intervenção governamental. Mas isso não significa que ele podia trabalhar sem nenhuma intervenção ou esta ser tão leve que não poderia identificar riscos.
Então a crise deixou um legado calamitoso, de desemprego alto, déficits fiscais enormes que ainda lutamos para controlar, dívidas públicas acumuladas que já chegam a 100% do PIB em média nos países da OCDE. A propósito, esta dívida costumava ser parte da solução e agora é o problema. E ela segue crescendo, já que a redução econômica diminui os recursos fiscais e o desemprego em massa aumenta a necessidade de gastos sociais.
É muito importante emitir sinais claros de como vamos lidar com o problema das dívidas sem sacrifício do crescimento e o desemprego. É aqui que a OCDE diz: "cuide da estrutura". Esta é a nossa mensagem.
O foco primário no contexto de uma estratégia de longo prazo para restaurar o crescimento sustentável deve ser nas reformas dos produtos e dos mercados de trabalho, como educação, inovação, crescimento verde, competição, impostos, saúde.
Isto criará impostos e ajudará a combater a dívida. Precisamos também de "ênfase no social" e políticas inovadoras para proteger os mais vulneráveis.
Portanto, NÃO. Acredito que o capitalismo ocidental e os mercados não falharam. Acho que a questão é como melhorar a fiscalização e balancear nossas economias de mercado.
Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão recentemente disse em um artigo que "há um amplo consenso que mercados mais robustos, resistentes contra crises precisam de regulamentações mais duras".
Concordo plenamente. Acho que as economias são importantes demais para serem deixadas apenas nas mãos das forças de mercado. É um processo árduo que demanda uma governança e instituições internacionais mais fortes, mas obviamente, é a única saída.

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