terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Haddad transportou família em jato oficial
Ministro da Educação até janeiro, o petista fez 129 deslocamentos Brasília-São Paulo, com familiares, em 2010 e 2011.
Haddad diz não haver ilegalidade ou problema ético, já que decreto permite ida para casa em aeronave da FAB.


Fernando  Haddad
O pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, usou jatinhos da FAB (Força Aérea Brasileira) para transportar mulher e filha de Brasília para São Paulo enquanto ocupava o cargo de ministro da Educação.
Levantamento feito revela que foram 129 deslocamentos em aeronaves oficiais, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011 - pelo menos uma viagem de ida e volta por semana.
Em 97 voos, estavam juntos o então ministro, a mulher, Ana Estela, e a filha menor, além de outras autoridades e servidores públicos.
Caso optassem por aviões de carreira nas viagens, a mulher e a filha de Haddad teriam gasto cerca de R$ 50 mil em passagens aéreas.
Foram 46 voos exclusivos, sem outros ministros, de Haddad para São Paulo. Em 15, estavam só ele, a mulher e a filha. Em 33, assessores também. Em alguns, a mãe e o filho do ministro.
Em fevereiro do ano passado, por exemplo, uma aeronave Embraer de 45 lugares partiu de São Paulo para Brasília, em um domingo, só com Haddad e a filha.
Em 26 de dezembro de 2010, o ministro decolou de São Paulo num Learjet de cinco lugares com a mulher, os dois filhos e a mãe.
O uso de jatinhos da FAB é regulamentado por decreto federal (4.244/2002). O texto prevê o transporte de ministros, além de outras autoridades, para agendas oficiais ou no deslocamento para casa.
Não há nada no texto sobre a extensão desse benefício a parentes ou conhecidos das autoridades.
Para evitar desperdícios, os presidentes Lula e Dilma Rousseff orientaram suas equipes a atenderem as exigências do decreto e a fazerem voos compartilhados, com mais de um ministro.
Em dezenas de viagens de fim de semana, porém, o ex-ministro descumpriu a orientação dada.
As viagens de Haddad entre Brasília e São Paulo se deram apesar de o petista ter fixado residência na capital federal quando assumiu o ministério, em 2005. Recebia mensalmente auxílio-moradia de R$ 3.800.
A mulher também era funcionária do governo federal, no Ministério da Saúde. A filha estava matriculada em uma escola da cidade.
A FAB informou a planilha de voos e o custo dos deslocamentos. O trecho Brasília/São Paulo fica entre R$ 8,3 mil e R$ 11,3 mil, só ida.
Haddad afirmou não ver problema na prática, sob o argumento, entre outros, de que os ministros têm direito às viagens para casa. Disse ainda que, a partir de 2008, passou a ir quase todos os finais de semana para São Paulo porque o filho, que tinha 15 anos, passou a morar lá. "A minha menina tinha sete, e eu não iria deixar os dois sem convivência."
Ouviu-se os 15 ministros que mais viajaram de jatinho no governo Dilma. Apenas Ideli Salvati (Relações Institucionais) admitiu que o marido costuma acompanhá-la nas viagens para casa.
Celso Amorim (Defesa) disse que a mulher viaja "esporadicamente" nos jatinhos.
As planillhas da FAB não contêm informações sobre o deslocamento de familiares de integrantes do governo. No caso de Haddad isso foi possível porque o MEC divulgou a agenda completa dele, algo que os outros ministérios não forneceram.
Os 145 voos de Haddad em 2011, a maioria para cumprir agenda oficial, custaram R$ 597 mil. Ele foi como carona a São Paulo em outros 54 voos, por mais R$ 108 mil.

O outro Lado
Ana  Estela  Haddad
A esposa
Petista diz que tinha o direito de usar as aeronaves
O ex-ministro Fernando Haddad afirmou que não houve irregularidade no transporte de seus familiares. "É um direito meu ir para casa. Do ponto de vista do ministério, o que interessa é a legalidade", disse.
Haddad disse que a maioria dos voos foi compartilhada: "Em quase todos, com raras exceções, eu estava vindo com outro ministro. E, quando pedia carona, eu perguntava se tinha três lugares [para ele, a mulher e a filha]".
Ao ser lembrado de que fez vários voos solos, comentou: "O número de voos com ministros sozinhos dentro não é pequeno".
Questionado se vê problema ético, respondeu: "Seguindo esse protocolo, não. Se o assento estava desocupado, eu pedia autorização ao responsável pelo voo. Nessas idas, é comum a carona. Até porque as passagens são caras, e os assentos estão livres".
Sobre o voo em que transportou só a família num Learjet, respondeu: "Mas não tinha ninguém pedindo. Era dia 26 [de dezembro], num recesso. A minha mãe veio passar o Ano Novo a convite de uma autoridade".
Depois de uma primeira conversa com o ministro, a reportagem apurou que ele havia solicitado 46 voos exclusivos para São Paulo. Sobre isso, respondeu: "As minhas idas às vezes são compartilhadas e outras, não. Eu não tenho a contabilidade".
Sobre os 15 voos que fez só com a família, comentou: "Em cento e poucos? OK. O que isso quer dizer?"
O ministro foi questionado também se não teria sido um exagero o voo em que partiu de São Paulo só com a filha num avião de 45 lugares. "Não defino a aeronave. Você pode querer me sacanear do jeito que você quiser, faz parte do jogo. Mas quem escolhe a aeronave é a FAB."
E acrescentou: "Essas aeronaves vão voar, independentemente de ter gente dentro. Os pilotos da FAB precisam voar. Vamos supor que um avião vai vazio. Então, a FAB não vai mandar outro de cinco lugares para me buscar".
Haddad comentou que o número de voos solos na Esplanada é frequente: "Na comparação com os outros ministérios, você vai ver que não é um caso isolado. (...) Eu não vi lotar nunca".
O ex-ministro lembrou que a sua mulher é servidora federal e acrescentou que levava servidores da Educação e de outros ministérios.
Disse também que passou a ir quase todos os fins de semana a São Paulo a partir de 2008 porque o filho, então com 15 anos, havia se mudado para a cidade. "Minha menina tinha sete, eu não iria deixar os dois sem convivência." A FAB disse que não fiscaliza quem está nos voos. Isso caberia aos ministérios.

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