sexta-feira, 28 de agosto de 2015


Pixuleco, o boneco inflável de Lula, sofre ‘atentado’ em São Paulo — ‘Lula Inflado’ foi rasgado no Viaduto do Chá na tarde de sexta-feira (28.ago.2015), em frente à prefeitura paulista.

“Pixuleco”
SÃO PAULO - Um boneco inflável que representa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido com roupa de presidiário, apelidado de “Pixuleco“, foi rasgado na tarde desta sexta-feira no Viaduto do Chá, em frente à prefeitura de São Paulo. Uma mulher se aproximou do ‘Lula Inflado’ com uma faca e golpeou o boneco, que esvaziou imediatamente. A responsável pelo ataque, que ainda não foi identificada, foi segurada por outros presentes e levada para a 3ª DP, no Centro de São Paulo. Ela estava acompanhada de um homem, que conseguiu fugir.
Cristiane Polo, do Movimento Brasil Melhor, diz que o ataque ao boneco inflável ocorreu quando um grupo ligado ao PT chegou ao local e hostilizou os manifestantes antigovernistas.
— Eles chegaram agredindo as pessoas. Uma das pessoas que estavam lá chegou a ser atingida com uma pancada na cabeça. Logo depois, uma mulher, funcionária pública, atingiu a parte (do boneco) na bola da Lava-Jato — diz Cristiane.
Integrante do movimento Nas Ruas, Henrique Rocha Menezes disse que o grupo de petistas estava no viaduto à espera do “Pixuleco”, no que ele chamou de “emboscada”.
— O ataque foi do meu lado. A menina passou do meu lado, pulou o cordão de isolamento e furou o boneco em dois lugares. Ela furou o boneco no braço do Lula e na bola preta, que sustenta o “Pixuleco”. A gente teve que desmontar o boneco a pedido da polícia, para evitar (conflitos) — explicou Menezes.

DESDOBRAMENTO DA CONFUSÃO
A confusão envolvendo o boneco começou depois que um homem que passava pelo Viaduto do Chá tentou danificar o equipamento usado para inflá-lo — a operação é feita com um gerador de energia e um ventilador.
O homem foi contido pela Guarda Civil Metropolitana. Em seguida, foi hostilizado pelos manifestantes, que tentaram agredi-lo e interromperam o trânsito no viaduto por alguns minutos.
"Eu não sou obrigado a ver isso aí. Fosse um boneco de 5 cm do Alckmin, alguém dava um tiro em dois segundos", afirmou o rapaz, que não quis se identificar.
Nesse momento, simpatizantes do governo que foram atraídos pela movimentação começaram a trocar ofensas com o grupo de manifestantes pró-impeachment e gritar em apoio à presidente Dilma Rousseff e a Lula.
Na confusão, alguém fez um rasgo no boneco, aparentemente com uma faca. A Guarda Civil então deteve a estudante de direito Emmanuelle Thomazielo, 21 anos, apontada pelas lideranças da manifestação como responsável pelo rasgo, e levou-a para uma delegacia próxima. Segundo os guardas, o objetivo era protegê-la dos manifestantes.
Enquanto Thomazielo entrava no carro da Guarda, manifestantes pró-impeachment tentavam agredi-la e gritavam "vai perder sua teta".
Por telefone, ela negou que tenha furado o boneco. "Estava no meio da confusão e me pegaram", afirmou.

A estudante de direito Emanuele Tomaziel, 21 anos, detida sob suspeita de ter furado 
o boneco inflável de Lula

Boneco inflável de Lula é furado durante sua passagem pelo Viaduto do Chá, 
no Centro de São Paulo

A confusão envolvendo o boneco

Depois do incidente, o boneco foi desinflado pela empresa contratada pelos movimentos pró-impeachment. Os líderes dos movimentos foram embora em seguida, mas opositores e simpatizantes do governo continuaram discutindo, observados pela Guarda Civil e pela Polícia Militar.
O incidente foi lamentado por Ricardo Honorato, integrante do Movimento Brasil e responsável por ter levado o boneco ao protesto de 16 de agosto em Brasília.

O boneco desinflado

Segundo Honorato, "Pixuleko" passará por novo "check-up" e não interromperá seu tour por outras cidades brasileiras. "Não é isso que vai nos impedir de ele viajar por todo o país, mesmo que a cada aparição ele tenha de ser consertado", disse.
O delegado do 3º DP pediu a retenção do boneco para perícia, mas os donos disseram que ele está a caminho de Maceió, onde será consertado. "Querem prender o 'Pixuleko' e deixar o Lula solto? Puta sacanagem" reclamou Marcello Reis, líder do Revoltados On Line.

O 'TOUR' DO 'PIXULEKO'
O ‘Lula Inflado’ foi montado na manhã de sexta-feira (28.ago.2015) em um dos principais cartões postais de São Paulo: a Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, na Zona Sul da capital paulista. No meio da tarde, ele reapareceu em frente à prefeitura de São Paulo, no Vale do Anhangabaú.

Boneco inflável do Lula montado na Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, em São Paulo

O boneco apareceu primeira vez nos protestos do dia 16 de agosto, em Brasília, e fez sucesso nas redes sociais. O boneco tem 12 metros de altura e, além da roupa de presidiário, possui uma placa no peito com os números “13” e “171”.
A figura foi criada pelo Movimento Brasil Livre, um dos grupos que têm organizado protestos contra a presidente Dilma Rousseff, e custou R$ 12 mil. Segundo Ricardo Honorato, um dos líderes do movimento, a ideia é que o boneco faça uma turnê pelo Brasil. No próximo domingo (30.ago.2015), ele deverá aparecer na Avenida Paulista. O Rio de Janeiro está previsto para ser o novo destino da turnê do “Lula Inflado”, ainda sem data definida.
Com pedidos de visitas em todo o país, o Movimento Brasil Livre ainda não decidiu se "Pixuleko" deve continuar no próximo mês na Região Sudeste, em Estados como Minas Gerais e Espírito Santo, ou trilhar caminhos mais longo, viajando à Região Nordeste.
O nome do boneco de plástico é uma referência ao termo que teria sido usado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para se referir a propina, segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa, delator da Operação Lava Jato.

'PIXULEKO' FAZ SUCESSO NAS REDES SOCIAIS
Após as manifestações do dia 16 de agosto, "Lula inflado", teve perfis criados no Twitter e no Facebook e virou “meme” na internet, com diversas fotomontagens humorísticas.
Na internet, o boneco virou piada e aparece em montagens feitas com várias cenas icônicas, como na derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo, em capas de álbuns como ‘‘Nevermind’’, do Nirvana, em cenas de filmes como “Titanic”, perdido na capa do livro “Onde está Wally”, ao lado dos “bebês-mamíferos” da Parmalat e outra entre princesas da Disney. No perfil do Twitter, “Lula Inflado” está em uma foto com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).

REAÇÃO DO PT
Um dia após os protestos do dia 16 de agosto, o Instituto Lula enviou nota afirmando que o ex-presidente foi preso na ditadura "porque defendia a liberdade de expressão e organização política". Ainda segundo o texto, "o povo brasileiro sabe que ele só pode ser acusado de ter promovido a melhora das condições de vida e acabado com a fome de milhões de brasileiros, o que para alguns, parece ser um crime político intolerável. Lula jamais cometeu qualquer ilegalidade antes, durante ou depois de seus dois governos", termina o texto.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o boneco inflável faz parte de uma campanha de tentativa de destruição do ex-presidente Lula. Ele citou uma expressão do ex-prefeito César Maia (DEM), para avaliar o crescimento das críticas à Lula: “Estão tentando derreter o Lula para destruir o PT”.
— "Eles sabem qual é a liderança, qual é a força política que tem o PT. Não é por causa da eleição. Isso já vinha antes de a gente ter a Presidência. Tem uma série de episódios de tentar destruir o PT e destruir o Lula. São os mitos: casa do Morumbi, fortuna do Lula, conta no exterior, uma série de ataques".
Segundo Falcão, o PT também é alvo de ataques. — "Era da bagunça, da greve, os barbudos. Isso faz parte da campanha de tentativa de destruição", disse.



Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pede saída de ministro da Fazenda — Para Skaf, desempenho de Levy 'está enfraquecendo a credibilidade do governo'

Depois de participar na noite de quinta-feira (27.ago.2015) de um jantar com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e 22 grandes empresários na sede da Fiesp, em São Paulo, o presidente da entidade, Paulo Skaf (PMDB), defendeu a demissão do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "Um ministro da Fazenda que só fala em aumentar impostos ... o Brasil não precisa deste ministro (...)", disse o dirigente aos jornalistas na saída do encontro.
"O ministro não demonstra preocupação com o desemprego no pais, com os setores produtivos. Entendo que esse não é o perfil de um ministro que faça bem ao pais.  Ele não tem realmente nesse momento nosso apoio".
Skaf prometeu "bombardear" a iniciativa do governo de reeditar a CPMF e disse que o desempenho da política econômica "está enfraquecendo a credibilidade do governo".
Entre os presentes ao jantar, que durou duas horas, estavam o empresários Benjamin Steinbruch (CSN), Flávio Rocha (Riachuelo), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Rubens Ometo (Cosan). Segundo relato de um participante, os convidados se revezaram ao microfone  com críticas ao ajuste promovido por Joaquim Levy. Temer falou por 30 minutos no final do evento. Não criticou o ministro, mas também não o defendeu.
Quando questionado por jornalistas sobre a posição dos empresários sobre a política econômica do governo, Skaf disse que o setor produtivo não concorda com o ajuste conduzido por Levy. "O Brasil é um pouco maior do que meia dúzia de empresários. Se alguns tem uma opinião, não significa que seja a opinião da classe empresarial. Os setores produtivos não concordam com essa política econômica", disse o dirigente ao comentar manifestações recentes de apoio ao governo entre empresários.
O presidente da Fiesp disse que, até o momento o ajuste fiscal, não foi conduzido de forma eficiente e que não houve cortes efetivos nos gastos do governo. Nove meses depois do início do ano, Skaf argumentou que o setor esperava ver algum resultado mas que o ajuste até agora é uma "miragem".

O Vice-Presidente da República Michel Temer participou de um jantar com o presidente 
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf

Segundo a reportagem apurou, o clima entre o ministro da Fazenda e Paulo Skaf ficou péssimo depois que Levy deixou Skaf e outros líderes esperando quatro horas para uma reunião em Brasília.

Anti-Dilma. Skaf se reunirá na segunda-feira (31.ago.2015) com representantes dos grupos que  lideram o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff  (PT). Participarão do encontro, que acontecerá na sede da instituição,  porta-vozes das 46 organizações que formam  a Aliança Nacional dos  Movimentos Democráticos.
Entre elas estão o Revoltados Online, Nas  Ruas, Avança Brasil-Maçons, Acorda Brasil e Vem Pra Rua. Antes de  agendar a reunião, Skaf avisou aos ativistas que não defenderia publicamente o impedimento da presidente.
A pauta oficial será a formação de uma agenda comum entre as ruas e o empresariado.

Temer, o "advogado". O vice-presidente Michel Temer disse no jantar na Fiesp que quer ser o "advogado" do setor produtivo na superação da crise. O comentário foi feito para selar a "aliança" com o setor, que, na visão de assessores do vice, "abraçaram" Temer politicamente no encontro.
Para ele, o Brasil vive crise política e econômica, mas não institucional. Ele justificou a saída da articulação política dizendo que quer se dedicar mais às discussões pelo país.
Temer disse que a crise vai ser longa e que a presidente Dilma Rousseff esta tentando adotar medidas para superá-la, mas não encontra resposta nos empresários.
Na reunião, 14 empresários falaram antes dele. O mote comum foi o aumento de carga tributária para ajustar as contas públicas.
Segundo um dos presentes, Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco - banco onde Levy trabalhava antes de ir para o governo - falou sobre a crise e arrematou dizendo que "confiança é a moeda mais forte que existe".
Flávio Rocha, da Riachuelo, disse que o varejo vive uma reversão na formalização do trabalho e que mais impostos agora seriam um tiro no pé.
Segundo relatos, Jorge Gerdau disse a Temer que a indústria "está morrendo" e que isso é fruto de um "problema de liderança".
Coube a Benjamin Steinbruch ensaiar uma piada. Ele afirmou que Temer não deveria se impressionar com os relatos que estavam sendo feitos à mesa, pois o que se ouvia fora dali era ainda pior.



Segundo governo: 
sem a CPMF o Orçamento se decompõe

Para um governo sob reprovação recorde e sem controle de sua base, propor a recriação da CPMF soa como suicídio político. Mas a outra opção é o suicídio orçamentário.
Em 2007, último ano da cobrança, o governo tomava R$ 18,9 de cada R$ 100 da renda dos brasileiros. Nessa conta, a CPMF respondia por R$ 1,3.
A arrecadação não sofreu tanto com a perda da CPMF. De início, porque a economia ajudava; depois, porque foram improvisadas outras fontes de recursos, dos lucros das estatais a sucessivos programas de parcelamento para contribuintes em atraso.
Mesmo em 2014, quando as finanças entraram em colapso, a receita da União foi equivalente a 18,5% do Produto Interno Bruto, não muito abaixo do patamar de 2007.
O que mudou de forma muito mais dramática no período foi a despesa, de 16,8% para 18,7% do PIB – isso sem contar a disparada dos juros e dos encargos da dívida.
E, a despeito dos cortes feitos pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), o percentual tende a crescer agora com o encolhimento da economia.
Nesse cenário, tornou-se impossível até elaborar um projeto de Orçamento para 2016 sem uma nova fonte bilionária de receita – ressuscitada, a CPMF arrecadaria cerca de R$ 75 bilhões anuais.
Se nada for feito, uma previsão realista de despesas/receitas em 2016 mostrará um novo buraco das contas. O mercado credor fará as contas e trará a crise para o presente.
No ano eleitoral de 2014, a dívida pública foi de 53,3% para 58,9% do PIB. No primeiro semestre deste ano, fechou em 63,2%. O ritmo é explosivo e suscita dúvidas crescentes sobre a solvência futura do Tesouro Nacional.
A cartada da CPMF ao menos ilumina a gravidade do cenário. Nos últimos meses, o Congresso não só desfigurou as propostas de ajuste, mas também criou e ameaça criar novas despesas.
Essa é uma cilada da qual nem governo nem oposicionistas – se quiserem voltar ao Planalto – poderão escapar. O desgaste político virá na forma de redução de programas sociais ou aumento de tributos. Ou, ainda, mais inflação.


CPMF alíquota de 0,38% e vinculação à saúde
Presidente Dilma Rousseff e os ministros da área econômica decidiram propor a recriação da CPMF, com verbas direcionadas à Saúde e divididas com Estados e municípios; proposta deve enfrentar grande resistência no Congresso.
O governo vai propor a recriação da CPMF, mesmo enfrentando a resistência de parlamentares e empresários. Pela proposta, será cobrado 0,38% sobre cada movimentação financeira, a mesma alíquota que vigorava em 2007, quando a contribuição foi extinta. A decisão foi tomada na quinta-feira (27.ago.2015) pelos ministros da equipe econômica e pela presidente Dilma Rousseff. Na segunda-feira (31.ago.2015), o anúncio deve ser feito junto com a proposta de lei orçamentária para 2016.
A expectativa é que a recriação do tributo seja proposta por emenda à Constituição. As estimativas do governo apontam que, com alíquota de 0,38%, a CPMF poderia trazer aos cofres públicos cerca de R$ 75 bilhões ao longo de um ano.
Depois de desmentidos por integrantes do governo e uma repercussão negativa no Congresso, coube ao ministro da Saúde, Arthur Chioro, anunciar que havia consenso para a criação de uma “Contribuição Interfederativa da Saúde”. Pela proposta em discussão, a cobrança incidiria em movimentações financeiras e sua renda seria destinada exclusivamente para a saúde. O valor arrecadado seria dividido entre governo federal, Estados e municípios. A forma como seria feita a partilha está em discussão. “Ela poderia ser alterada, ao longo do tempo.” Mas a reportagem apurou que a proposta em estudo prevê que, do total, 0,20% ficariam com a União, 0,10% com Estados e 0,08% com municípios.
Apesar de reconhecer a dificuldade de aprovar a medida no Congresso, a presidente vai insistir na necessidade da criação do imposto. O Palácio do Planalto está convencido de que, com a queda na arrecadação, essa é a única saída no horizonte.
Na avaliação de líderes da base parlamentar aliada, o fato de o assunto ter vindo à tona precipitou o debate e dificulta ainda mais a aprovação da medida no Congresso. Na tentativa de acalmar os ânimos, auxiliares da presidente foram acionados para entrar em contato com governadores e prefeitos de capitais para reduzir o desgaste. Coube ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vender a ideia ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Apesar de Chioro afirmar que há convergência no governo em torno da proposta, para um ministro ouvido, a divulgação do retorno da CPMF neste momento foi “totalmente inoportuno”. Outro auxiliar disse que será muito difícil levar a proposta adiante.
Desde que assumiu, Chioro defende a criação de uma nova fonte de recursos para o setor. Pelas contas do governo, as perdas com fim da contribuição sobre o cheque entre 2008 e 2014 somam R$ 350 bilhões.
Negociação. A alíquota de 0,38% é defendida pela equipe econômica e é considerada um teto pelo governo - o piso seria 0,20%. A ideia é mandar a PEC com alíquota de 0,38% e discutir com o Congresso.
Haverá o compromisso do governo de, junto da CPMF, iniciar uma política de simplificação tributária, com o PIS e a Cofins, que incidem sobre o faturamento das empresas, sem que essas reformas envolvam novos aumentos de tributos. A ideia é aproveitar o envio da proposta de Orçamento de 2016 ao Congresso para reforçar essa mensagem de importância da CPMF para todos os entes federados junto com o compromisso de simplificar tributos federais.
Fontes do governo dizem que a possibilidade de paralisia da máquina pública deverá fazer com que os parlamentares entendam a necessidade de uma medida dura como essa. Além disso, dizem as fontes, a CPMF é fácil de arrecadar, ajuda a combater a sonegação e tem menor impacto inflacionário do que outras alternativas.



terça-feira, 25 de agosto de 2015


Unidades do Minha Casa Minha Vida são 'maquiadas' para visita de Dilma
Quatro das 1237 casas que presidente vai entregar em Catanduva (SP) passaram por reformas de última hora

Seguindo a orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de botar o pé na estrada e rodar o Brasil em inaugurações para criar uma agenda positiva para o governo, a presidente Dilma Rousseff estará nesta terça-feira (25.ago.2015) em Catanduva (SP), para entregar as chaves de 1.237 unidades do Minha Casa Minha Vida. As quatro unidades serão visitadas pela presidente passaram por uma maquiagem nos últimos dois dias e ganharam jardins com flores e arbustos plantados na última hora por uma floricultura e pintura nova na área interna.

Unidades do Minha Casa Minha Vida em Catanduva (SP) ganharam jardins 
pouco antes da visita de Dilma

Na visita desta terça-feira (25.ago.2015), a imprensa poderá filmar e fotografar Dilma apenas nas quatro casas que receberam a maquiagem. Na segunda-feira (24.ago.2015) uma equipe da EBC (TV oficial do governo) gravou uma reportagem nestas mesmas unidades.
A nossa reportagem, também, visitou o local na véspera da inauguração. Trata-se de um conjunto modelo, o primeiro a ser inaugurado com total infraestrutura (escola, creche, praças, quadras esportivas, posto de saúde e de polícia). As casas em geral estão em bom estado: todas têm 43 metros quadrados, sistema de aquecimento de água solar e quintal, mas não receberam o mesmo tratamento estético do local que servirá de cenário para a visita presidencial.
Segundo um trabalhador do local, a maquiagem foi feita entre domingo e segunda-feira especialmente para a chegada de Dilma.
Segundo a CEF, as casas que Dilma vai visitar foram escolhidas por ficarem próximas ao palco do evento e os retoques estéticos têm como objetivo "servir de modelo de uso e conservação" para os demais moradores. De acordo com o banco, "não há maquiagem". A Presidência não explicou o motivo da diferença entre as casas.

Unidades do Minha Casa Minha Vida, em Catanduva (SP), sofrem reformas de última hora, 
pouco antes da visita de Dilma

O conjunto custou R$ 108 milhões sendo que R$ 17 milhões são do governo de São Paulo e o restante verbas da União. No total o governo vai entregar nesta terça-feira (25.ago.2015) 2.555 unidades do Minha Casa Minha Vida em quatro cidades da região. Para aumentar o impacto político, Dilma escalou os ministros Edinho Silva (Comunicação Social), Gilberto Kassab (Cidades) e a presidente da CEF, Miriam Belchior, para entregar casas em Araraquara, Araras e Mauá.



Suíça diz haver mais propinas da Petrobrás em outros países — Para embaixador, esquemas usados na estatal foram "sofisticados"

GENEBRA — O governo suíço afirma que outras praças financeiras receberam valores potencialmente superiores aos que foram depositados nos bancos do país alpino em propinas relacionadas ao esquema de corrupção na Petrobrás. Em um encontro com jornalistas estrangeiros, o responsável pelo Departamento de Direitos Internacional da chancelaria suíça, Valentin Zellweger, também reconheceu que os próprios suíços precisam aprimorar seu sistema financeiro para lidar com dinheiro fruto de origem criminosa.
“Sabemos que há mais dinheiro fora daqui”, disse. Segundo ele, outras praças financeiras têm ainda mais dinheiro que a Suíça cuja origem seria o esquema na estatal brasileira. “Mas elas não comunicam”, declarou. No total, US$ 400 milhões em contas relacionadas com os ex-funcionários da entidade estatal foram bloqueados em contas na Suíça. Autoridades brasileiras negociam com os colegas do país europeu a repatriação dos recursos desviados da Petrobrás.
Questionado sobre como os bancos acabaram aceitando esses milhões de dólares de ex-executivos da Petrobrás sem questionamentos, o embaixador insistiu que a estrutura montada foi “sofisticada”. Segundo ele, o dinheiro depositado passou por várias sociedades antes de chegar até as contas na Suíça. Zellweger insistiu que era difícil ver em muitas ocasiões que o dinheiro se referia a pessoas politicamente expostas.
Mas ele mesmo admitiu que o sistema financeiro suíço precisa “fazer mais” para evitar tais situações. “Não temos um sistema 100% limpo. Mas nosso objetivo é o de minimizar os riscos”, disse.
Para o embaixador, a Suíça fez prova de transparência ao anunciar a existência de US$ 400 milhões bloqueados nas contas do país. Uma investigação foi aberta em abril de 2014 e, em março de 2015, o Ministério Público do país revelou 300 contas em 30 bancos diferentes com dinheiro fruto da corrupção. Em julho, a Suíça ainda anunciou que estava ampliando a investigação para também tratar da Odebrecht. Do total bloqueado, US$ 120 milhões foram devolvidos aos cofres brasileiros.
Rastreamento. Nos últimos meses, o Ministério Publico brasileiro tem trabalhado ao lado dos suíços para tentar identificar a origem e o destino do dinheiro que passou pelos bancos do país europeu. Em agosto, uma equipe do MP passou três dias em Lausanne para detectar as relações bancárias e tentar identificar novas contas.
As reuniões entre procuradores se concentraram nos esforços de se identificar o fluxo de dinheiro da SBM, empresa holandesa que pagou propinas no Brasil para contratos com a Petrobrás.
Um dos casos que está sendo apurado na Suíça se refere às revelações do ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco na CPI no primeiro semestre sobre um pagamento que teria servido para “reforçar” a campanha eleitoral em 2010 de Dilma Rousseff. Segundo ele, US$ 300 mil teria sido enviado pela SBM Offshore para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Em 2010, foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, mas não foi dado a eles diretamente. Eu recebi e repassei o dinheiro para a campanha presidencial de 2010, em que disputavam José Serra e Dilma Rousseff”, disse. “Foi ao PT, ao João Vaccari", explicou.
Procuradores apontaram que esse de fato havia sido um dos pontos examinados. O que a investigação tenta determinar é se esse suposto pagamento usou também contas na Suíça.
As reuniões ainda chegaram à constatação de que a investigação sobre a Petrobrás e sobre os pagamentos da SBM será ampliada. Indícios colhidos por meio de comparação de dados bancários e cruzamento de informações revelariam que o número de pessoas beneficiadas por propinas é maior do que se conhece até agora.
O embaixador suíço ainda confirmou que os bancos suíços contam com “milhares” de políticos estrangeiros como correntistas. Mas garantiu que as instituições são obrigadas a cobrar a origem dos recursos de cada um desses clientes.



À míngua de verbas, o PAC está afundando

Lançado com grande fanfarra em 2007, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda parecia uma grande realização em 2010. Hoje, não quer dizer nada. O PAC está órfão. Levantamento da ONG Contas Abertas mostrou que, de 629 obras/programas com orçamentos aprovados, 310 não receberam um níquel em 2015. Dos R$ 65 bilhões do total “empenhado” para obras do PAC, a primeira fase para o processo de pagamento pelos Ministérios, só R$ 18 bilhões foram liberados até julho, ou seja, cerca de 28%.
Parece o destino previsível de um programa que nunca foi mais do que bandeira eleitoral da presidente Dilma Rousseff, chamada de “mãe do PAC” pelo ex-presidente Lula. Embora muitas obras nunca tenham sido concluídas, o programa era tido como uma espécie de talismã e ao PAC 1 sucedeu o PAC 2, que agregou ao programa urbanização de favelas, saneamento, educação e outros empreendimentos de cunho social a serem concluídos até 2014.
Como todos os empreendimentos do PAC deveriam ser executados com investimentos públicos e como a capacidade de investir do governo federal está esgotada, o programa ficou à míngua. Além de agravar a perda de renda da população e o desemprego, a paralisia das obras atrasa o desenvolvimento do País. O programa rodoviário é o mais afetado pela crise do PAC. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), por exemplo, tem 134 obras do PAC sem nenhum pagamento neste ano. Mesmo quando o governo se dispõe a quitar débitos, havendo recursos empenhados, a liquidação é feita com atraso de 120 dias e o Dnit ainda está devendo R$ 1,8 bilhão a construtoras, segundo a Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Ancor).
Estão paralisados também empreendimentos para aproveitamentos hídricos, obras de dragagem, infraestrutura portuária, etc. Para escolas de educação infantil, na propagandeada Pátria Educadora, dos R$ 3,8 bilhões previstos no orçamento, o governo só empenhou R$ 1,1 bilhão até julho.
Segundo o economista Gil Castelo Branco, da Contas Abertas, o próprio governo evitar falar no PAC. As autoridades não se preocupam nem mesmo em adequar o cronograma de obras ao de pagamento. Já no ano passado, o programa vinha fazendo água, com recursos insuficientes para completar os projetos iniciados. Agora, o que se vê é que o PAC está afundando no marasmo.



Falta de transparência da economia chinesa cria princípio de pânico no mercado
O princípio de pânico que tomou os mercados tem como uma de suas principais causas a falta de transparência da economia da China

O princípio de pânico que tomou os mercados na segunda-feira (24.ago.2015) tem como uma de suas principais causas a falta de transparência da economia da China. Ninguém sabe o tamanho da encrenca enfrentada pelo setor produtivo nem a verdadeira situação dos bancos.
São tremores de forte intensidade que atingem a segunda maior locomotiva do mundo. Trata-se de grande importadora de alimentos, de energia e de matérias-primas (commodities). No entanto, ostenta uma administração hermética, embora aberta aos capitais, cujos administradores de tempos em tempos, como agora, sentem que operam na escuridão.
Há duas semanas, o Banco do Povo da China deu início a um processo que desvalorizou a moeda nacional, o yuan, em cerca de 2,9%. A decisão foi percebida como sinal de fragilidade. Imediatamente levantou questões sobre se o ajuste cambial seria suficiente para puxar pelas exportações e, em seguida, pela alta das importações de commodities.


A Bolsa de Xangai já caiu 12,39% apenas neste mês, também por falta de clareza. No sábado (22.ago.2015), o Conselho Estatal da China pela primeira vez autorizou os fundos de pensão administrados por governos locais a adquirir ações para suas carteiras e, assim, criar mais demanda para ativos em rejeição. Apesar desse empurrão, as ações mergulharam 8,5% na segunda-feira (24.ago.2015), aparentemente porque os investidores viram nessa decisão reconhecimento implícito de que a economia chinesa está muito desarrumada.
Os mercados suspeitam de que haja uma bolha em processo de perfuração, que não alcança só o mercado de ações, mas, também, o mercado imobiliário e os bancos, que podem estar excessivamente carregados com títulos ruins.
Mas não dá para ignorar a importância de três fatores positivos. O primeiro é o ritmo da produção e da criação de renda. Por mais que venha sendo atingido pela tempestade, o PIB da China segue crescendo acima de qualquer outra economia do mundo, a um ritmo que pode não ser mais de 7,0% ao ano, mas está entre 6,0% e 6,5%. O segundo é a montanha de reservas de US$ 3,7 trilhões, que deveria passar mais segurança às novas manadas de sinocéticos. E o terceiro, o de que, seja como for, a China seguirá como grande importadora de commodities, especialmente de alimentos.
As convulsões chinesas vêm sendo transmitidas em onda pelo resto do mundo porque atingem os países emergentes, entre os quais o Brasil, seus grandes fornecedores.
Se a derrubada dos preços das commodities se intensificar - e persistir -, será inevitável o impacto deflacionário nas economias maduras. Um processo acentuado de deflação produz estragos equivalentes ou até maiores do que os da inflação, porque adia as compras dos consumidores, que ficam à espera de queda de preços, reduz a arrecadação dos governos e aumenta as dívidas, na medida em que estas não encolhem na proporção em que encolhem preços e salários.
Nessas condições do mar, o capitão despeja as cargas para aliviar o navio. Mas hoje, no Brasil, a crise política, tão grande ou até maior do que a econômica, vem lançando dúvidas sobre quem de fato comanda o navio.
Mais um adiamento? A deterioração da economia dos países emergentes não interessa às economias maduras, porque lhes tira mercado exportador. Nas outras crises, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) participou ativamente do ajuste por meio da derrubada dos juros. Mas, desta vez, os juros estão prostrados e não há como derrubá-los mais. Isso sugere que o Fed não tem outra opção senão adiar para 2016 o início da tão esperada alta dos juros (valorização do dólar).



Atualizando: Após 'segunda-feira negra', Bolsas na Ásia voltam a fechar em forte queda

Depois de levar pânico aos mercados mundiais na segunda-feira (24.ago.2015), quando a Bolsa de Xangai caiu 8,49%, o mercado acionário chinês voltou a sofrer fortes perdas nesta terça-feira (25.ago.2015). Na ausência de novas medidas por parte do governo, o principal índice da Bolsa de Xangai encerrou o dia em queda de 7,63%.
A queda na segunda-feira (24.ago.2015) foi a maior desde 2007. Desde seu pico, em 12 de junho, a queda acumulada é de 42%.

O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou a terça-feira (25.ago.2015) em forte queda de 3,96%, aos 17.806,70 pontos. O segundo indicador, o Topix, que reúne os valores da primeira seção, caiu 3,25%, para 1.432,65 pontos.

As demais Bolsas da Ásia mostraram volatilidade ao longo do dia, abrindo em baixa, mas recuperando e fechando com leves altas.

As principais Bolsas europeias, por sua vez, abriram o dia com leves altas. Londres iniciou o pregão com ganho de 1,65%, Paris, 1,84%, Frankfurt, 1,87%, Madri, 1,25%, e Milão, 1,97%.



Estudos apontam caminho para vacina universal contra gripe
Em artigos publicados na Science e na Nature, cientistas revelam nova estratégia que poderá eliminar vacinação anual e abranger todos os subtipos de gripe; experimento foi eficaz em animais

Há anos a ciência busca uma vacina universal para o vírus influenza, que seria capaz de proteger contra uma ampla gama de variedades de gripe. Agora, dois grupos diferentes de cientistas descobriram uma maneira de tornar os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus.
O novo método forneceu proteção completa em camundongos e, segundo os autores, pode ser o caminho para a vacina universal contra a gripe. As duas pesquisas tiveram seus resultados publicados, simultaneamente, nas revistas Science e Nature.


Uma das principais características do vírus influenza, segundo os cientistas, é que ele se modifica constantemente e, por isso, as vacinas existentes precisam ser atualizadas anualmente. Uma vacina universal, segundo eles, poderia no futuro eliminar a necessidade de várias rodadas anuais de vacinação.
"Esse estudo mostra que estamos nos movendo na direção certa para uma vacina universal contra a gripe", disse um dos autores do estudo da Science, Ian Wilson, professor do Instituto de Pesquisas Scripps, dos Estados Unidos.
Segundo Wilson, anualmente a gripe comum causa mais de 200 mil hospitalizações e 36 mil mortes só nos Estados Unidos. Embora a vacinação anual proteja contra algumas cepas do vírus, ela não faz efeito para vários subtipos do vírus que aparecem subitamente - como aconteceu em 2009 com o subtipo H1N1, conhecido como "gripe suína", que matou entre 150 mil e 575 mil pessoas no mundo.
As vacinas existentes atualmente têm como alvo a molécula chamada hemaglutinina (HA), uma proteína que tem como principal função ligar o vírus ao receptor da célula hospedeira - e que está presente em todos os subtipos de influenza. O problema é que a "cabeça" dessa molécula se modifica rapidamente e, por isso, as vacinas precisam ser reformuladas continuamente.
Nos dois estudos publicados, os cientistas tentaram outra estratégia: criar vacinas que atuem no "caule" da molécula HA, em vez de atuar na sua "cabeça". Eles descobriram que, embora a "cabeça" da molécula se modifique muito, o "tronco" permanece muito parecido, com poucas mutações, nas diversas cepas de vírus.
Segundo Wilson, uma vacina capaz de fazer o corpo reconhecer a parte da molécula HA que não sofre mutações seria fatal para o vírus, já que a proteína é fundamental no processo de infectar as células e está presente em todos os subtipos.
Os pesquisadores então isolaram essa parte da proteína HA e desenharam uma vacina que força o corpo a produzir anticorpos específicos contra ela. "Se o corpo humano puder produzir uma resposta imune contra o tronco da molécula HA, fica difícil para o vírus escapar", disse Wilson.
No experimento da Science, liderado por  Antonietta Impagliazzo, do Instiuto Crucell de Vacinas, em Leiden, na Holanda, a vacina experimental desenhada foi capaz de dar proteção total a camundongos contra os vírus H5N1, da gripe aviária, e H1N1, da gripe suína. A vacina foi menos eficaz em macacos, mas os animais tiveram sintomas menos severos de gripe depois da imunização.
O grupo que publicou na Nature, liderado por Barney Graham, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Maryland, desenhou uma vacina experimental que também deu proteção completa a camundongos e proteção parcial a furões. Os animais haviam recebido injeções do vírus H5N1 em doses que foram fatais para outros animais não vacinados.
Segundo Wilson, no entanto, os experimentos foram apenas uma "prova de princípio". "Esses testes mostraram que anticorpos induzidos contra um subtipo específico de influenza poderia proteger contra subtipos diferentes", afirmou.
O próximo passo, segundo o cientista, é descobrir se a estratégia pode dar certo para o desenvolvimento de uma vacina que possa ser aplicada em humanos. "Ainda há muito trabalho a ser feito, mas o objetivo final, com certeza, seria criar uma vacina cujo efeito durasse a vida toda", declarou Wilson.



Presidente da Câmara de Porto Seguro também fala em pegar armas para defender Dilma
Élio Brasil replicou o discurso feito pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, durante um protesto realizado na semana passada

O Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Seguro, no sul da Bahia, Élio Brasil, do PT.

A declaração do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT),Vagner Freitas, de que os defensores da presidente Dilma Rousseff sairiam as ruas, entrincheirados, de arma nas mãos, para defender o mandato da petista, parece ter inspirado o presidente da Câmara de Vereadores de Porto Seguro, no sul da Bahia, Élio Brasil, do PT. Na semana passada, ele replicou, por meio do Whatsapp (aplicativo do celular), mensagens contendo texto similar, para seus seguidores.
As mensagens foram postadas após as manifestações ocorridas na cidade contra o impeachment de Dilma, organizadas por entidades da base do governo, em todo o país, na quinta-feira, 20.ago.2015.
"Se for preciso, pegaremos em armas para defender a democracia e o governo eleito democraticamente pelo povo", dizia um dos textos enviados pelo chefe do legislativo de Porto Seguro.
Pouco depois, em outra mensagem, Brasil voltou a afirmar que pegaria em armas e lembrou que na época da ditadura líderes que hoje fazem oposição ao governo, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, ambos do PSDB, foram exilados.
Élio é também dirigente do sindicato que representa funcionários de hotéis e restaurantes da região e filiado à CUT.
Tal e qual o dirigente nacional da entidade, o vereador se justificou afirmando que usou o termo "pegar em armas" no sentido figurado, e justificou o discurso em tom mais áspero à pratica nos movimentos sociais e sindical, dos quais é originário.   
"Quando falamos em armas não nos referimos a fuzis e outros equipamentos bélicos similares, mas às armas de sempre dispuseram os movimentos sociais, como mobilizações, conscientização da população, greve e outras ações do tipo. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para garantir o mandato legítimo da presidente Dilma, com cerca de 54 milhões de votos", voltou a frisar.
Élio Brasil disse também que em razão da vida parlamentar ativa, sequer tomou conhecimento das palavras proferidas por Vágner Freitas e que tudo não passou de coincidência. "Somente após o meu discurso é que fiquei sabendo da declaração do presidente da CUT", comentou.
O presidente da CUT se posicionou favorável ao uso de armas e trincheiras nas ruas ao discursar, durante evento com movimentos sociais no Palácio do Planalto, na quinta-feira, 13.ago.2015. Mandando "um recado aos golpistas", Freitas disse que, se os adversários da presidenta Dilma Rousseff insistirem na tese do impeachment, um "exército" armado irá às ruas para defendê-la.
Logo depois, o dirigente desconversou afirmando que usou uma "figura de linguagem" e não pretendeu incitar a violência.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015


Crédito escasso atinge agronegócio e ameaça competitividade do campo — atraso na liberação de crédito eleva custo de produção da safra 2015/16

O aperto no crédito chegou ao agronegócio. A menos de um mês do início do plantio da nova safra, produtores de soja se queixam de dificuldades para obter empréstimos para custear a produção.
Morosidade na análise de crédito, aumento das exigências dos bancos, alta nos juros – com um "mix" entre recursos subsidiados e crédito livre com taxas elevadas – e até venda casada são relatadas por agricultores.
As dificuldades provocaram atraso na compra de insumos necessários para o início do plantio, como sementes e fertilizantes, e aumentaram os custos de produção.
Se o problema persistir, poderá interromper os sucessivos ganhos de produtividade do setor nos últimos anos.
A situação é pior em regiões onde há mais produtores com dívidas pendentes, como no Rio Grande do Sul, Bahia e Goiás. Mas, segundo o presidente da Aprosoja Brasil (Associação dos Produtores de Soja), Almir Daspasquale, o aperto é generalizado. "O dinheiro vem vindo a conta-gotas para todas as agências do Brasil", diz.
O problema teve origem no primeiro semestre, quando os produtores começam a se preparar para o plantio da safra seguinte. Nessa fase, eles buscam recursos nas linhas de pré-custeio, voltadas à compra de insumos.
Foi quando secou o dinheiro das contas-correntes e da poupança que, no caso do Banco do Brasil, vai para o financiamento do agronegócio. O banco estatal destina 73% da chamada poupança rural (90% do total da caderneta) para o crédito agrícola com juros subsidiados de 8,75% ao ano.
Nas demais instituições financeiras, 65% da poupança vai para o crédito imobiliário, que neste ano também teve restrição de recursos especialmente na Caixa.
Além da poupança rural, o agronegócio conta com o direcionamento de 34% dos depósitos à vista (conta-corrente) de todos os bancos.
Com a alta dos juros, tanto a poupança como as contas-correntes perderam depósitos para outras aplicações. Para reverter a situação, Caixa e BB fizeram campanhas para estimular os depósitos.

Plantio de soja em Primavera do Leste (MT)

SECA NO CRÉDITO
Devido ao aperto, o BB só emprestou R$ 3,5 bilhões para o pré-custeio com juros subsidiados neste ano. No ano anterior, tinha feito cerca de R$ 8 bilhões nessa linha. Sozinho, o BB responde por 65% do crédito rural.
A consequência foi a queda de 14% na concessão total de crédito rural no primeiro semestre, segundo o BC.
"Neste ano, o pré-custeio foi nulo", diz Adolfo Petry, coordenador da comissão de política agrícola da Aprosoja-MT (associação dos produtores de soja de Mato Grosso).
 "Em março do ano passado já tinha custeio para a safra seguinte. Neste ano, o financiamento só saiu no final de julho", afirma José Guarino Fernandes, produtor de soja em Sapezal (MT).
O alívio veio com o anúncio do Plano Safra 2015/16, em junho, prevendo R$ 187,7 bilhões em crédito para o setor, alta de 20% em relação ao anterior. Os recursos começaram a ser liberados em julho, mas produtores continuam reclamando de lentidão.
Preocupados com a inadimplência, os bancos apertaram as regras de cadastro e passaram a exigir mais garantias. Segundo produtores, na Caixa, crédito acima de R$ 500 mil só sai com hipoteca de primeiro grau (bens que não são garantia de outros financiamentos). O banco não concedeu entrevista.
O BB informou que não há restrição de recursos para a safra. Segundo o banco, o ritmo de liberação de empréstimos está acelerado. Com 50 dias do Plano Safra, as concessões para a agricultura empresarial são 34% superiores ao mesmo período de 2014. Na agricultura familiar, o crédito liberado é 11% maior e, na linha para médio produtor, 95% maior.
O tema, no entanto, continua em debate em Brasília. Na última semana, uma audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara discutiu o acesso ao crédito agrícola. O caso também foi levado à ministra da Agricultura, Kátia Abreu, por parlamentares. A preocupação não é apenas sanar os gargalos desta safra, mas também viabilizar fontes alternativas para o financiamento do setor.



AUMENTO DO CUSTO DE PRODUÇÃO
A demora na liberação de recursos para financiar a nova safra de grãos atrasou a compra de insumos, como sementes e fertilizantes, e já provoca aumento de custos.
Em meados de agosto do ano passado, os agricultores de Mato Grosso, principal Estado produtor de soja, já haviam feito todas as suas encomendas de insumos. Atualmente, esse percentual está em 82%, segundo o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).
"O pré-custeio não veio e retardou a compra dos produtores", diz Angelo Ozelame, pesquisador do Imea.
A compra tardia tem dois efeitos para os agricultores. O primeiro é o valor pago pelos fertilizantes, quase todos importados. "Como só recebi financiamento no final de julho, tive de comprar os insumos a um preço bem mais alto", afirma José Guarino Fernandes, produtor de soja e de milho em Sapezal (MT).
Os preços acompanham a alta do dólar, que se intensificou no início deste semestre. No ano passado, em março Fernandes já estava com os recursos em mãos.
A segunda consequência do atraso na compra da matéria-prima é o gasto com logística. Com a demora na encomenda, o produtor perdeu a "carona" no frete da soja.
Para reduzir custos com transporte, o agricultor normalmente busca transportar os insumos do porto de Santos (SP) até a fazenda no mesmo caminhão que levou a soja até o terminal.
Como neste ano as encomendas demoraram mais, essa janela se fechou. "Esses dois fatores já representaram um aumento de 10% nos custos", diz Fernandes, que ainda não recebeu o material. O plantio no Estado começa a partir de 15 de setembro.

Máquinas pulverizam plantação de soja em Nova Mutum (MT); produtores podem reduzir
investimento nas lavouras com aumento do custo de produção

PRODUTIVIDADE
Produtor de soja, milho e arroz em Vera (MT), Rafael Bilibio ainda aguarda financiamento. "Como não podemos deixar de comprar semente e adubo, a gente utiliza o dinheiro que tem em caixa e fica sem para fazer outras melhorias na propriedade", diz.
Ele cita como exemplo práticas de correções no solo, aplicações de calcário e investimentos em maquinário, atividades que aumentam a produtividade no campo.
"A média de produção no Estado não deve aumentar como nos últimos anos", diz.
Para Almir Daspasquale, presidente da Aprosoja Brasil, a situação pode desestimular o uso de mais tecnologia nas lavouras. "Vislumbra-se uma perda de produtividade nesta safra", afirma Adolfo Petry, da Aprosoja-MT.
A restrição no crédito ocorre em um ano difícil para o setor, que enfrenta preços das commodities em baixa no mercado externo.

DESAFIOS DOS PRODUTORES DE SOJA EM 2015
Aperto no crédito
Atraso na liberação de recursos e maiores exigências limitam o acesso a empréstimos com juros subsidiados

Preços em baixa
Cotações da soja caem mais de 20% em 12 meses com aumento nos estoques, alta do dólar e desvalorização do yuan

Oscilação cambial
A alta do dólar encarece insumos, como defensivos e adubo. Por outro lado, eleva a renda do produtor em reais



Desgastes do governo com o congresso são atribuídos ao ministro da fazenda, Joaquim Levy

Ministro da Fazenda, Joaquim Levy

Na iminência de perder o vice-presidente Michel Temer como titular da articulação política, o governo e o PMDB passaram a atribuir parte dos recentes desgastes com o Congresso ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Na avaliação do partido e do Palácio do Planalto, Levy está "esticando a corda" e prejudicando o esforço do Executivo de recuperar alguma estabilidade no Congresso. Muitos afirmam que o ministro gera o desgaste, mas, depois, é obrigado pelas circunstâncias a recuar, arranhando sua credibilidade.
Segundo relatos, três episódios ajudaram a tumultuar a convivência de ministros políticos com o chefe da equipe econômica. No mais recente, o titular da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha — no comando da distribuição de cargos e verbas parlamentares ao lado de Temer — bateu boca com Levy.
O motivo era a liberação de R$ 500 milhões em emendas, medida considerada crucial à estratégia de amenizar a rebelião de partidos aliados.
A Fazenda barrou o repasse. Padilha reagiu: "Não vou recuar na minha palavra", disse para Levy, em uma discussão tensa que logo repercutiu na Esplanada.
A confusão reforçou a pressão do PMDB para que Temer abandonasse o posto de negociador do governo. Motivo: falta de autoridade para exigir que Levy cumprisse um acordo ratificado pela própria presidente da República.
A decisão final é que o dinheiro sairá. Mas o estrago já foi feito. "Levy não pode interferir na competência da SRI (Secretaria de Relações Institucionais)", disse um ministro petista, referindo-se ao ministério acumulado por Padilha, responsável por atender às demandas do Congresso e, assim, viabilizar votações importantes para o governo.
Para o núcleo político da Esplanada, Levy joga errado. Coloca-se contra propostas do próprio governo, num primeiro momento, mas depois é obrigado a recuar.
Considerado politicamente inábil no PT e, agora, no PMDB, ministros de ambos os lados já começam a ironizar o título dado à Levy de avalista da política econômica, contestando a tese de que o país afundará caso ele deixe a Fazenda. "Ao menos iremos para o abismo com um fiador", brinca um ministro.
Em uma reunião recente com o Senado para discutir a Agenda Brasil, pacote anticrise do PMDB, o ministro ouviu críticas duras. "Levy, o teu tempo não é o da política. No dia que você conseguir arrumar a casa, a presidente terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já terá sido tarde", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), segundo a reportagem apurou.
Levy tem sido obrigado a recuar em seus embates. Ele até consegue travar medidas de aumento de gastos em um primeiro momento, mas é sempre vencido adiante. Foi assim com a redução da meta do superavit primário (economia para pagar juros da dívida). Ele queria algo próximo a 1,1% do PIB. O governo rebaixou para 0,15%.
O mesmo ocorreu com a antecipação de metade do 13º dos aposentados. Ele suspendeu o adiantamento, o que afetaria 32 milhões de pessoas, mas acabou sendo obrigado a rever sua posição.
Na semana retrasada, ele suspendeu negociações para aumentar o limite de endividamento dos Estados mesmo depois da presidente ter se comprometido com governadores. Agora, já fala em ceder. Em todos os casos, o Planalto amargou desgastes.
Procurado para comentar, Levy disse, por meio de sua assessoria, que também sofre com a falta de dinheiro.
"Apoio o ministro Padilha. Também estou frustrado. Frustrado porque falta dinheiro e não temos como produzir mais dinheiro, então é preciso realocar o que existe dentro dos ministérios. Estamos tentando fazer o máximo com o que temos", disse.

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"O teu tempo não é o da política, Levy. No dia que você conseguir arrumar a casa, terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já terá sido tarde"

Romero Jucá
Senador, ao ministro da Fazenda, durante reunião para alinhavar a chamada Agenda Brasil, na segunda-feira (10.ago.2015)



"Não vou recuar na minha palavra"

Eliseu Padilha
Ministro responsável pela distribuição de emendas e cargos, ao ministro Joaquim Levy (Fazenda), na quarta-feira (19.ago.2015)




Ajuste Fiscal — 2ª Fase — pode ficar ainda mais difícil
Medidas em gestação no governo para conter gastos e aumentar receita devem encontrar resistência redobrada no Congresso

As votações no Congresso da primeira fase do ajuste fiscal pretendido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não foram fáceis. Mas, daqui para a frente, as medidas em gestação para promover mais uma rodada de aperto fiscal, voltado para 2016, vão enfrentar um clima ainda pior. Os senadores consideraram a aprovação do projeto de “reoneração” da folha de pagamentos como o “fim do ajuste fiscal”, apontando durante a votação que agora é o momento de discutir medidas para promover o crescimento econômico.
Para os parlamentares, medidas como a reforma do PIS/Cofins, que está prestes a ser encaminhada por Levy ao Congresso, não poderão conter aumento embutido de alíquota. Nas palavras de um senador da base aliada, que votou contrariado a favor da reoneração da folha de pagamentos, “o que tinha de passar, passou”. Com a reoneração, as empresas que pagavam contribuição para a Previdência de 1% sobre a sua receita passam a pagar 2,5%. As que pagavam 2%, passam a pagar 4,5%.
Outro parlamentar afirmou, porém, que o quadro pode mudar depois de assentadas as denúncias do Procurador-geral da República envolvendo deputados e senadores. “Um novo quadro político vai se abrir e, talvez, o governo ganhe uma margem maior de manobra do que tem a partir de agora, que é zero”, disse ele. “Vamos compor com as medidas em gestação para 2016.”
Os senadores avaliam que o importante é dividir o discurso e a agenda do ajuste fiscal com medidas que visem à retomada do crescimento e o restabelecimento da confiança dos investidores. Anfitrião de um jantar com lideranças peemedebistas e petistas, logo após a aprovação da reoneração da folha de pagamento das empresas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que é preciso dar um tempo para ver se o governo reage e toma a iniciativa para a melhora do ambiente econômico.
Ajuda. Renan destacou que o Congresso não pode deixar de ajudar o País - não necessariamente o governo -, por meio da Agenda Brasil, pacote anticrise lançado por ele. Mas a avaliação de senadores dos dois partidos é que, por maior que seja a boa vontade do Legislativo, o governo é que dispõe de instrumentos para conduzir esse processo. “Nós estamos dando um oxigênio para ver se ela (Dilma) reage, não sabemos o que fazer”, resumiu um dos presentes ao jantar.
O presidente do Senado, no entanto, já mandou um recado para os principais ministros do governo da área de economia, Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante, que não concorda com a lógica de aumento de impostos sempre. A Junta Orçamentária, que reúne o trio, tem discutido uma série de medidas de aumento da carga tributária.
“O Brasil já tem uma carga muito grande, taxas de juros altíssimas, não dá para cada vez mais pensar em aumentar impostos, aumentar impostos, aumentar impostos, a sociedade não aguenta mais essa carga”, afirmou Renan.
Nesta semana, senadores e a área econômica vão discutir o projeto que prevê a repatriação de recursos de brasileiros no exterior não declarados ao Fisco. Essa é a principal aposta dos parlamentares no momento para reforçar o superávit primário e ainda garantir uma injeção de recursos para Estados e municípios, que têm discutido aumentar impostos regionais.
Os parlamentares querem também maior participação nas discussões de novas medidas econômicas, além de não serem surpreendidos por novas propostas enviadas pelo Executivo ao Legislativo, reclamação comum na votação da primeira etapa do ajuste fiscal.



Agentes dos EUA recolhem provas da Lava Jato em processo contra Petrobrás
Para embasar ação coletiva, investigadores americanos buscam no Brasil informações levantadas pela investigação do esquema de corrupção na estatal; ‘Não vamos deixar o caso acabar como qualquer pizza’, diz Jeremy Lieberman, o advogado do grupo

Investigadores norte-americanos recolheram durante a semana passada cópias de documentos da Operação Lava Jato no Brasil para dar sustentação a uma ação coletiva milionária, ou class action, em curso na Suprema Corte de Nova York. O grupo reclama perdas milionárias causadas pelo esquema de corrupção na companhia após compra de ações da estatal que vieram a sofrer baixas na Bolsa de Valores de Nova York, a maior dos Estados Unidos. Os ex-presidentes da estatal José Sérgio Gabrielli e Graça Foster devem ser citados.
O coletivo é formado por um fundo de pensão de professores e pesquisadores do Reino Unido, outros três de servidores dos Estados de Ohio, Idaho e Havaí, a gestora Skagen, da Noruega, e o Danske Bank, da Dinamarca.
Por negociar papéis na Bolsa de Nova York, a Petrobrás é obrigada a comunicar fatos relevantes que possam influenciar a decisão de investidores. Para eles, a estatal não comunicou apropriadamente ao mercado o esquema de corrupção na empresa.
Durante a estada da comitiva americana no Brasil foram colhidas cópias de documentos e perícias tornadas públicas nas ações criminais da Lava Jato com autoridades e defensores de alguns dos principais delatores da investigação. A missão foi cercada de sigilo para evitar desgaste ante o fato de que a norma aplicável legal é aquela do país onde se produz a prova, ou seja, os advogados da Petrobrás podem questionar o conjunto de provas obtidas sem obedecer formalidades legais.
Os investidores foram recepcionados por um especialista em crimes transnacionais que os acompanhou na busca por evidências sobre cartel, pagamento de propina e superfaturamento de contratos na Petrobrás.
O advogado Jeremy Lieberman, do escritório Pomerantz, é o responsável pela defesa dos investidores. “Sentença, delações premiadas, confissões, tudo pode ser prova. E isso pode ser feito, inclusive, sem a presença física. A presença é o ideal, obviamente, mas muitos (ex-diretores da Petrobrás) estão presos. Nós não sabemos o procedimento de como eles poderiam de alguma forma testemunhar, mas estamos explorando isso”, declarou Lieberman.
‘Vítima’. A companhia foi reconhecida pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz as ações penais da operação na primeira instância – como vítima do cartel de empreiteiras que tomou o controle de contratos bilionários para distribuição de propinas a políticos do PT, PMDB e do PP. Ao assumir o papel de assistente do Ministério Público Federal na acusação aos réus da Lava Jato, a Petrobrás se comprometeu a prestar informações às autoridades.
A defesa dos investidores, no entanto, discorda da posição ocupada pela estatal no processo. “Pensamos que é uma piada dizer que eles são vítimas. A Corte em Nova York abordou essa questão. A Petrobrás disse que foi vítima, portanto, as ações de (Nestor) Cerveró (ex-diretor da área Internacional), (Renato) Duque (ex-diretor de Serviços) e (Paulo Roberto) Costa (ex-diretor de Abastecimento) não devem ser atribuídas à empresa, porque eles não estavam agindo para a empresa, e sim contra a empresa”, afirma o advogado Jeremy Lieberman.
Para Lieberman, as propinas obtidas pelos ex-diretores da estatal no esquema de corrupção beneficiaram o governo da presidente Dilma Rousseff, o que não pode assegurar status de vítima à Petrobrás.
“Nós dissemos que não. Eles estavam dando subornos ao governo, o governo é o acionista majoritário e, portanto, o que é bom para o governo é bom para a empresa”, afirmou.
Em audiência realizada em junho na Corte de Nova York, a defesa da Petrobrás alegou que apenas poucos ex-executivos da estatal sabiam das irregularidades.
Em abril, a companhia reconheceu em seu balanço financeiro de 2014, divulgado com cinco meses de atraso, a perda de R$ 6,2 bilhões relacionada à Lava Jato. Outros R$ 44,6 bilhões foram registrados como prejuízos após revisão no valor de ativos. Os dados serão utilizados como argumento de defesa dos investidores.
‘Adoçar’. “O (balanço) é uma munição (para a class action) em grande medida, sim, eles admitiram que pelo menos US$ 2.5 bilhões foram usados em corrupção. O fato de existir um balanço é muito útil, mas nós acreditamos que ele não é preciso, completo. Tentaram ‘adoçar’. É menos munição do que deveria ser. Vamos provar que quando você tirar o açúcar, uma grande quantidade de munição vai sair de lá”, declarou o advogado.
Segundo ele, a class action deverá ser julgada até agosto de 2016. Em cerca de dez dias, a defesa deverá entregar uma petição sobre a investigação à Corte de Nova York. “Nós certamente não vamos deixar o caso acabar como qualquer pizza.”
Para os investidores, as principais vantagens de ingressar na ação consistem na possibilidade de obter indenização punitiva, celeridade no processo, litigância conjunta, o que reduz os custos e une os interesses comuns, assim como a possibilidade de o investidor ter voz ativa nas negociações de uma eventual proposta de acordo pela Petrobrás.
A Petrobrás informou que não se manifestaria sobre a ação na Corte de Nova York. Em abril, entretanto, a estatal apresentou um documento de defesa aos investidores dos EUA com o argumento de que as construtoras formaram um cartel, com esquema de atuação desconhecido pela administração da companhia.
O texto afirma que apenas quatro diretores da empresa sabiam do esquema e foram afastados – Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Renato de Souza Duque e Nestor Cerveró. Cita ainda que em novembro de 2014 publicou um documento sobre as investigações. Quanto a seus ex-presidentes, José Sérgio Gabrielli informou que não se manifestaria sobre o assunto. Graça Foster não respondeu à reportagem.



Escassez faz criminosos trocarem tráfico de drogas pelo de alimentos na Venezuela

Traficante se dedicava exclusivamente ao tráfico de drogas até que, dois anos atrás, um cliente que trabalhava em um supermercado lhe ofereceu trocar maconha por farinha de milho pré-cozida.
Desde então, o traficante se dedica – também – ao que eles chamam de "bachaqueo", atividade ilegal cada vez mais comum na Venezuela e que consiste em revender produtos básicos que nem sempre são encontrados em lojas e pelos quais milhões de venezuelanos passam horas na fila todos os dias.
"Ele me propôs a troca e eu disse que sim. Quando fui ver, minha casa estava cheia de produtos", afirmou ele, sob condição de anonimato.
De acordo com a Lei de Preços Justos, que estabelece a regulação de preços de produtos de primeira necessidade no país, a revenda desses bens é crime sujeito a pena de três a cinco anos de prisão.
Desde a última semana, o governo venezuelano reativou sua campanha para acabar com esse contrabando, que, segundo as autoridades, é uma das principais causas da escassez de produtos básicos, parte de uma suposta "guerra econômica contra o povo".
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou uma lei que busca fortalecer as medidas policiais, articuladas na chamada Operação de Liberação do Povo, para acabar com a revenda.
"(Os revendedores) são uma praga que estão prejudicando o povo", afirmou Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional.
O prefeito de Puerto Cabello, no centro do país, deu início a um programa de trabalho comunitário para a "reabilitação" dos revendedores presos, que, enquanto limpam as ruas da cidade, vestem um macacão laranja com "Sou um 'bachaquero' e quero mudar".

Pessoas aguardam chegada de produtos em frente a supermercado em Caracas em janeiro deste ano

FORMIGA
No último ano, a palavra "bachaqueo" – e o consequente verbo "bachaquear"– se tornaram parte essencial do vocabulário e da vida dos venezuelanos.
"Na quarta-feira, não posso trabalhar", afirmou à reportagem um taxista. "Dedico ao 'bachaqueo' nesse dia", disse, em tom de piada, para referir-se à sua jornada de compras – cada pessoa pode fazer as suas em um dia da semana, dependendo do número de seu documento.
A palavra vem de "bachaco", uma formiga de traseiro avantajado típica da região de Sudamérica, sobretudo da fronteira com a Colômbia. Lá, até um ano atrás, os "bachaqueros" eram pessoas que contrabandeavam produtos e gasolina para a Colômbia, país onde esses bens são dezenas de vezes mais caros.
Porém, desde que a escassez de produtos subsidiados aumentou na Venezuela, a revenda se tornou uma atividade rentável também dentro do país.
Esses revendedores já não são necessariamente contrabandistas que levam produtos de um país para outro, mas também pessoas que compram produtos em um supermercado e os revendem no mercado negro, seja a domicílio ou em mercados informais nas ruas.
Muitos venezuelanos veem os "bachaqueros" como um mal necessário, e compram deles para evitar as filas. Outros, no entanto, seguem a linha do governo e os culpam pela origem da escassez.

TIPOS DIFERENTES
Cerca de 60% das pessoas que fazem filas nos supermercados venezuelanos revendem os produtos que conseguem levar, segundo o Datanálisis, instituto de pesquisas baseado em Caracas.
Isso não significa, entretanto, que todos sejam revendedores em grande escala: há quem repasse apenas o que sobra de suas compras, quem venda fora do país e outros que contam com uma ampla rede de contatos que lhes permite comprar grandes quantidades de produtos, que eles guardam e vendem quando há oportunidade.
O traficante, que anda pela cidade com carro dos anos 1980 multicolor e caindo aos pedaços, se define como parte do último grupo: "Eu não sou como a senhora que anda por todos os lados nas filas, ou como o 'bachaquero' que vende seu lugar na fila", diz. "Tenho contatos em supermercados e na distribuição, que me chamam quando conseguem algo."
Enquanto mostra vários maços de bilhetes de compras dentro da jaquetas, o traficante diz ter umas 15 pessoas trabalhando para ele em diferentes partes da cidade, cada uma com uma função distinta: guardar os produtos, embalá-los e consegui-los.
O traficante diz estar "preparado" para uma nova campanha do governo contra o mercado da revenda. "Já tirei todos os meus produtos da minha casa e os coloquei em lugares onde a polícia nunca vai chegar, nos quais pago para que sejam guardados."
"Lá tenho ao menos dois pacotes de cada produto: detergente, leite, lâminas de barbear. De sabão, tenho 13 pacotes."
A revenda desses produtos ocorre com um preço, em média, cinco ou seis vezes maior que o original, aponta o Datanálisis.
Um litro de óleo de milho, cujo preço é de 28 bolívares (cerca de R$ 15), é encontrado no mercado negro por entre 200 e 250 bolívares (R$ 110 a R$ 138).
Um quilo de frango deveria valer 65 bolívares (R$ 36), mas é encontrado por 600 bolívares (R$ 332) em pequenos açougues.
E um quilo da famosa PAN, farinha de milho pré-cozida usada para fazer as tradicionais "arepas", custa 19 bolívares (cerca de R$ 10) no preço regulado, mas os "bachaqueros" as vendem por 100 bolívares (R$ 55).

INFLAÇÃO
Críticos do governo asseguram que a revenda, em vez de ser a causa, é uma consequência da escassez, que para eles tem origem no controle dos preços em meio a uma inflação galopante e à estagnação da produção nacional.
No último ano, houve uma queda dos preços do petróleo – a maior fonte de receitas do país –, o que limita as importações e piora a escassez de produtos.
Segundo o Datanálisis, o venezuelano passa uma média de cinco horas na fila na semana para comprar produtos regulados. E o revendedor, segundo o traficante, é uma solução ao inconveniente da fila.
Nas manhãs, ele trabalha como mensageiro de uma empresa, à qual está vinculado há mais de 20 anos.
Com esse trabalho, diz ganhar cerca de 9.000 bolívares ao mês (por volta de R$ 5 mil). Com o tráfico de produtos, fatura mais 50 mil bolívares (R$ 27.700), chegando a ter mensalmente um salário similar ao de um alto executivo.
Nem esse valor, porém, consegue cobrir seus gastos. "Eu tenho cinco filhos, e, agora que eles voltam para a escola, tenho que pagar 5.000 bolívares (R$ 2.800) pelo material escolar de cada um."
Há mais de um ano, a Venezuela tem o índice de inflação mais alto do mundo: 70%, segundo o último dado oficial, publicado em dezembro.
Mesmo sem números oficiais, o problema piorou neste ano, segundo a avaliação de centros de estudos e agências financeiras.
A necessidade de obter uma renda cada vez maior e a alta rentabilidade de comprar barato e vender a um preço livre tem feito com que um crescente número de venezuelanos revendam o que consigam encontrar.
De acordo com o Datanálisis, em 65% dos supermercados não se encontra a média dos produtos regulados. Quando se analisa os domicílios, porém, a escassez é de 25%.
A maioria dos produtos regulados, logo, não é vendida em supermercados: é oferecida pelos "bachaqueros".