Empresa detalha propina na Casa da Moeda
Relatório sustenta que ex-presidente da instituição recebeu US$ 6,15 milhões em um apartamento no Rio.
Exonerado em janeiro, Luiz Denucci nega a acusação e afirma que dados do documento não são verdadeiros.
Relatório de uma operadora financeira de Londres diz que o ex-presidente da Casa da Moeda recebeu, em dinheiro vivo, US$ 6,15 milhões de "comissão" de fornecedoras da estatal.
A "entrega física" dos valores, que têm origem em um esquema fraudulento de contratos públicos, segundo relato da corretora, seria feita num apartamento de Luiz Felipe Denucci no Rio de Janeiro. O dinheiro, diz o relatório, era ainda distribuído a pessoas indicadas por ele.
O local do imóvel mencionado no documento é o mesmo que Denucci informou como sendo seu endereço residencial em ata, de 2010, de uma empresa da qual é sócio no Brasil.
O relatório foi feito pela operadora WIT Money Service Express e enviado para o próprio Denucci.
Uma reportagem revelou que o ex-presidente constituiu procurador para cobrar da WIT dinheiro "devido" a "offshore" em nome da sua filha.
Foi em razão dessa cobrança que a WIT elaborou o documento no qual detalha as operações que diz ter feito para Denucci, o que inclui a abertura de duas contas no exterior que teriam recebido as "comissões" de fornecedoras da estatal.
A partir dessas contas, o dinheiro era transferido para outras em nome de "offshores" constituídas por Denucci em paraísos fiscais. Também alimentava contas da filha dele ou de doleiros, afirma a WIT.
O relatório aponta que o volume movimentado pela WIT em nome de Denucci somou U$ 25 milhões entre 2009 e 2011. Denucci nega que tenha recebido "comissão" de empresas fornecedoras da Casa da Moeda e diz que não contratou a WIT para gerir dinheiro no exterior.
O ex-presidente da empresa confirma a existência das duas "offshores" em paraísos fiscais, uma em nome dele e outra em nome de sua filha, mas nega que elas tenham movimentado recursos.
Dos US$ 25 milhões citados pela WIT, US$ 6,15 milhões foram entregues em dinheiro vivo em operações envolvendo doleiros, diz a empresa.
A lista da WIT descreve a entrega do dinheiro para parentes e um assessor de Denucci na Casa da Moeda, Caio Vinícius da Fonseca. Caio deixou o cargo em janeiro, após a reportagem procurar a Casa da Moeda para tratar do caso.
Demissão
Luiz Felipe Denucci |
A saída foi motivada por informações que circularam no governo de que se publicaria reportagem sobre irregularidades na estatal.
Cobrado pela presidente Dilma Rousseff a dar explicações sobre o assunto, Mantega admitiu publicamente que tinha conhecimento da suspeita de irregularidades envolvendo Denucci e que foi alertado pela Casa Civil.
Mas justificou tê-lo mantido no cargo por se tratar de fatos sem comprovação, em sua avaliação, e por que a nomeação atendia a interesses partidários.
As declarações foram julgadas desastrosas pelo governo e reforçaram na oposição a necessidade de que Mantega seja ouvido no Congresso.
O Ministério Público Federal também foi instado pelo PPS a investigar as denúncias na Casa da Moeda. O PSDB e o DEM, ambos de oposição, também querem ouvir no Congresso o dono da WIT.
O outro lado
Informação não tem consistência, afirma Denucci
O ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci afirma que não tem "consistência" a informação de que ele recebeu dinheiro em comissão de empresas fornecedoras da estatal.
"Dinheiro vivo? Eu posso dizer para qualquer pessoa que paguei em dinheiro vivo ou recebi em dinheiro vivo. Isso não tem consistência", declarou Denucci.
Sobre o fato de essas informações constarem em relatório da financeira WIT Money Service Express, ele disse: "Não sei se isso existe".
Denucci afirma que conhece o dono da WIT e que já tratou de negócios com ele, mas nega que o tenha contratado para gerir contas no exterior.
"Usar o meu nome eu admito que podem ter usado, mas não tenho prova."
Sobre sua filha, Ana Gabriela, ter uma "offshore" que aparece como beneficiária do suposto esquema no relatório da WIT, ele disse que é "um pai protetor e nunca usaria um filho para fazer uma coisa dessa, principalmente, porque está perto de mim".
A reportagem não localizou o ex-assessor de Denucci na Casa da Moeda Caio Vinícius da Fonseca.
O procurador de Denucci em Miami (EUA), Jorge Gavíria, afirmou que não movimentou "nenhuma transferência substancial" de dinheiro por meio do seu escritório "nem por meio de qualquer outra entidade".
Ele afirmou ainda que qualquer informação neste sentido é "falsa".
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