quinta-feira, 15 de setembro de 2011


Maia diz que só agirá contra Novais ‘se for provocado’

De volta à Câmara, o ex-ministro Pedro Novais (PMDB-MA) será recepcionado por um refresco servido pelo presidente da instituição, Marco Maia (PT-RS).
O companheiro Maia condicionou a adoção de providências contra a malversação de verbas das arcas da Câmara à provocação de deputado ou partido.
Novais caiu da pasta do Turismo nas pegadas de um par de revelações. Numa, soube-se que, por sete anos, a governanta de seu apartamento foi remunerada pela Câmara.
Noutra, descobriu-se que outro funcionário da Câmara, contratado pelo cupincha Francisco Escórcio (PMDB-MA), trabalhava como chofer da mulher de Novais.
Submetido às evidências de patrimonialismo rasteiro, Marco Maia disse que a Mesa diretora da Câmara não moverá uma palha se não for provocada.
“Nunca aconteceu de a Mesa tomar uma decisão de ofício [por conta própria], mas, sendo instada por um partido ou parlamentar, a Mesa vai tomar uma decisão…”
“…São 513 deputados. E qualquer um pode representar. Não é natural agir [de ofício].”
Admitindo-se que seja verdadeira a tese da  falta de ação histórica, Maia dispõe de poderes para modificar a escrita. Falta-lhe a vontade.
Líder do PSOL, o ex-petista Chico Alencar (PT) acena com a adoção de providências. Antes, dará oportunidade a Maia para recobrar o juízo.
"Em tese, quem não pode mais ser ministro, em decorrência de problemas gravíssimos que se acumularam, não deveria poder ser deputado também”, disse Chico.
“O primeiro passo é que a Corregedoria [da Câmara] atue, de ofício, sobre essas denúncias. Nós queremos trabalhar com os instrumentos que a Casa tem…”
“…Mas é claro que o PSOL vai agir caso as instâncias da Casa não o façam.”
O eleitor não deve alimentar ilusões. Uma Câmara que inocentou Jaqueline Roriz (PMN-DF), pilhada em vídeo recebendo verbas sujas, não haverá de importunar Novais.
A propósito, o deputado Cândido Vaccarezza, líder de Dilma Rousseff na Câmara, apressa-se em avisar: “O ex-ministro conta com a nossa solidariedade.”
Líder da bancada do PMDB, partido de Novais, Henrique Eduardo Alves discorda até mesmo da tese segundo a qual a situação de Novais tornara-se “insustentável” no governo.
“São denúncias novas e ele preferiu sair para se defender sem comprometer o ministério, uma atitude que apoiamos.”
Quer dizer: embora necessário, o pedido de providências do PSOL descerá à crônica do Legislativo como mais uma pantomima anunciada.
Diante do quadro em que a Câmara não se dá por achada, resta torcer para que a Procuradoria da República resolva procurar.
O procurador-geral Roberto Gurgel informou que “provavelmente” abrirá ação contra Novais. Com tantas evidências poderia ter poupado a platéia do condicional.
Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. Meia-verdade. O verdadeiro flagelo do Brasil é essa recorrente falta de curiosidade de certas autoridades.

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