sábado, 4 de junho de 2011
Ricardo Setti
Palocci na Globo: o ministro preferiu confiar em órgãos públicos e deixou de lado a opinião pública
A entrevista do ministro Antonio Palocci ao Jornal Nacional para tentar explicar seu brutal aumento patrimonial nos últimos 4 anos – quando é que atingiremos o nível de civilização em que políticos do porte do chefe da Casa Civil se expliquem à opinião via todo o conjunto da imprensa, e não apenas à Globo? – deixou claríssima sua estratégia de defesa:
1) Tentar tirar o foco da crise do governo e da presidente Dilma — visivelmente atarantada com o vulto que as coisas tomaram –, e assumir pessoalmente a responsabilidade por ser olho do furacão.
2) Não revelar nada realmente relevante e específico à opinião pública (nomes dos clientes, valores exatos de quanto a empresa faturou em períodos determinados)
3) Prestar contas sobre as atividades de “consultoria” de sua empresa, a Projeto, e disponibilizar os dados que forem requeridos apenas e exclusivamente a órgãos públicos. (Curiosamente, na entrevista, não se mencionou a possibilidade de uma CPI do Congresso, que o governo com certeza tentaria ou tentará barrar).
Comentários sobre os 3 itens:
1) Palocci só vai retirar o foco na presidente e no governo se der passos adicionais. Parece brincadeira dizer que “não há crise nenhuma”, que o governo “trabalha normalmente”, e que a opinião pública vai se satisfazer apenas com a entrevista.
2) Num país civilizado, com políticos civilizados e procedimentos civilizados, ele revelaria, sim, os nomes das empresas.
O ministro citou um caso para mostrar os danos que empresas podem sofrer se vier à tona que foram clientes da Projeto. Mas é absolutamente viável que qualquer empresários dotado de bom senso e algum espírito público, diante do tamanho da crise que Palocci finge não existir no governo, aceitaria ser citado como cliente do ministro, se ele pedisse. Se tudo é legal e legítimo, qual é o problema?
3) O ministro mencionou vários órgãos públicos a quem prestará informações: além da Prefeitura de São Paulo, que recolheu o ISS das atividades de sua empresa, a Projeto, e não investiga nem vai investigar nada, os que interessam são: a Receita Federal (imposto de renda), a Comissão de Ética Pública da Presidência da República e a Procuradoria-Geral da República.
A Comissão de Ética Pública recebeu uma série de dados do ministro quando este tomou posse, e não tomou qualquer atitude. Seria agora que o faria? Além do mais, tudo o que pode fazer são “recomendações”.
A Receita Federal, que já teria sido municiada, não revelou qualquer contrariedade com as informações que já detém. E não custa lembrar que é subordinada ao Ministério da Fazenda, que por sua vez se reporta à presidente da República, Ministério o qual, por coincidência, foi pilotado por Palocci durante um longo período.
Resta a Procuradoria-Geral da República.
Devemos, então, todos supor que o procurador-geral Roberto Gurgel fará uso de toda a independência que, tecnicamente, guarda em relação ao Executivo para, se for o caso, investigar os números de Palocci e, em estando irregulares, tomar alguma iniciativa jurídica.
Palocci deixou claro, claríssimo, que confia em todos os órgãos públicos a quem encaminhou ou encaminhará esclarecimentos.
Agora pergunto eu: e você, confia?
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