quarta-feira, 14 de setembro de 2011
FMI alerta para risco de reversão de investimentos em emergentes
O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou para o risco de retirada de investimentos em mercados emergentes caso haja mudança nos fundamentos econômicos – como perspectivas de crescimento, risco-país ou mesmo risco global.
Em um capítulo do Global Financial Stability Report (“Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global”, em tradução livre), divulgado em Washington, o FMI afirma que a tendência estrutural de investimentos em mercados emergentes registrou aceleração após a crise econômica mundial de 2008.
“No entanto, com muitos investidores de primeira viagem aproveitando as vantagens do desempenho econômico relativamente melhor desses países (emergentes), há o risco de reversão se os fundamentos mudarem”, diz o documento.
“No caso de choques maiores, o impacto dessa reversão pode ter a mesma magnitude que a saída de fluxos registrada durante a crise financeira (de 2008)”, afirma o estudo.
Segundo o FMI, a magnitude da recente retirada de investimentos em fundos de ativos e títulos nos mercados emergentes comprova as conclusões do relatório.
Juros e risco
Após a crise mundial, muitos emergentes, como o Brasil, que já haviam sido menos afetados do que economias mais avançadas pela turbulência, registraram uma recuperação mais rápida.
Esse cenário atraiu um grande fluxo de investimentos estrangeiros para esses países.
Em alguns casos, os investidores também foram atraídos por altas taxas de juros, em um momento em que países como Estados Unidos, Japão e várias economias da zona do euro ainda enfrentam uma lenta recuperação e mantêm suas taxas próximas de zero.
No entanto, segundo o FMI, no caso de investidores institucionais de longo prazo, a decisão de alocação de ativos é baseada principalmente em boas previsões de crescimento e redução de riscos nos países receptores.
“A diferença nas taxas de juros entre os países cumpre um papel secundário”, diz o documento.
Nesse ponto, o relatório ressalta que essa tendência não significa que os fluxos de capital em geral não respondem a menores taxas de juros, já que esses fluxos podem ser resultado de decisões tomadas por investidores no curto prazo.
No caso dos investidores institucionais de longo prazo, porém, que são o foco do estudo, a conclusão é que a maioria aceita rendimentos mais baixos em vez de assumir riscos maiores.
O FMI alerta, porém, que caso as taxas de juros nas economias avançadas permaneçam baixas por um longo período – como é esperado – esses investidores serão pressionados cada vez mais a assumir mais riscos, “à medida que sua situação financeira se torna cada vez menos favorável”.
De acordo com o FMI, desde a crise financeira global, os investidores têm sido expostos a duas forças opostas.
Por um lado, estão mais conscientes dos riscos, especialmente aqueles relacionados à liquidez e aos riscos de crédito soberano.
No entanto, por outro lado, o cenário de baixas taxas de juros (nas economias avançadas) pressiona cada vez mais os investidores institucionais a investir em ativos mais arriscados, para melhorar os rendimentos de suas carteiras.
Crédito
No segundo capítulo antecipado, o FMI analisa como compreender melhor a fonte dos choques que provocam acumulação de riscos sistêmicos (que afetam todo o sistema financeiro), que podem ter impacto negativo na economia real, para poder empregar as políticas macroprudenciais de forma correta.
O documento sugere um conjunto de indicadores que poderiam alertar as autoridades sobre a iminência de dificuldades financeiras.
No caso do crédito, o FMI afirma que a informação deve ser complementada por outros indicadores.
“Apesar de o crédito aumentar tanto graças a um choque positivo (um estímulo saudável da economia real mediante aumentos de produtividade) quanto a um choque negativo (como uma escalada de preços de ativos e relaxamento nas normas creditícias aplicadas pelos bancos), o aumento de crédito e a persistência desse aumento e a redução do índice de capitalização dos bancos são bem mais pronunciados no caso de choques negativos”, diz o documento.
O FMI diz ainda que, no caso das economias emergentes, a apreciação da taxa de câmbio real “parece ser um fator especialmente relevante”.
O relatório completo será divulgado apenas na próxima semana, durante a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.
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