segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Saúde: A bola da vez é Taquari no Rio Grande do Sul
Homem atropelado espera durante 12 horas por transferência para UTI
O caso de um paciente que precisava ser atendido numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e teve de esperar 12 horas para ser transferido em Taquari, Rio Grande do Sul, evidencia o caos em que se encontra a saúde pública no Brasil.
O paciente foi atendido no Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev) de Taquari. O médico plantonista e outros profissionais estabilizaram o sangramento e constataram que ele deveria ser transferido para uma UTI. A equipe telefonou para a central de leitos do estado do Rio Grande do Sul, mas não havia nenhum leito disponível em UTI na região. O pai do paciente tentou até mesmo uma internação particular, no Hospital da Unimed, em Montenegro - RS, mas lá também não havia vaga na UTI.
Os familiares do paciente procuraram um advogado, que terminou ajuizando uma medida urgente, postulando a internação do paciente no Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre. A juíza plantonista do foro de Taquari, Annie Kier Herynkopf, apreciou o pedido e o deferiu, determinando a internação no hospital indicado como referência para o atendimento necessário ao caso.
Segundo o ginecologista e obstetra Luís Lopes (médico que atendeu o paciente), o tratamento no Isev é imediato. “Nós tiramos o paciente do risco de vida e aguardamos pela internação numa UTI. Quando o atendimento é particular, ainda se dá um jeito, mas, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é muito difícil. Nesse caso, só se conseguiu via judicial, na base do canetaço”, disse. Lopes conta que o paciente estava em choque quando chegou ao hospital e perdia muito sangue, mas que a situação foi estabilizada.
“Temos no hospital uma estrutura mínima. É uma sala bem equipada, mas apenas para atendimentos de urgência e emergência”, afirma o médico, acrescentando que, enquanto o número de leitos hospitalares pelo SUS não for aumentado, a situação não será alterada.
O diretor administrativo do Isev, Fabiano Pereira Voltz, diz que a falta de leitos em UTIs é comum em todo o Estado e cita um caso ocorrido recentemente no Hospital Ouro Branco, em Teutônia - RS, em que não se conseguiu a transferência do paciente nem mesmo com ordem judicial. “Esse quadro tende a continuar. Acontece porque os leitos, principalmente de traumatologia, estão restritos”.
Já o coordenador da Central de Regulação Hospitalar, Eduardo Elsade, diz que a falta de leitos em UTIs não é comum no Rio Grande do Sul, e que o problema se verifica, eventualmente, em algumas regiões. “Na grande maioria dos casos, o Estado consegue vagas para tratamento em UTIs”, afirma. A Central de Regulação é vinculada à Secretaria Estadual de Saúde e controla o deslocamento de pacientes de um hospital a outro, em todo o Estado.
Conforme o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), existem no Rio Grande do Sul 1.372 leitos em UTI para adultos, sendo 867 pelo SUS.
De acordo com a juíza Annie Kier Herynkopf, “a intervenção do Poder Judiciário nas internações hospitalares é excepcional e somente ocorre quando o usuário não obteve êxito junto aos governos municipal, estadual e federal, que são os gestores do SUS". E acrescenta: "o Judiciário é chamado a intervir, para assegurar o direito à vida e à saúde, quando o governo não atende às necessidades do usuário”.
A juíza classifica como “muito triste e angustiante” a situação atual da saúde pública no Brasil. “A prestação de serviço de saúde acaba se tornando caótica e insuficiente, não havendo, ao menos a meu ver, uma solução atual para o problema, diante da estrutura que temos”, finaliza.
Fatos como o ocorrido em Taquari acontecem em todo o Brasil, pois as cidades pequenas dependem de hospitais de alta complexidade, que estão superlotados.
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