quarta-feira, 29 de junho de 2016

Governo federal analisa cadastros do Bolsa Família e constata benefícios com indícios de irregularidades no programa



Diante dos números astronômicos da corrupção investigada pela Operação Lava-Jato, as fraudes apuradas no programa Bolsa Família podem parecer insignificantes. Mas não são. A tolerância com os pequenos delitos é que forma a sensação de impunidade e a cultura do jeitinho, que acabam resultando no desapreço à ética e à justiça. Quem utiliza identidade de mortos para receber recursos indevidos está sendo tão desonesto quanto os grandes ladrões de colarinho branco, ainda que os danos econômicos à sociedade sejam inquestionavelmente menores. Mas o valor moral subtraído é o mesmo, ainda que caibam atenuantes em relação a eventuais necessidades de um e de outro.
Nesse sentido, é muito bem-vinda a revisão anunciada pelo ministro do Desenvolvimento Social e Agrário do governo interino no principal programa de distribuição de renda do país. Como bem diz o ministro Osmar Terra, é impositivo aperfeiçoar os mecanismos de controle sobre os beneficiários do Bolsa Família para que haja verdadeiramente justiça. Segundo ele, a fórmula atual permite fraudes porque ainda se baseia num mecanismo de "autodeclaração" de renda, ficando a cargo do próprio beneficiário informar ao centro de assistência social municipal o que recebe. Não se trata, aqui, de simplesmente desconfiar das pessoas, mas sim de garantir a todos um sistema de avaliação confiável e seguro. Quando uma pessoa utiliza indevidamente recursos a que não tem direito está reduzindo o bolo a ser distribuído a quem efetivamente precisa.
Ninguém mais questiona o significado do Bolsa Família e a sua importância para assegurar vida digna a uma parcela expressiva da população que vive abaixo da linha de pobreza. A transparência é a principal arma para inibir fraudes neste e em qualquer outro programa que faça uso de recursos públicos. Por isso, é essencial que os cidadãos acompanhem atentamente a revisão proposta pelo ministro, para que os cortes de beneficiários irregulares não sejam utilizados como instrumento político num momento em que a disputa pelo poder continua acirrada.









Brasil descumpre metas do Plano Nacional de Educação






O país não cumpriu nenhuma das ações do PNE (Plano Nacional de Educação) com prazos previstos para este ano. Entre os atrasos, estão metas de inclusão escolar e definições de regras de investimento para a área.
Aprovado em 2014, o PNE traçou 20 metas para a educação a serem alcançadas em dez anos. Há uma série de prazos parciais de atendimento. O plano completou dois anos no último dia 24 com atraso nos 14 dispositivos previstos para serem concluídos neste segundo ano.
Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, os cortes de recursos e falta de vontade política emperraram o plano. "O PNE é uma lei que depende de desempenho da trajetória. Se não implementa no início, não chega até o fim." Cara diz que o ponto que mais deve atrapalhar é a não regulamentação do Sistema Nacional de Educação.
O sistema vai reorganizar o regime de colaboração entre União, Estados e municípios, redefinindo os mecanismos de financiamento — com maior protagonismo federal. "Sem ele, as metas do plano são inviáveis", diz Cara.
O sistema inclui a implementação de um mecanismo de financiamento que traduz em valores quanto o Brasil precisa investir, por aluno, para garantir um padrão mínimo de qualidade. O cálculo inicial desse dispositivo, chamado CAQi (Custo-Aluno Qualidade inicial), deveria estar pronto o dia 24.
O MEC (Ministério da Educação) não informou quando planeja finalizar o Sistema Nacional de Educação. Com relação ao CAQi, afirmou que realiza "análise cuidadosa do orçamento".

UNIVERSALIZAÇÃO — Pelo PNE, o país deveria ter universalizado a escolarização entre crianças de 4 a 5 anos (pré-escola) e jovens de 15 a 17 (ensino médio). O país tem 600 mil crianças na idade da pré-escola fora da escola, segundo dados de 2014 — os mais recentes disponíveis. São 10,9% do total de crianças dessa idade. Entre os jovens que deveriam estar no ensino médio, 17,4% estão fora da escola. São 1,7 milhão de jovens.
O Brasil registrou queda de matrículas nessas duas etapas entre 2014 e 2015. Na educação infantil, o gargalo é a falta de vagas.
Já no ensino médio, é o abandono de jovens para trabalhar. Matheus Fernandes, 17, largou os estudos no início de 2016, quando ingressaria no 3º ano do médio. "Foi uma decisão que tive que tomar. Para trabalhar", diz ele, funcionário de um restaurante na zona leste de São Paulo. "Ano que vem quero voltar."
Além do PNE, uma emenda constitucional prevê a obrigatoriedade de matrícula para as crianças entre 4 e 17 anos até o fim deste ano. Outra meta não atendida é a elevação da taxa de alfabetização entre adultos para 93,5%. O dado mais recente aponta para 91,7%.
A criação de uma política nacional de formação de professores e a publicação de estudos sobre o acompanhamento das metas do PNE também não avançaram. O MEC afirmou que está desenvolvendo um programa de formação com vistas à implementação da nova Base Nacional Curricular. A própria base deveria ter sido entregue no dia 24.
A divulgação dos indicadores de monitoramento das metas do PNE ocorreria nesta semana, segundo o MEC. A pasta ainda prometeu "ampliar" os recursos para a pré-escola, sem detalhar valores. O ministério afirma que a reforma do ensino médio é prioridade.
Para Anna Helena Altenfelder, do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação), o governo precisa de um planejamento para cumprir o que está atrasado. "O PNE traduz anseios de muitos setores da sociedade e metas factíveis importantes."




Alvo da Operação Custo Brasil bancou R$ 32 mil em loft para Gleisi — investigação mostra que advogado Guilherme Gonçalves teria pago despesas eleitorais da senadora na campanha de 2010 e repassado propinas para ex-ministro Paulo Bernardo, marido da petista



O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (à esq.), e a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann.


A Operação Custo Brasil indica que o advogado Guilherme de Salles Gonçalves, suposto repassador de propinas para o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma), bancou R$ 32 mil referentes a custos de um loft alugado em Brasília para uso da senadora Gleisi Hoffmann durante a campanha de 2010.
Gonçalves, preso pela Polícia Federal domingo, 26.jun.2016, no Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos/Cumbica, quando chegou de uma viagem a Portugal, teria usado seu escritório em Curitiba para bancar despesas de caráter eleitoral da petista.
Gleisi é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal. Ela detém foro privilegiado perante a Corte.
Na segunda-feira, 27.jun.2016, Gonçalves foi ouvido em audiência de custódia pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal, que deflagrou a Custo Brasil.
Além do advogado tiveram a prisão decretada outros dez alvos da operação que investiga o esquema Consist, entre eles Paulo Bernardo.
O esquema Consist é um suposto desvio de R$ 100 milhões a partir de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, na gestão do marido de Gleisi.
Parte daquele montante, em torno de R$ 7 milhões, teria sido repassada para o escritório de Gonçalves, ligado ao PT — do escritório teria saído a propina para Paulo Bernardo, no mesmo valor.
Em agosto de 2015, a Operação Pixuleco II, desdobramento da Lava Jato, fez buscas no escritório e apreendeu documentos que indicam o elo de Gonçalves e campanhas eleitorais do partido e de Gleisi em 2010.
Nesta segunda-feira, 27.jun.2016, após o depoimento de Gonçalves, a defesa do ex-ministro pediu reconsideração da ordem de prisão preventiva. O juiz federal assinalou que a audiência ‘não tem por objetivo produção de prova, conforme esclarecido a todos os investigados’.
Mesmo assim, o próprio Guilherme Gonçalves ‘decidiu falar sobre uma série de questões referentes ao caso concreto, negando basicamente as suspeitas e indícios que recaem sobre ele’.
O juiz anotou que ainda não foram apresentadas provas documentais, como, por exemplo, uma perícia que demonstraria que os valores da Consist ficaram com o advogado.
“Contudo, o próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para ‘PB’, que seria Paulo Bernardo”, assinalou o juiz na ata da audiência de custódia. “Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais.”
O juiz federal destacou. “Estamos diante, portanto, de um fato que pode ter múltiplas interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo Bernardo retirado do Fundo Consist. A possível justificativa não retira do fato, máxime quando aparentemente admitido pelo investigado Guilherme de Salles Gonçalves, o seu caráter indiciário.Desta forma, os indícios, por enquanto, subsistem.”
Na audiência, Gonçalves, espontaneamente, disse que teria concordado com uma redução no valor de seus honorários.”Não caberia ao Juízo formular perguntas nesta fase de audiência de custódia, porém não poderia restringir a fala do investigado, máxime quando ele a considera útil à sua defesa. Assim, posta essa premissa, a princípio, pareceu um pouco estranho ao Juízo que o investigado estivesse prestando um serviço absolutamente regular e, de inopino, concordasse com a redução dos valores, máxime quando os indícios por ora demonstram que a redução dos valores se deu justamente por ocasião da saída de Paulo Bernardo do Ministério do Planejamento.”
“Nem se diga que a versão de Guilherme de Salles Gonçalves já confirma plenamente a de Paulo Bernardo. Cumpre notar que esta pode até ser a conclusão após a instrução. Porém, ao menos por enquanto entendo que os indícios de materialidade e autoria delitiva subsistem nos autos, bem como os requisitos cautelares da prisão preventiva dantes mencionados”, ressaltou o juiz Paulo Bueno de Azevedo.
O magistrado anotou que Guilherme Gonçalves mencionou encontro com Paulo Bernardo na Polícia Federal. “As negativas dos fatos por ambos é algo natural, diante dos indícios que apontam que eles atuaram conjuntamente no alegado esquema.”
“Após o depoimento de Guilherme de Salles Gonçalves, não vislumbro, ao menos por ora, razões para rever a decisão de manutenção da prisão preventiva de Paulo Bernardo. Portanto, mantenho a prisão preventiva de Paulo Bernardo, sem prejuízo de análise de eventual petição escrita a ser apresentada pela defesa técnica”, assinalou Azevedo.
O juiz pediu ao Ministério Público Federal manifestação sobre os pedidos de revogação da prisão preventiva apresentados por escrito e sobre os pedidos de desbloqueio de valores dos alvos da Operação Custo Brasil.

A DEFESA DE PAULO BERNARDO — A defesa do ex-ministro, em nota, disse que ‘o depoimento de Guilherme Gonçalves deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist’.

A INTEGRA DA NOTA DOS ADVOGADOS DO EX-MINISTRO
“O depoimento prestado pelo sr. Guilherme Gonçalves na data de hoje deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist. Ficaram claras a origem dos pagamentos recebidos pelo Sr. Guilherme Gonçalves e o destino por ele dado a esses valores, sem qualquer envolvimento de Paulo Bernardo.
Com isso, ficou comprovado, de maneira ainda mais evidente, que não há razões que justifiquem a prisão preventiva de Paulo Bernardo, já que, além de ausentes os requisitos técnicos da medida extrema, também não há qualquer indício de autoria com relação a ele.
O magistrado, após ouvir os esclarecimentos do Sr. Guilherme Gonçalves, informou que analisará novamente se ainda vislumbra justificativa para manter a prisão de Paulo Bernardo.”
Rodrigo Mudrovitsch, Juliano Breda e Verônica Sterman.

A SENADORA — Na segunda-feira, 27.jun.2016, a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) se manifestou da tribuna do plenário do Senado e criticou a ação da Polícia Federal, que na quinta-feira, 23.jun.2016, prendeu seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.
A petista classificou a prisão de Bernardo como ‘injusta, ilegal, sem fatos, sem provas e sem processo’, com o objetivo de humilhar sua família.
“Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender meu marido de uma prisão”, declarou Gleisi, com a voz embargada. “Mas aqui estou para apontar uma injustiça, sentindo na própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas atingidas pelo abuso do poder legal e policial. Aqui estou, serena e humilde, mas não humilhada”, continuou. Gleisi disse que a prisão foi um ‘despropósito’, pois Bernardo não apresentava risco de fuga e se colocou à disposição da Justiça diversas vezes para esclarecer os fatos.
A senadora acusou a PF de cometer excessos com o intuito de ‘espetacularizar’ o processo. Na quinta-feira, 23.jun.2016, agentes da PF fizeram buscas no apartamento funcional em que a petista mora com Paulo Bernardo, em Brasília. O alvo foi exclusivamente o ex-ministro. A PF não apreendeu documentos da senadora porque tal medida só poderia ser executada por ordem do Supremo Tribunal Federal.
Ainda na tribuna do Senado, na segunda-feira, 27.jun.2016, Gleisi disse que a Justiça atua de maneira seletiva e promove ‘carnavais midiáticos contra alguns políticos’. “A operação montada para a busca e apreensão em nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram usados, força policial armada, muitos carros. Para que isso, chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso. Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma.”




Governo desiste de fixar prazo para apresentar
reforma da Previdência



Sem consenso em mais uma rodada de conversas com as centrais sindicais na terça-feira (28.jun.2016), o governo interino de Michel Temer decidiu formar um novo grupo de trabalho para discutir a reforma de Previdência e deixou de se comprometer com um prazo para apresentar uma proposta ao Congresso, falando apenas em aprovação ainda este ano.
Segundo o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), agora a meta do governo é "ter a reforma da Previdência aprovada este ano" e, com menos pessoas envolvidas na discussão, afirma, é possível trabalhar "com mais celeridade".
A ideia inicial do Planalto era formular uma proposta de consenso com as centrais até o fim de junho, mas a dificuldade de conseguir unidade em torno das principais medidas, como adoção da idade mínima para a aposentadoria, por exemplo, fez com que o governo adiasse o prazo.
Os únicos pontos acordados foram a revisão das regras de isenção para entidades filantrópicas, que já havia sido anunciada pelo governo Temer, e a aceleração da venda de imóveis do INSS, que deve render R$ 1,5 bilhão, o que representa cerca de 1% do déficit previsto para 2017, de mais de R$ 150 bilhões. A primeira medida ainda precisa de aprovação do Congresso.
O novo grupo, que começa a se reunir na próxima semana, vai usar propostas das confederações patronais e também projetos que já estão na Câmara dos Deputados como base para as discussões.
Ainda de acordo com o ministro, o "pequeno grupo", o terceiro que vai discutir a questão da Previdência este ano, terá um representante do governo, um dos empregadores — que ainda não está definido — e um do Dieese, entidade que vai representar os trabalhadores.
Após participar da reunião com o governo e representantes dos empregadores, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) afirmou que "a solução" para chegar a um consenso foi "diminuir o grupo".
"Na reunião teve vários dissensos, continuamos achando que o governo tem que cumprir a primeira etapa que propusemos, que não foi cumprida", afirmou Paulinho.
O governo não descartou a possibilidade de reduzir o benefício fiscal para o setor do agronegócio, uma demanda dessa "primeira etapa" das centrais, embora a questão não tenha sido discutida na reunião de terça-feira (28.jun.2016).
O deputado reforçou mais uma vez que as centrais não concordam com a fixação de uma idade mínima para a aposentadoria, medida considerada essencial para o governo Temer.




Transpetro cancela contratos para construção de navios



Navio José Alencar, da Transpetro


A Transpetro, subsidiária da Petrobras para a área de transportes, confirmou na terça-feira (28.jun.2016) o cancelamento de contratos assinados com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) para a construção de sete navios, que custariam US$ 1,223 bilhão.
Os contratos fazem parte do programa de renovação da frota coordenado pelo ex-presidente Sergio Machado, delator da Operação Lava Jato.
Citados pelo ex-presidente da Transpetro como fonte de recursos ilegais para políticos, estaleiros contratados pelo programa de renovação de frota da companhia passam por graves dificuldades financeiras.
Em nota oficial divulgada na terça-feira (28.jun.2016), a Transpetro diz que foram cancelados os contratos para a construção de sete navios de posicionamento dinâmico, que seriam utilizados para o escoamento de petróleo das plataformas em alto-mar.
Foram mantidos os contratos para a construção de outras oito embarcações. Três delas já estão com obras iniciadas e outras cinco começarão em breve, informou a empresa. O atual cronograma prevê a entrega das embarcações até o fim de 2019.
A Transpetro informou que o acordo encerra todas as pendências contratuais existentes com o estaleiro, que está atrasado com relação ao cronograma original, que previa a entrega de todas as 22 embarcações contratadas até 2016.
O Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da companhia contratou a construção de 47 embarcações. Deste total, 14 foram já entregues e 13 tiveram os contratos cancelados por dificuldades durante as obras. Com o novo cancelamento, o número total de embarcações do programa cai para 27.
A empresa diz que estuda alternativas para retomar a construção de três navios que estão inacabados no cais do estaleiro Mauá, em Niterói (RJ). Os contratos foram cancelados depois que o estaleiro fechou as portas alegando falta de dinheiro para concluir as obras. No início de julho, a suspensão das obras completa um ano.
Controlado pelas construtoras Camargo Correa e Queiroz Galvão, o EAS vem acumulando prejuízos. Em 2015, foram R$ 200,8 milhões.
Atualmente, opera com cerca de 3.000 empregados — quase um quarto do pico dos 11 mil do início da década.
Outros que têm encomendas são o Vard Promar e o Rio Tietê contratado para construir 20 comboios hidroviários para transportar etanol.
O Vard Promar entregou três navios para transporte de gás e ainda tem cinco em obras — dois contratos foram cancelados. Seu controlador, o grupo italiano Fincantieri, disse no balanço de 2015 que seus resultados foram "severamente afetados pelos desafios operacionais" no Brasil.
O Estaleiro Rio Tietê entregou três comboios hidroviários, que são compostos por quatro barcaças e um empurrador, e finaliza o quarto. As obras dos 16 restantes foram suspensas até outubro, quando as empresas vão rediscutir os cronogramas.
Em seu balanço do ano passado, a subsidiária da Petrobras informa que já gastou R$ 5,5 bilhões com a compra dos navios.
As encomendas motivaram abertura de três estaleiros no Brasil: Atlântico Sul (EAS) e Vard Promar, no Recife, e Rio Tietê, em Araçatuba (SP).





Operação Boca Livre: Houve falha de fiscalização por parte do Ministério da Cultura






Integrantes do Ministério da Cultura podem ter facilitado o esquema de fraudes à Lei Rouanet, segundo a Polícia Federal. A Operação Boca Livre, que investiga o desvio de R$ 180 milhões de recursos federais em projetos culturais, foi deflagrada na manhã de terça-feira (28.jun.2016).
"Houve no mínimo uma falha de fiscalização por parte do MinC", disse Rodrigo de Campos Costa, delegado regional de combate ao crime crime organizado, durante coletiva realizada na manhã de terça-feira (28.jun.2016) na Superintendência da Lapa da Polícia Federal, na zona oeste de São Paulo.
Policiais federais e servidores da Controladoria Geral da União cumprem 14 mandados de prisão temporária e 37 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Eles foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal em São Paulo.
Entre os alvos de busca está o Grupo Bellini Cultural, que atua há 20 anos no mercado e aparece como o principal operador do esquema.
De acordo com investigadores, Antonio Carlos Belini Amorim usou recursos públicos para fins pessoas, entre eles o de para pagar despesas do casamento de um familiar. A festa de luxo aconteceu na praia Jurerê Internacional, em Florianópolis. Ele e a mulher foram detidos na operação, que também apreendeu uma BMW na casa do casal.
Também são citados o escritório de advocacia Demarest e as empresas Scania, KPMG, Roldão, Intermédica, Laboratório Cristalia, Lojas Cem, Cecil e Nycomed Produtos Farmacêuticos — essas empresas teriam sido as patrocinadoras dos projetos que são investigados no esquema comandado pela Bellini.
Segundo a Polícia Federal, o grupo fraudava a Rouanet desde 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Na época, o ministro era Francisco Weffort. Desde então, a pasta foi ocupada por outros cinco nomes: Gilberto Gil, Juca Ferreira, Ana de Hollanda, Marta Suplicy e Marcelo Calero
Todos os 14 mandados de prisão expedidos na manhã de terça-feira (28.jun.2016) foram feitos contra integrantes do grupo Bellini. Já os 37 mandados de busca e apreensão de documentos abarcaram também o Ministério da Cultura.
Com a investigação sob sigilo, a Polícia Federal sequer citou os nomes dos envolvidos no esquema ou das empresas durante a coletiva de imprensa. Quando questionado sobre qual projeto cultural embasou o casamento, por exemplo, o delegado disse que não poderia informar.

COMO O GRUPO ATUAVA — Segundo as investigações da Polícia Federal, o grupo Bellini Cultural propunha projetos culturais junto ao Ministério da Cultura e, com a autorização para captar recursos, procurava a iniciativa privada. As fraudes, então, ocorriam de diversas maneiras, como a inexecução de projetos, superfaturamento, apresentação de notas fiscais relativas a serviços/produtos fictícios, projetos simulados e duplicados, além da promoção de contrapartidas ilícitas às incentivadoras".
A investigação constatou que eventos corporativos, shows com artistas famosos em festas privadas para grandes empresas, livros institucionais, além do casamento, foram custeados com recursos públicos.
O grupo teria chegado a produzir, por exemplo, livros com duas capas diferentes (uma para o patrocinador e outra para a prestação de contas), entre outros desvios.
Boa parte dos projetos que receberam autorização do MinC para captar recursos tinha valor muito aquém do que o efetivamente prestado em notas fiscais. Já as empresas patrocinadoras ganhavam duplamente: com a dedução fiscal e com eventuais contrapartidas oferecidas pelo grupo Bellini.
Segundo a Polícia Federal, as investigações prosseguirão para apurar a suposta participação de membros do Ministério da Cultura, além de outros delitos que possam ter sido cometidos dentro desse mesmo esquema.
Pouco antes da coletiva de imprensa, o ministro da Justiça do governo interino, Alexandre de Moraes, que estava no local para falar de novo laboratório da PF, se disse indignado com o esquema.
"Não é possível que tanto dinheiro assim num largo tempo no país tenha sido desviado sem que os mecanismos internos tivessem detectado isso."

SEM FISCALIZAÇÃO — A Polícia Federal investiga fraudes em 250 contratos sobre a Lei Rouanet que não passaram pela fiscalização do Ministério da Cultura.
A Operação Boca Livre mostra que até dinheiro liberado oficialmente para eventos infantis e difusão de atividades indígenas foi desviado para custear gastos com a contratação de orquestras para festas de fim de ano de empresas.
“Essas distorções foram identificadas ao longo da investigação, isso está muito bem materializado nos autos”, declarou o delegado Rodrigo de Campos Costa, da Delegacia Regional da PF de Combate e Investigação contra o Crime Organizado.
A PF identificou fraudes ‘grosseiras’ — projetos duplicados, copiados. “Beira mais de 250 projetos maculados por irregularidades”, disse o delegado. “A investigação mostrou que eles não foram fiscalizados. A razão vamos determinar nessa segunda fase do inquérito, a partir da análise do material apreendido e dos depoimentos.”
A Operação Boca Livre indica que o grupo que supostamente promovia os eventos captava os recursos ‘com facilitações’ no âmbito do Ministério da Cultura.
“O Ministério não só propiciava as condições ideais para a aprovação desses projetos forjados como também exercia uma fiscalização pífia ou nenhuma de uma forma dolosa para que esses projetos plagiados, copiados, repetidos, não fossem identificados como tais”, esclareceu a procuradora da República Karen Lousie Kahn, que integra a força-tarefa da Operação Boca Livre.
A procuradora reiterou que as empresas ‘se beneficiavam com a isenção, além do superfaturamento’.

GRUPO BELLINI — Principal alvo da operação Boca Livre, deflagrada na manhã de terça-feira (28.jun.2016) pela Polícia Federal, o Grupo Bellini Cultural já captou R$ 80,6 milhões via Lei Rouanet. A ação investiga desvio de R$ 180 milhões de recursos federais em projetos culturais aprovados junto ao Ministério da Cultura com benefícios de isenção fiscal.
A reportagem teve acesso a uma lista parcial com 88 projetos que a Polícia Federal deve analisar. Desses, 23 foram feitos pelas cinco empresas do grupo. Os valores captados somam R$ 11,9 milhões.
Irregularidades nos projetos realizados pelas empresas de Antônio Carlos Bellini Amorim já eram conhecidas pelo MinC há cinco anos, de acordo com despacho do MinC, datado de 30 de julho de 2015.
Em 2011, segundo o documento, o Ministério Público Federal encaminhou ao ministério denúncias de uso irregular de verba pública contra o empresário. A partir disso, o MinC constatou que, entre as práticas irregulares, estão a apresentação de fotos e documentos fraudados para comprovar realização de evento ou produção de livro. Em 2013, o ministério inabilitou as empresas, que não mais poderiam captar pela Lei Rouanet.
Bellini tentou acordo com o MinC entre fevereiro e abril de 2015: propôs realizar os projetos para os quais recebeu valores da Rouanet e, em contrapartida, poderia voltar a receber verbas de isenção fiscal.
Em julho do ano passado, a Advocacia-Geral da União sugeriu o indeferimento do acordo. O MinC acatou esta decisão.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DE PROJETOS DA ROUANET — O Ministério da Cultura precisará de pouco menos de 19 anos para terminar a análise de prestações de contas de projetos aprovados na Rouanet apenas nos 20 primeiros anos de existência da lei.
É o que sugere um relatório de gestão do MinC preparado na véspera da saída do então ministro Juca Ferreira, em maio. De acordo com o documento interno a que a reportagem teve acesso, há 12.109 projetos no passivo da Rouanet.
São propostas aprovadas pelo MinC entre 1992 e 2011 e que não tiveram suas contas examinadas naquele período. Do total, 8.007 (66,12%) ainda não foram analisadas, enquanto outras 2.642 (21,82%) seguem em análise, sem conclusão até o momento.
O problema do passivo foi constatado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em 2011. O órgão apontou, entre outras falhas, volume de aprovação de projetos incompatível com a capacidade do ministério e alto estoque de processos sem análise conclusiva. Por isso, determinou que fosse criada uma força-tarefa para eliminar o passivo.
O MinC, em 2013, contratou temporariamente 114 servidores para analisar os documentos. Segundo os cálculos do ministério na época, eles seriam capazes de concluir 3.660 processos por ano. Entretanto, o documento mostra que, nos 132 primeiros dias de 2016, somente 156 dos 8.163 projetos que fecharam 2015 sem fiscalização mudaram de status para "em análise" ou "arquivados".
Isso significa, em média, condução ou conclusão de 1,18 prestação de conta por dia. Em anos anteriores, as médias diárias foram de 0,49 processo (2013), 1,4 processo (2014) e 2,3 processos (2015).
Na toada atual, serão necessários 18 anos e sete meses para encerrar o trabalho.
Segundo o Salic (Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura, gerido pelo MinC), no período a que se refere o passivo — entre os anos de 1992 e 2011 —, foram aprovados na Lei Rouanet 34.521 projetos, cujos valores de captação somados totalizam R$ 11,7 bilhões.
O MinC não respondeu a reportagem sobre o valor do passivo em reais. Por meio de sua assessoria, afirmou apenas que "o número de processos analisados não reflete o rendimento da equipe de pareceristas, pois processos que já estavam arquivados podem ser reabertos, caso solicitado pelos órgãos de controle ou por outros motivos que ensejem uma nova análise dos autos".
Em nota da assessoria, o MinC ressaltou ainda que uma portaria publicada neste ano atualizou o sistema de prestação de contas dos projetos incentivados, "sem prejuízo da transparência e do rigor da fiscalização exercido pelos órgãos de controle e pelo próprio Ministério da Cultura".
A portaria em questão amplia o limite de dispensa de análise de prestações de contas estabelecida por outra, publicada dois anos antes.
Na portaria de 2014, instituiu-se que, para facilitar o trabalho, projetos com captação até R$ 350 mil estavam dispensados de análise financeira, desde que não existisse indício de aplicação irregular de verbas por parte dos proponentes, demanda do controle externo ou interno, ou denúncia junto ao MinC.
Em 2016, a nova portaria ampliou o limite da dispensa para R$ 600 mil, além de instituir análise simplificada de prestações de contas de projetos com captação entre R$ 600 mil e R$ 2 milhões.
A reportagem questionou o MinC sobre quantos projetos se beneficiariam com o aumento no teto do valor de dispensa, bem como os critérios da análise simplificada. O ministério não respondeu à solicitação.

O CASAMENTO INVESTIGADO — Uma festa luxuosa para 120 convidados, na badalada praia de Jurerê Internacional (SC), com show de sertanejo famoso foi paga com recursos públicos da Lei Rouanet, segundo aponta investigação da Polícia Federal.
O casamento de Felipe Amorim e Caroline Monteiro, apurado na operação Boca Livre, deflagrada na terça-feira (28.jun.2016), aconteceu à beira-mar em 22 de abril no 300 Cosmo Beach Club, que, na internet, é descrito como uma "balada chique em ambiente contemporâneo com cozinha fina". O local cobra em média R$ 300 por convidado no aluguel para festas.
A atração musical foi o sertanejo Leo Rodriguez, que interpreta hits como "Bara Bará Bere Berê", "Vai No Cavalinho" e "Gordinho da Saveiro". Ele cobra entre R$ 50 mil e R$ 70 mil para cantar nesse tipo de evento. O empresário do músico afirmou que não tinha conhecimento sobre a forma como a festa foi financiada, e que o contrato foi firmado como em qualquer outro evento.
Imagens publicadas por convidados em redes sociais mostram comemorações que antecederam a festa e as preparações dos noivos e padrinhos para o matrimônio.
De acordo com a investigação da PF, o casal, que mora em São Paulo, tem parentesco com Antonio Carlos Bellini Amorim, detido na operação Boca Livre, que investiga desvio de R$ 180 milhões de recursos federais em projetos culturais aprovados junto ao Ministério da Cultura com benefícios de isenção fiscal, previstos na Lei Rouanet.
Um vídeo do casamento foi anexado ao inquérito. A polícia não detalhou como o recurso da Lei Rouanet foi usado para pagar a festa.


ENTENDA A LEI ROUANET — O que é: Sancionada pelo presidente Fernando Collor em 23 de dezembro de 1991, a lei 8.313 instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura, que implementou mecanismos de captação de recursos para o setor cultural. Um deles é o incentivo à cultura, ou mecenato (que popularmente ficou conhecido como Lei Rouanet).
Como funciona: O governo federal permite que empresas e pessoas físicas descontem do Imposto de Renda valores diretamente repassados a iniciativas culturais, como produção de livros, preservação de patrimônios históricos, festivais de música, peças de teatro, espetáculos de circo, programas audiovisuais etc. Ou seja, em vez de pagar o imposto da totalidade, você reverte parte dele a um projeto cultural.

OUTRO LADO
O MINISTÉRIO DA CULTURA:
“As investigações para apuração de utilização fraudulenta da Lei Rouanet têm o apoio integral do Ministério da Cultura (MinC), que se coloca à disposição para contribuir com todas as iniciativas no sentido de assegurar que a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se presta, qual seja, fomentar a produção cultural do País.”
O ESCRITÓRIO DEMAREST:
"O escritório Demarest Advogados vem a público prestar esclarecimento sobre a “Operação Boca Livre” da Polícia Federal, que esteve em seu escritório em São Paulo.
O objetivo da visita foi a solicitação de documentos e informações relacionados a empresas de marketing de eventos que prestaram serviços ao escritório no âmbito da Lei Rouanet. Tais empresas são alvo da operação. O escritório enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade, e informa que colaborou e continuará a colaborar com a investigação."
A KPMG:
“A KPMG no Brasil informa que não é objeto de investigação na denominada Operação Boca Livre conduzida pela Polícia Federal. O fato da PF comparecer ao nosso escritório se deu pelo cumprimento de diligência para coletar documentos referentes a contratos com empresas de publicidade e propaganda (alvos da investigação) e que prestaram serviços para a KPMG no apoio a projetos culturais.
A KPMG, certa de que não cometeu qualquer ato ilícito, está e continuará a contribuir com as autoridades de maneira transparente para o fornecimento das informações necessárias.”
A SCANIA:
Nota à imprensa A Scania informa que tomou conhecimento hoje pela manhã da operação Boca Livre deflagrada pela Polícia Federal. Esclarece que não tem mais informações, mas está colaborando integralmente com a investigação e à disposição das autoridades.
O LABORATÓRIO CRISTÁLIA:
“O Laboratório Cristália informa aos seus clientes, colaboradores e à população em geral que recebeu com surpresa a busca em suas dependências de documentação de agente cultural que lhe prestou serviço de fomento à cultura por meio da Lei Rouanet. Salienta ainda que todos os projetos inscritos na Lei Rouanet foram apresentados na forma da lei pelos agentes culturais como aprovados pelo Ministério da Cultura. A Companhia reforça que está colaborando com a investigação, bem como executa as melhores práticas de governança e ética em suas operações administrativas e comerciais.”
A INTERMÉDICA:
Nota à imprensa
O Grupo NotreDame Intermédica vem a público prestar esclarecimento sobre a “Operação Boca Livre” da Polícia Federal (PF), que nesta manhã esteve em sua Sede, em São Paulo.
O comparecimento da PF se deu pelo cumprimento de diligência para coleta de documentos e informações relacionados a empresas terceiras de marketing de eventos (alvos da investigação) que prestaram serviços ao Grupo NotreDame Intermédica no âmbito da Lei Rouanet.
O Grupo NotreDame Intermédica informa que não é objeto de investigação na denominada “Operação Boca Livre” conduzida pela Polícia Federal e enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade. Certa de que não cometeu qualquer ato ilícito, informa, ainda, que colaborou e continuará a contribuir com as autoridades na investigação.
AS LOJAS CEM:
"A Polícia Federal esteve na Lojas CEM solicitando documentos e informações sobre empresas que lhe prestaram serviços no âmbito da Lei Rouanet.
Prontamente a empresa deu todo o apoio ao bom andamento da diligência e comprometeu-se a prestar toda a colaboração necessária para o esclarecimento dos fatos.
Informamos que os projetos culturais nos quais investimos foram feitos, de nossa parte, dentro da mais absoluta regularidade. Como sempre, a postura da Lojas CEM com todas as pessoas e instituições com as quais se relaciona é de total transparência e completa lisura."
A ROLDÃO:
Nota oficial
A companhia esclarece que contratou a Bellini Eventos Culturais para a realização de dois projetos culturais e que, na manhã de hoje, foi requerida pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Boca Livre, a apresentar a documentação referente a esses serviços. A empresa informa que não é alvo da operação e que já entregou à força-tarefa todos os documentos solicitados. Por fim, reforça que está colaborando com a investigação, à disposição de todas as autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos e que não admite qualquer tipo de irregularidade ou ilegalidade em suas atuações.




terça-feira, 28 de junho de 2016

Butantan fecha parceria com Estados Unidos para desenvolver vacina contra o vírus da zika



O Instituto Butantan fechou, na sexta-feira (24.jun.2016), uma parceria com os Estados Unidos e com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus da zika.
O centro de pesquisa brasileiro deve receber US$ 3 milhões da Autoridade de Desenvolvimento e Pesquisa Biomédica Avançada (Barda, na sigla em inglês), órgão ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo americano (HHS), para o desenvolvimento de uma vacina de zika com vírus inativado. O HHS é o órgão equivalente ao Ministério da Saúde dos Estados Unidos.
O investimento faz parte de um acordo já existente entre a Barda e a OMS. Além dos US$ 3 milhões provenientes do órgão americano, a OMS também destinará doações de outros países e organizações privadas para o expandir a capacidade de produção de vacinas do Instituto Butantan.
Com o dinheiro, o Butantan poderá comprar equipamentos de laboratório, reagentes, linhagens de células e outros recursos necessários para o desenvolvimento e produção da vacina de zika. A parceria também inclui a cooperação técnica entre pesquisadores da Barda e do Butantan.
A expectativa é que a vacina esteja pronta para testes em humanos no primeiro semestre de 2017.

Vacina de vírus inativado — Segundo o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, o desenvolvimento da vacina de vírus inativado contra zika já está em desenvolvimento há alguns meses. Pesquisadores do centro já trabalharam no processo de cultura, purificação e inativação do vírus em laboratório. Na fase atual, roedores devem começar a receber os vírus inativados.
O Butantan tem ainda outras três iniciativas de desenvolvimento de vacina contra zika: uma vacina a base de DNA, outra vacina com vírus inativado semelhante à vacina da dengue, além de uma vacina híbrida que tem como base a vacina de sarampo.
"A resposta tem que ser rápida ou o dano vai estar feito e deixará um legado terrível: as crianças com microcefalia", diz Kalil.
Segundo o diretor, esse desenvolvimento ocorreria de forma mais rápida se houvesse mais recursos disponível. Em fevereiro, o governo federal anunciou um investimento de R$ 8,5 milhões para financiar o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à zika no Instituto Butantan. Mas, segundo Kalil, o recurso ainda não foi liberado.

Vírus já circula em 61 países — Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o vírus da zika como emergência de saúde pública global. O vírus foi associado à microcefalia, uma malformação congênita.
De acordo com boletim da OMS divulgado na semana passada, 61 países e territórios já registram transmissão continuada do vírus da zika. Além disso, outros 10 países tiveram relato de transmissão de zika de indivíduo para indivíduo, provavelmente por via sexual.
O Brasil é o país onde o vírus está mais disseminado, com mais casos de infecção pelo vírus e de microcefalia associada à zika. O país teve 138.108 casos prováveis de zika em 2016 até o dia 7 de maio, segundo o Ministério da Saúde. Em 2016, o país registrou uma morte causada pela doença em um adulto no Rio de Janeiro e, no ano passado, foram 3 mortes de adultos.
Ainda segundo a pasta, são 1.616 casos confirmados de microcefalia desde o início das investigações, em 22 de outubro, até 11 de junho, com 73 mortes de bebês.




Governo Temer quer permitir aposentadoria só a partir dos 70 — idade mínima para benefício começaria aos 65 anos, mas seria estendida daqui a 20 anos



O governo de Michel Temer quer que a idade mínima para a futura geração se aposentar chegue aos 70 anos. A ideia, segundo uma fonte do governo que está participando das discussões, é estabelecer no projeto que será enviado ao Congresso duas faixas: a primeira, de 65 anos; e a segunda, de 70 anos, para ser aplicada só daqui a 20 anos.
Há praticamente consenso de que a reforma da Previdência em estudo deverá estabelecer 65 anos como idade mínima a partir da aprovação do texto, mas com uma regra de transição que não penalize tanto quem já está no mercado de trabalho e ainda menos quem está mais próximo da aposentadoria.
Por exemplo, se um homem já contribuiu 30 dos 35 anos que determinam a lei atual e tem 50 anos, ele não terá que trabalhar mais 15 anos, até os 65. Haverá uma transição. O objetivo do governo é elevar a idade média das pessoas ao se aposentarem. Hoje, é de 54 anos.
Os que entrarem no mercado de trabalho a partir da sanção da nova regra se enquadrarão integralmente na faixa de 65 anos. Mesmo que o governo envie o projeto ao Congresso ainda este ano, dificilmente ele será aprovado antes de 2017.
— Se vamos estabelecer a idade mínima agora, já podemos pensar nas próximas décadas, deixando uma faixa mais alta para a futura geração, que está longe ainda de entrar no mercado de trabalho. Agora, a adoção dos 65 anos como idade mínima terá uma regra de transição muito clara para não prejudicar quem já está no mercado de trabalho há mais tempo — afirmou um integrante do governo Temer.
As fórmulas para esta regra de transição ainda estão sendo analisadas pelo governo, mas levarão em conta o tempo de contribuição dos trabalhadores e o período que falta para a aposentadoria. Apesar de o presidente Michel Temer ter declarado na última sexta-feira (24.jun.2016) ser a favor de que as mulheres se aposentem levemente mais cedo do que os homens, a intenção da equipe econômica é, a longo prazo, fazer com que a idade para ambos os sexos coincida.
Na terça-feira (28.jun.2016), haverá reunião entre governo e as centrais sindicais, da qual poderá sair a primeira versão da reforma da Previdência. O Planalto ainda tem dúvida sobre a apresentação de um documento para evitar um “pacote pronto”, porque busca entendimento com os sindicatos, que têm se mostrado inflexíveis especialmente quanto a alterações na regra que afetem quem está no mercado de trabalho ou próximo da aposentadoria. A decisão sobre apresentar ou não essas linhas gerais será definida em cima da hora, dependendo do clima entre governo e sindicatos.
— As centrais resistem em praticamente todos os pontos, mas estão começando a assumir a responsabilidade. A previdência não é um problema do governo, que passa; mas de quem vai se aposentar. Se o governo não fizer nada rápido, o Brasil vai acabar daqui a uns anos como países europeus que quebraram — disse uma alta fonte do governo.
A expectativa do governo é receber algumas ideias das centrais na reunião de terça-feira (28.jun.2016), mas há impasse. Os sindicatos querem a manutenção da regra 85/95 (soma entre idade e tempo de contribuição para mulheres e homens, respectivamente) e pedem, em vez de mudanças estruturais no sistema, que o governo faça uma fiscalização rigorosa nos gastos com os recursos previdenciários.
— Queremos que o governo abra a caixa-preta da Previdência. O trabalhador não é o responsável pelo deficit que existe no sistema — disse o vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, que estará na terça-feira (28.jun.2016) em Brasília para a reunião no Palácio do Planalto.
Medidas que afetam quem ainda não entrou no mercado de trabalho, no entanto, causam menos polêmica entre as centrais. Segundo Miguel Torres, não há entre as centrais uma decisão sobre o tema.
Há dois pontos apresentados pelas centrais que o governo vê com bons olhos: a abertura de um programa de refinanciamento de débitos inscritos na dívida ativa com a Previdência e a revisão das isenções às entidades filantrópicas.
A Previdência do setor rural é outro ponto polêmico. Os sindicatos afirmam que este responde pela maior parte do deficit do sistema. O governo busca discutir esse problema em mesas separadas. Ouviu as queixas dos sindicalistas, mas quer discutir alternativas com os ruralistas para não contaminar as discussões.
Uma fonte do governo disse que alguma medida terá de ser adotada para reduzir as despesas previdenciárias deste setor.




Dívida pública cresce 2,82%
e encerra maio em R$ 2,8 trilhões



A dívida pública federal, que inclui tudo o que o país deve internamente e no exterior, teve um alta de 2,82% em maio. Segundo relatório divulgado na segunda-feira (27.jun.2016) pelo Tesouro Nacional, o estoque subiu de R$ 2,799 trilhões em abril para R$ 2,878 trilhões no mês passado. O aumento é resultado de uma emissão líquida de títulos públicos de R$ 44,69 bilhões e da apropriação de juros no valor de R$ 29,28 bilhões.
O nível do estoque está abaixo do previsto pelo Tesouro para o ano, entre R$ 3,1 trilhões e R$ 3,3 trilhões. O coordenador-geral da dívida pública, Leandro Secunho, afirmou, no entanto, que não há mudanças na previsão e que a dívida vai terminar o ano dentro do intervalo estimado:
— Ainda está fora desse intervalo, mas esperamos que haja não só apropriação de juros, mas emissão liquida de títulos. Devemos encerrar o ano dentro desse intervalo indicativo do estoque.
Os títulos mais ofertados ao mercado foram os prefixados (R$ 1,016 trilhão ou 35,32% do total), seguidos pelos corrigidos por índices de preços (R$ 977 bilhões ou 33,96%) e pelos atrelados à taxa Selic (R$ 743 bilhões ou 25,84%).
Todos os percentuais estão fora do intervalo previsto para o ano no Plano Anual de Financiamento (PAF), mas, segundo Secunho, deve haver uma convergência até o fim do ano. Ele assumiu, no entanto, que o número de títulos prefixados pode ficar marginalmente acima do esperado (entre 31% e 35% do total). O coordenador-geral da dívida ponderou, no entanto, que esse cenário não seria ruim para o Tesouro, uma vez que aumentar o número de títulos prefixados, ou seja, com menos risco, é uma das diretrizes de longo prazo do órgão.
— Se houver algum desvio, será marginal e para a banda de cima.

SAÍDA DE ESTRANGEIROS — A maior parte dos títulos da dívida brasileira está nas mãos de fundos de previdência, 23,72% do total, e de instituições financeiras (22,87%). A participação de investidores estrangeiros na dívida interna brasileira caiu para o menor patamar desde dezembro de 2013 — foi de 17,39% em abril para 16,60% em maio. Segundo Secunho, essa queda na participação de não-residentes foi concentrada em títulos de curto prazo, menos voláteis:
— Não existe uma meta de participação de estrangeiros. Já chegou a ser zero, já foi de 20% e hoje é 16%. Se há saída, isso não está necessariamente atrelado à situação política ou qualquer outra coisa. Sendo 16%, 20% ou 18%, não existe uma preocupação em relação a esse número. A preocupação seria se houvesse uma saída significativa e provocasse turbulência no mercado.
O prazo médio do estoque, um dos indicadores de qualidade da dívida, apresentou piora na passagem de um mês para o outro e caiu de 4,75 anos para 4,67 anos. O número de títulos a vencer nos próximos 12 meses aumentou de 18,86% para 20,40%. O prazo caiu para ambas as dívidas: externa e interna. Para a interna, a queda foi de 4,64 anos para 4,55 anos. Já a externa caiu de 7,11 anos para 7,04 anos.
Já o custo médio do estoque — outro indicador de qualidade, que mede o nível dos juros que a União tem que oferecer para que os investidores se interessem pelos papéis públicos — se manteve em 14,25% ao ano.
No mês de maio, o Tesouro Nacional emitiu o equivalente a R$ 55,80 bilhões em títulos e resgatou R$ 11,48 bilhões. Com isso, houve uma emissão líquida de R$ 44,32 bilhões.

BREXIT — Secunho afirmou que, até o momento, o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, foi “ameno”. Ele afirmou, contudo, que o Tesouro está acompanhando o mercado nesse momento de volatilidade e incertezas e está pronto para atuar se necessário.
— Havendo necessidade podemos atuar não só no mercado doméstico quanto no mercado global.




O número de servidores das estatais federais subiu 11% de 2010 a 2014 — entre as dependentes do Tesouro, 48%



Apesar da propalada dificuldade financeira de várias estatais federais, as 135 que existem país afora continuam infladas, com crescimento constante de pessoal. Dados atualizados do governo mostram que, de 2010 a 2014, o número total de contratados nessas empresas teve um acréscimo de 11,2%, o que representa 55.836 novas contratações. O aumento foi ininterrupto. Mas, se forem levadas em conta as estatais que dependem exclusivamente do Tesouro Nacional — como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), entre outros exemplos — a alta foi de 48,4% no período. Já de 2006 a 2014, o volume de servidores nas estatais aumentou em 30%, e o das dependentes do Tesouro, em 75%. Enquanto o número de funcionários disparou, o volume de investimentos das estatais federais no primeiro quadrimestre caiu ao menor nível desde 2006.
Entre as distorções no setor está a Agência Brasileira Gestora de Fundos de Garantidores e Garantias (ABGF), criada em 2012 e com quase 96 funcionários. A estatal foi fundada com o objetivo principal de gerir um novo fundo garantidor de concessões de infraestrutura que, no entanto, nunca foi lançado, e o atual governo não confirma os seus planos de capitalização.
Na mira do governo interino de Michel Temer, a EBC viu seu número de funcionários saltar de 913, em 2010, para 2.564, em 2014, um incremento de 180% em quatro anos. No mesmo período, os investimentos das estatais cresceram 13,6%.
Em termos agregados, o prejuízo das empresas públicas brasileiras, no ano passado, beirou os R$ 60 bilhões, com os resultados negativos de gigantes como Petrobras, Eletrobras, Correios e Infraero. A penúria financeira das estatais contamina as contas públicas. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado neste mês, as empresas públicas responderam por um deficit primário de R$ 1,7 bilhão no ano passado.
— Os governos anteriores acreditavam no aumento do gasto público como motor de crescimento da economia, mas as empresas tiveram problemas por má gestão — disse Paulo Vicente, professor de gestão pública e estratégica da Fundação Dom Cabral.
É com esses números que a equipe do presidente interino, Michel Temer, está trabalhando para moldar o conceito de “Estado suficiente”, que vai balizar todas as privatizações que estão por vir, caso se confirme o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo Fernando Soares, diretor do Departamento de Estatais do Ministério do Planejamento — que deverá ser alçado a secretaria nos próximos dias —, o governo vai procurar trazer um modelo de gestão privada para as estatais, com regras adaptadas de governança e transparência. Ele destaca, porém, que as estatais têm de atender aos interesses da sociedade, e não apenas render lucros ao governo.
— Os retornos da Embrapa ou dos hospitais são sociais. Algumas empresas dão retorno econômico e outras, apenas social — disse Soares.
Já Vicente destacou, contudo, que, uma vez infladas as folhas de pagamento das estatais, a redução não é trivial. Os programas de demissões voluntárias (PDVs) existentes em algumas delas, disse ele, tendem a tirar os servidores mais competentes, que conseguem se realocar em outras empresas. Outras medidas, como afastamentos, implicam riscos jurídicos.
— O congelamento da folha, proposto pelo governo Temer, é cruel, como todas as medidas possíveis, mas é um remédio para amenizar gastos — disse o professor da Dom Cabral.
O governo interino trava embates com o Congresso para, além de definir o teto de gastos que comprimirá os salários dos servidores, aprovar uma nova lei das estatais, reformando a gestão e a governança das maiores empresas. Mesmo com a aprovação do texto, porém, há ceticismo do mercado quanto à sua efetiva revolução na gestão das estatais.
O tempo dirá se a nova lei vai alterar substancialmente a qualidade e a assertividade da governança das estatais, escreveu o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Emilio Carazzai, aos seus associados na última sexta-feira (24.jun.2016):
“Todavia, assim como foram falsas as expectativas de que a mera promoção de funcionários de carreira seria bastante para blindar aquelas empresas de más práticas, o acervo de conhecimento do IBGC nos permite afirmar que as medidas incluídas no novo estatuto estão longe de assegurar que aquele intento seja plenamente alcançado.”
A carta se refere ao fato de ex-servidores da Petrobras alçados a cargos de chefia terem capitaneado grande parte dos crimes e desvios que foram alvo da Operação Lava-Jato. Agora, o governo procurou indicar nomes notáveis para as principais estatais e dar-lhes autonomia. Pedro Parente, novo presidente da Petrobras, assumiu dizendo que comandará a empresa sob uma ótica empresarial, sem espaços para interferências do governo. Na Eletrobras, segunda maior estatal, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, indicou o presidente da CPFL, Wilson Ferreira, e já decidiu que seu secretário executivo não será mais conselheiro da empresa e que seus diretores não participarão da cúpula que define os rumos do setor em Brasília.
— A mistura de papéis entre governo e empresas levou ao sonho de um Brasil maior, mas esse sonho pode ter virado delírio, ou pesadelo, e agora estamos no momento do despertar — disse Paulo Pedrosa, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, sobre o rumo das estatais.
Antes de o governo determinar o bloqueio a indicações de políticos em estatais, foram apontados nomes claramente políticos, como o presidente do PSD, Guilherme Campos, para a presidência dos Correios, e Gilberto Occhi, do PP, para a Caixa — embora ele seja servidor do banco. Para Soares, limites por relações políticas ou sindicais muitas vezes são insuficientes para blindar as empresas.
— A lei já é um avanço, mas vamos avançar mais em partes — afirmou Soares.
Nesse cenário, o ministério do Planejamento prepara uma reformulação do seu Departamento de Estatais (Dest), transformando-o em uma secretaria — sob a batuta de Soares e com um contingente maior — encarregada sanear as empresas públicas em dificuldade e prepará-las para a privatização. Ou seja, cuidará da saída do setor público de áreas estratégicas, como energia, transportes, petróleo e gás. Soares explica que terá uma equipe dedicada exclusivamente a analisar essas operações.








Órgãos federais menos regulados são alvo de desvios milionários — citados por Sérgio Machado, BNB, Funasa, Dnit, Dnocs, Docas e FNDE acumulam escândalos



Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro


Alvos constantes de disputas políticas, os seis órgãos federais citados na delação de Sérgio Machado acumulam escândalos de corrupção e denúncias de irregularidades em suas gestões. Estariam em situação bem pior que a Petrobras, segundo ele, “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil”. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente da Transpetro surpreendeu ao afirmar que a petrolífera, cujo rombo estimado pela Polícia Federal é de R$ 42 bilhões, era um organismo “bastante regulamentado e disciplinado”. Ele acrescentou que outras unidades do governo têm práticas “menos ortodoxas”.
Um das instituições citadas por Machado foi o Banco do Nordeste (BNB). Investigações dos ministérios públicos Federal e Estadual do Ceará, onde fica a sede da instituição, apontam irregularidades nas concessões de empréstimos, favorecimento de empresas e desvio de recursos para financiar campanhas políticas. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que apenas o esquema de fraudes nos empréstimos gerou prejuízo de R$ 683 milhões.
— Uma verdadeira quadrilha se instalou dentro do Banco do Nordeste. Verbas foram loteadas para fins eleitoreiros e se praticou todo tipo de falcatrua em valores altíssimos dentro da instituição — acusa o promotor Ricardo Rocha, do Ministério Público Estadual, que deu início às apurações após ser procurado por um funcionário que denunciou as irregularidades.
De acordo com Rocha, as investigações comprovaram que os balanços de empresas eram maquiados para permitir a concessão dos empréstimos com a anuência de diretores que “recebiam comissões”. As fraudes beneficiavam companhias que estavam perto de falir e até uma das empresas do esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, condenado na Lava-Jato. Também haveria corrupção na classificação das notas de créditos das empresas. Segundo o promotor, elas eram ameaçadas de ter as notas reduzidas, o que diminuiria as margens para empréstimos, se não pagassem propina.
— O que apareceu até agora é só a ponta do iceberg. O esquema da Lava-Jato operava aqui no Banco do Nordeste também — afirma o procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal (MPF), que não tem conseguido levar suas investigações adiante.
Até agora, cinco ações penais e cinco de improbidade administrativa não avançaram por causa de habeas corpus ou recusa de juízes de primeira instância. O MPF apresentou recursos ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região.
Para o promotor Ricardo Rocha, os problemas do BNB estão relacionados à influência política.
— Todos os diretores do Banco do Nordeste são indicados por políticos — afirma.
Entre 2003 e 2011, quando tiveram início as irregularidades, segundo o Ministério Público, o BNB foi presidido por Roberto Smith, indicado pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), ex-líder do governo Dilma Rousseff na Câmara. Smith chegou a ser denunciado pelo MPF por omissão na recuperação de créditos. A ação foi trancada pelo TRF5.
— Isso não é crime. Só indiquei o presidente do banco — admite o deputado, negando ter influência sobre toda a gestão da instituição.
Guimarães disse que não se sente responsável por eventuais irregularidades que tenham ocorrido na gestão de seu indicado. O petista ainda destacou que, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o comando do banco era indicado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e que o atual presidente, Marco Costa Holanda, nomeado em 2015, é apadrinhado pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Bruno Queiroz, advogado de Roberto Smith, garantiu que a Justiça comprovou que o cliente não tinha participação nas irregularidades:
— Embora tenha sido presidente, ele não pode ser responsabilizado por tudo o que acontece no banco. Não existe nada formalmente contra ele. Não existe ação penal em que ele seja réu e nenhum inquérito em que tenha sido indiciado.
O BNB informou que instaurou “processos administrativos disciplinares” e fez cobranças judiciais para reaver os prejuízos.
O escândalo mais recente envolvendo as outras “madames do cabaré” foi revelado em maio e tem como alvo a Superintendência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) de Santa Catarina. A Polícia Federal (PF) investiga um esquema montado por servidores federais, prefeituras e empreiteiras que teria movimentado cerca de R$ 2 milhões em propinas. Embora os valores desviados não sejam tão altos como aqueles apurados na Petrobras, a fraude se repete em várias regiões do país, segundo investigadores.
Nos últimos cinco anos, a PF investigou esquemas similares em Amapá, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rondônia e Tocantins. Responsável por obras de esgoto e saneamento básico, a fundação tem orçamento de R$ 3,2 bilhões, maior que o dos ministérios da Cultura e do Meio Ambiente.
Em Santa Catarina, as empresas investigadas receberam dinheiro de obras de saneamento básico mesmo sem ter feito todo o serviço. A PF chegou a prender o superintendente Adenor Piovesan, filiado ao PMDB e presidente da Fundação Ulysses Guimarães no estado. Piovesan já está solto, e seu advogado não foi localizado. Segundo a Funasa, as irregularidades apontadas como de responsabilidade dos funcionários da fundação “terão todas as providências administrativas internas adotadas”.
Reduto do PR, o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) foi palco de um escândalo que levou à demissão de 20 pessoas e à queda do então ministro Alfredo Nascimento. Segundo as denúncias, empresas pagavam 4% de propina ao PR para ganhar licitações e aditivos. Até agora, ninguém foi preso. No Rio Grande do Norte, o MPF descobriu desvios de R$ 13,9 milhões na duplicação da BR-101 e denunciou 25 pessoas no ano passado. O Dnit não respondeu.
Ligado ao Ministério da Integração Nacional e dominado nos últimos anos por PMDB e PP, o Departamento Nacional de Obras Contra Seca (Dnocs) foi alvo de duas investigações recentes. Em março de 2013, a Operação Cactus apurou supostos desvios em contratos distribuídos por 20 municípios do Ceará. A investigação teve início com um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontando suspeita de fraudes que chegavam a R$ 200 milhões. Os policiais apuram a participação de parlamentares no esquema, por meio de emendas ao Orçamento da União. Dois anos depois, foi desarticulado um suposto esquema de fraudes em licitações no Rio Grande do Norte. O Dnocs informou que “todos os diretores envolvidos nas denúncias foram afastados dos cargos de direção e encontram-se respondendo a processos administrativos”.
Também foram citadas na delação de Machado as companhias Docas, que administram portos federais. Em 2012, o MPF denunciou o ex-diretor-presidente da Companhia Docas do Espírito Santo, Hugo Merçon, sob a acusação de favorecer a contratação de uma empresa por dispensar a licitação. O processo ainda está em andamento. Merçon não foi localizado.
Outro órgão que sofreu com influência política na gestão foi o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento anual de R$ 60 bilhões e cuida de programas como o fornecimento de merenda. Em abril, às vésperas da votação do impeachment na Câmara, Dilma nomeou para o órgão Gastão Vieira, do nanico PROS, ex-ministro do Turismo, na tentativa de ganhar o apoio da legenda. Em 2013, o então presidente, José Carlos Wanderley Dias de Freitas, foi flagrado em um grampo da PF alertando o reitor da UFPR sobre uma investigação contra a instituição. A PF informou que o caso já foi concluído, mas não poderia dizer se foi constatada alguma irregularidade. O FNDE afirmou que não se pronunciaria sobre um caso ocorrido na gestão anterior.




Advogado admite ter pago despesas do ex-ministro Paulo Bernardo — investigações apontam Guilherme Gonçalves como um operador do petista no esquema Consist



O advogado Guilherme Gonçalves admitiu ter pago “algumas despesas” do ex-ministro Paulo Bernardo durante audiência de custódia na segunda-feira (27.jun.2016) na Justiça Federal de São Paulo. As investigações apontam Gonçalves como um operador do ex-ministro, que comandou o Planejamento e as Comunicações, no esquema de propina da Consist.
“O próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para "PB", que seria Paulo Bernardo. Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais”, afirmou o juiz Paulo Bueno de Azevedo no despacho que manteve a prisão temporária de Gonçalves.
De acordo com as investigações, pelo menos R$ 7,6 milhões foram repassados ao escritório de advocacia ligado a Paulo Bernardo. Os repasses eram feitos através do pagamento de serviços como aluguel de flats, funcionários e serviços jurídicos do ex-ministro. Para isso, o escritório administrava um “Fundo Consist” onde o dinheiro seria depositado.
— Há elementos documentais, e-mails, que sustentam que advogado pagou serviços a pedido de Paulo Bernardo — afirmou o procurador da República Roberto de Grantis.
Paulo Bernardo foi preso na quinta-feira (23.jun.2016) durante a Operação Custo Brasil, um desdobramento da Operação Lava-Jato. Ele teria sido um dos beneficiários de um esquema que desviou R$ 100 milhões de pagamentos de créditos consignados de servidores federais.
Segundo as investigações, a empresa Consist, que mantinha contratos com entidades ligadas ao governo federal, repassava até 70% de seu rendimento para o pagamento de propina a funcionários públicos e agentes políticos.
O juiz deixa claro que não é o momento para fazer o julgamento de mérito, mas que a posição do advogado “pode ter múltiplas interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo Bernardo retirado do Fundo Consist. Bueno de Azevedo disse que estranhou os motivos que levaram o advogado a diminuir seus honorários quando Paulo Bernardo saiu do Ministério do Planejamento.
“A princípio, pareceu um pouco estranho ao Juízo que o investigado estivesse prestando um serviço absolutamente regular e, de inopino, concordasse com a redução dos valores, máxime quando os indícios por ora demonstram que a redução dos valores se deu justamente por ocasião da saída de Paulo Bernardo do Ministério do Planejamento”, afirmou o magistrado.
Na saída da audiência, o advogado Rodrigo Sánchez Rios, que defende Gonçalves, negou as irregularidades:
— A atuação do doutor Guilherme sempre foi uma atuação de muita transparência. A defesa insiste que a prisão é desproporcional e desnecessária. Não há nenhum indício de que esse valor recebido pelo advogado seja repassado para um servidor público.
Rios afirmou ainda que a prisão é ilegal.
Os onze alvos da operação tiveram sua prisão mantida pelo juiz. Nesta semana, a Polícia Federal deve começar os interrogatórios.



Como funcionava o esquema de fraude que desviou R$ 100 milhões de empréstimos consignados


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segunda-feira, 27 de junho de 2016

O show continua: com desemprego em alta, CUT discute plebiscito eleitoral


O formidável no Brasil é que, no fim, tudo se incorpora ao espetáculo. Dilma Rousseff diz que deseja voltar ao Planalto para conspirar contra o próprio mandato. Ela avisa que, derrotado o impeachment, vai propor ao Congresso um plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais. E não se viu uma alteração no roteiro do processo que corre no Senado ou no semblante dos senadores pró-Dilma na comissão do impeachment. O show continua.



Vagner Freitas, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)


Súbito, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, que torcia o nariz para a proposta, esclarece que mudou de opinião depois de trocar um dedo de prosa com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não acredita na viabilidade do plebiscito eleitoral. Mas tentará convencer a CUT a abraçar a causa. "A presidenta não pode ficar engessada. A CUT não vai defender o plebiscito no site. Mas, se essa é única esperança a que podemos nos apegar, vamos nela", diz ele. Freitas também decidiu procurar movimentos de esquerda favoráveis à medida. Mesmo sem acreditar na salvação da petista, Freitas afirma que a defesa do plebiscito poderia constranger aqueles que chama de "golpista", colocando-os numa "sinuca de bico".

No ano passado, Freitas envolveu-se em polêmica ao dizer que movimentos sociais iriam às ruas "com arma na mão" para defender Dilma de tentativas de derrubá-la.
Depois, afirmou ter usado de linguagem figurada para se referir, na verdade, às "armas da classe trabalhadora: mobilização, ocupação das ruas e greve geral".

Supremo paradoxo: há no Brasil uma legião de quase 12 milhões de desempregados. E a maior central sindical do país desperdiça o seu tempo num debate sobre a antecipação da sucessão presidencial, uma ideia de materialização tão improvável quanto o retorno do governo empregocida de Dilma. E não se ouve nenhuma vaia. O show continua.