sexta-feira, 16 de setembro de 2011


Custo de produção do açúcar brasileiro deve continuar em alta

O rápido crescimento econômico, a inflação persistente e uma escassez de cana-de-açúcar devem continuar elevando o custo da produção de açúcar no Brasil, o maior produtor mundial, influenciando os preços nos mercados mundiais.
A Czarnikow, trading britânica de açúcar, avaliou em um relatório publicado que o custo de produzir 453 gramas de açúcar no centro-sul do Brasil vai subir em 85% nas próximas duas décadas, chegando a mais de US$ 0,35. Desde 2000 os custos de produção mais que dobraram, fazendo a libra [453 gramas] de açúcar atingir US$ 0,1928 atualmente, segundo a firma.
A perspectiva deve ser inquietante para os consumidores que consideram elevado o preço de US$ 0,30 por libra de açúcar bruto na Bolsa Intercontinental de Nova York. Os custos de produção no Brasil, país que domina o comércio mundial da commodity, tendem a estabelecer "um piso para os mercados mundiais", segundo a Czarnikow.
Nos últimos meses, os futuros de açúcar vêm mostrando tendência de alta com os informes de um fraco resultado da safra canavieira no Brasil, e tendência de queda com a expectativa de maiores exportações da Tailândia e da Índia.
Mas Arnaldo Correa, diretor da Archer Consulting, de São Paulo, disse que "rumores de baixa vindos do outro lado do planeta" não devem desviar a atenção dos investidores em commodities da dura realidade no Brasil, onde a indústria açucareira pode ser obrigada a correr para alcançar a demanda pelos próximos dois a três anos. Além de atender os consumidores mundiais de açúcar, o setor também precisa fornecer etanol como combustível para um número crescente de veículos brasileiros.
Investimentos insuficientes no replantio, combinados com problemas climáticos e outros fatores derrubaram a produtividade dos canaviais do centro-sul do país. Segundo analistas, isso acentuou a alta dos custos de produção, que Correa avaliou em cerca de US$ 0,22 por libra no momento.
"Na nossa opinião, esse número é o principal apoio psicológico para o mercado (de futuros)", disse ele.
A Unica, União da Indústria de Cana de Açúcar do centro-sul do país, informou que o aumento dos custos da logística, dos terrenos e dos salários, juntamente com novos investimentos em colheitadeiras mecânicas, atingiram os produtores canavieiros. A associação avaliou que os custos de produção de açúcar subiram em até 40% nos últimos cinco anos.
Forças maiores também estão em ação no Brasil, economia que no passado era propensa a crises, mas apresenta mais de uma década de crescimento em bases estáveis.
Entre elas estão o crescimento de 7,5% do PIB brasileiro no ano passado, o consequente aperto no mercado de trabalho e a alta da inflação para 7,2% em agosto, bem acima da meta de 4,5% do banco central.
Ao mesmo tempo, investidores estrangeiros continuam a despejar dinheiro nos mercados de capitais brasileiros, para aproveitar a taxa básica de juros de 12%, uma das mais altas do mundo. A consequente valorização do real complica a contabilidade de exportadores cujas vendas em dólar no exterior representam cada vez menos reais para pagar salários e outras contas em real que não param de subir.
"Os movimentos das taxas de câmbio têm grande influência sobre os custos", segundo a trading Czarnikow. "O açúcar é uma commodity cotada em dólares, mas os principais produtores e consumidores são movidos por fatos que ocorrem dentro de seus mercados domésticos."

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